Quarenta e Um: Ter com quem contar

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Ana's P.O.V.:

O medo e a insegurança batiam no meu peito fortemente, me dando a incerteza de um dia ensolarado em meio toda aquela tempestade que se fazia presente em minha mente. Eu tinha que ter a certeza de que tudo daria certo, mas ainda não havia conseguido chegar a esse ponto de confiança no destino.

Eu sentia um vazio toda vez que encostava a cabeça no vidro frio, sentindo meu peito apertar ao pensar em tudo o que havia ocorrido durante anos debaixo dos meus olhos e eu nem sequer conseguia tomar uma atitude em relação a isso.

Pelo menos eu estava tendo com quem contar.

E eu podia constatar isso simplesmente ao olhar para o meu lado esquerdo, vendo sua atenção parcialmente direcionada a mim, tentando não me incomodar ao imaginar que eu tivesse pego no sono, como vinha fazendo de minutos em minutos. Eu não conseguia dormir, mas o cansaço estava me dominando cada vez mais.

Ajeitei minha postura, desencostando a testa do vidro frio enquanto mantinha meus olhos fixos nele. Em minha visão periférica a paisagem parecia mostrar algumas casas afastadas umas das outras, indicando o interior de algum local que eu dificilmente saberia reconhecer.

Thiago: Acordou? — perguntou após notar meu olhar fixo por algum tempo, que eu não soube dizer se foram alguns segundos ou muitos minutos, mas não parecia ser pouco visto o sorriso um pouco sem jeito que sua expressão tomou.

Ana: Não dormi, na verdade — comprimi o canto dos olhos com um sorriso fraco, desviando o olhar para frente, respirando fundo vendo nada mais do que a escuridão adiante dos meus olhos. Me perguntei rapidamente se ele sabia para onde estávamos indo, porque, àquela altura, eu já não tinha mais certeza de nada. — Acho que nunca conseguiria dormir com essa incerteza que eu ando sentindo há um bom tempo.

Thiago: Não precisa se preocupar — sua voz soou carinhosa e talvez um pouco cansada —, nós já estamos chegando. Creio que mais cinco minutos? — ele meio perguntou, meio afirmou, indicando de que também não tinha muita certeza se estávamos realmente chegando, mas eu decidi não me preocupar tanto. — O que está passando nessa cabecinha? — ele desviou a mão rapidamente para acariciar meu rosto num gesto sutil e confortável, que me fez esquecer de seu questionamento por milésimos de segundo.

Ana: Alguma coisa entre nada e tudo. É difícil dizer — suspirei sutilmente desviando meu olhar para frente. Algumas estrelas brilhando no céu despertam minha curiosidade. Meus olhos começaram a seguir um desenho não definido entre umas e outras. — Eu não queria  soar repetitiva, mas é difícil manter a expectativa alta depois de sair de uma situação como aquela. Parece que esse pesadelo vai me atormentar até o fim dos tempos. E eu... bem, eu só queria ter um pouco de paz, de preferência para sempre — pude escutá-lo rindo baixo, apesar de todo o peso que continha na minha voz. Ele sabia da existência desse pesar, mas eu tinha a certeza de que conseguia ser descontraído com o finalzinho da minha fala.

Thiago: E vamos ter. Começando agora, e nunca vai terminar — eu o encarei sem entender muito bem. Está bem, eu não estava entendendo nada nas últimas horas, só tinha me deixado levar pelo o que parecia certo, pelos meus instintos.

Ana: Eu espero — respondi, por fim. Confiava na capacidade dele de escolher as palavras adequadas para os momentos necessários, mas precisava também de uma segurança interna, uma certeza pessoal. Acho que a paz também deveria vir de mim mesma se eu ao menos conseguisse aquietar minha mente.

Fiquei observando por mais alguns minutos seu olhar atentamente direcionado para frente escapar para o lado, me dando uma certa segurança instantânea. Também vi quando seu sorriso genuíno apareceu em seu rosto e ele indicou com a cabeça o cenário à frente. Estávamos numa rua com poucas casas, mas ele dirigia a uma em específico, em que parou em frente e olhou com um sorriso levemente nostálgico, se eu bem pudesse descrevê-lo assim.

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⏰ Última atualização: Feb 21, 2023 ⏰

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