Trinta e Quatro: "Partes Trágicas"

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Thiago's P.O.V.:

Os sentimentos ruins não estavam com ela enquanto tentava — e conseguia — demonstrar toda aquela sensação de felicidade. Seu sorriso iluminava totalmente seu semblante ao comprimir os olhos. Sua euforia chegava a ser notada de longe e me contagiava com a imensa alegria que se estampava a cada instante mais em seu rosto.

Eu sabia que aquela felicidade momentânea era o que a fazia seguir em frente todos os dias em busca de uma resposta que a agradasse e que pudesse dar um fim naquilo tudo. Eu sabia que era aquela felicidade que ela queria manter para sempre, ou pelo máximo de tempo que fosse possível. E eu a entendia como ninguém! Eu entendia o quanto ela gostaria de congelar aquele momento para fazer valer a pena o tempo em que passava feliz e não em um lugar onde daria de tudo para nunca mais voltar. Muitas vezes eu queria privá-la desse sofrimento, mas, como não podia, faria de tudo para ajudá-la.

Andávamos por aquelas ruas que ela parecia desconhecer completamente, de forma que fitava com certa atenção a direção a qual tomávamos — que, ela poderia não saber, mas era completamente aleatória — desviando, algumas vezes, a atenção para mim ou para o curto movimento de pessoas ao redor.

O céu claro pelo horário da manhã deixava as ruas acolhedoras e nos fazia engatar algumas conversas aleatórias sobre qualquer coisa. Muitas dessas coisas eram lembranças e outras delas pensamentos que facilmente nos invadiam a mente e nos arrancavam algumas risadas humoradas. Foi então que ela me lembrou das aulas. Haviam algumas pendências que eu nunca cobrira e ela novamente começava a dizer que seria Manuel seu aluno favorito, não eu. Mas eu sentia que era puro drama e rimos.

Thiago: Mas você tem que concordar que eu melhorei muito nas aulas — ela me olhou tentando parecer cética, mas acabou por rir não me olhando ao tentar controlar.

Ana: Claro, nunca negaria! — seu tom completamente humorado ressoou enquanto seu sorriso crescia em seu rosto.

Sua mão, como que em um movimento involuntário, segurou mais firmemente a minha com nossos dedos entrelaçados. Ela parou de andar de repente, me fazendo recuar alguns passos, a fitando intensamente. Seus olhos passaram de um humor aparente para uma curiosidade e receio que não soube bem entender de onde vinha.

Ana: Thiago... — hesitou um pouco ao olhar para os lados, provavelmente pensando em como poderia prosseguir — eu sei que pode parecer estranha essa pergunta, mas... onde estamos, exatamente? — seu tom parecia extremamente receoso de qualquer que fosse minha resposta. Era claro! Eu já deveria ter imaginado que ela não fazia a menor ideia de onde pudéssemos estar.

Thiago: Eu acho que já deveria ter te falado — ela sorriu com um pouco de humor em seus olhos comprimidos e um curto riso nasal deixou esse sentimento humorado mais aparente em si —. Estamos em uma cidade na divisa com o Uruguai — respondi vendo seus lábios com um sorriso confuso passarem para um "o" achatado e seus olhos começarem a pender para baixo em um pequeno devaneio interno no qual estava se colocando.

Ana: Mas estamos... — sua voz falhou e seus olhos comprimiram tentando compreender bem o que eu havia acabado de comentar — mas estamos muito longe de Buenos Aires? — os olhos que penderam para baixo, daquela vez, foram os meus.

Assentindo com a cabeça a respondi e percebi seu profundo suspirar frustrado e pesado. Minha mão livre procurou seu rosto, deixando uma pequena carícia com a qual ela fechou os olhos com um fraco sorriso pedindo para se fazer presente em sua expressão. Queria lhe proporcionar segurança, embora, talvez, isso fosse um pouco mais difícil do que em qualquer outra situação. Eu entendia que, talvez, o melhor que pudesse fazer era estar presente...

Ana: Eu sei que você está com algo para contar — a escutei mudar totalmente de assunto, ou quase totalmente. Minha mão pendeu de seu rosto, passando a balançar inquieta enquanto voltávamos a andar por aquelas ruas que sempre estavam  tranquilas — e você sabe que pode confiar em mim para qualquer coisa que queira dizer — enfatizou o termo e assim assenti. Eu precisava falar. Porque, afinal, ela estava completamente envolta com essa investigação que quase não nos levava a respostas nenhuma. Mas, depois daquele vídeo...

El Destino | ThianaOnde histórias criam vida. Descubra agora