El Destino | Thiana

Trinta e Um: "...Estranha"

Por algum motivo, algum motivo insistente e que eu não entendia, minha cabeça deixava de prestar atenção em qualquer coisa que eu estivesse fazendo no momento para algum de nossos momentos juntos. E logo minha mente me traía quando achava que poderia não sentir mais tanto a sua falta do que eu já sentia. Mas era inevitável. Eu simplesmente queria um jeito de acordar na manhã seguinte e descobrir que tudo não se passava de um pesadelo, que minha mente fantasiosa criara tudo. Mas, àquela altura, eu já nem mais tinha essa crença de que isso poderia acontecer. As coisas haviam se tornado tão reais que eu não conseguia mais pensar que tudo era apenas o pior pesadelo que um dia eu pude ter.

Naquela mesma noite, quando voltei à casa de Antônio — deveria lembrar que a muito contragosto? — eu estava com algumas coisas em mente. Pensava, principalmente, sobre o convite que me fizeram (ou melhor: Daisy quase obrigou Thiago a fazer) pela tarde. Realmente pareciam muito contentes de eu ter aceitado rapidamente. Como se esperassem que eu inventaria desculpas para, ao final de tudo, convencê-los de que não estava muito a fim de passar esse tempo a mais. Mas nunca era porque eu realmente não queria. Apenas tinha um grande receio sobre o que poderia acontecer caso Antônio notasse que passava muito mais tempo na Residência do que, propriamente, presa naquela casa. O que, definitivamente, não era mentira. Gostaria de passar o máximo de tempo possível fora daquele lugar, mas, ainda assim, me sentiria melhor se pensasse que não aconteceria nada quando voltasse.

Contudo, aceitar aquele convite foi a melhor coisa que eu faria naqueles dias, estaria prestes a descobrir isso, mas eu sentia. Uma felicidade incomparável com a de outros dia me invadiu ao sentir meu coração bater cada vez mais rápido conforme as horas e os minutos iam se passando. Eu já me sentia um pouco mais alheia à algumas coisas, o que se confirmava pela minha falta de atenção nada discreta. 

Paula notou meu sorriso constante e minha mente longe — não fora a única, mas os outros pareceram disfarçar bem — e tentava perguntar diversas vezes o motivo de minha distração quando estávamos sozinhas, contudo, se eu ouvia, fingia que não para não precisar responder. E era o que eu estava fazendo naquele momento.

Paula: Eu sei que é normal você esquecer das coisas — desviei rapidamente meu olhar para ela, sentindo um pouco de curiosidade pender nele ao fazer. Eu segurava os pratos na mão e estava prestes a deixá-los sobre a mesa da sala e pude vê-la atrás de mim estendendo o braço com a mão que segurava os talheres. Sorri um pouco nervosa. Está bem, talvez estivesse ficando muito exagerada minha falta de atenção —, mas não é comum esquecer de tudo, querida! — Soltou um riso fraco e forçado, o que apenas aumentou minha sensação de que estava excedendo os limites.

Ana: Foi mal, não sei o que me deu hoje... — deixei os pratos sobre a mesa estendendo o braço para pegar os talheres de sua mão, que logo pendeu ao lado de seu corpo ao lançar uma feição que eu sabia bem o que queria dizer. 

Paula: Aconteceu alguma coisa enquanto você esteve fora? — Parecia querer saber a fonte da minha distração repentina, ou melhor: queria saber. Desviei meu olhar para a mesa que estava a colocar. Não queria ter que olhar em seu rosto e negar (o que era exatamente o que faria).

Ana: Não. — Murmurei baixo — Nada muito além do comum — seu olhar continuou sobre mim, eu podia sentir.

Paula: Você sabe que não consegue enganar ninguém quando usa esse tom, não é? — Não respondi, apenas continuei distribuindo os talheres ao lados dos pratos ao redor da mesa. Eu sabia que era verdade, mas não assumiria de forma alguma. Isso não a convenceria de que nada houvesse acontecido para minha felicidade tão forte o quanto estava naquele momento — Se não quiser me contar, tudo bem! É só dizer. — Embora tenha dito, seu tom não parecia de quem queria desistir de fazer as perguntas, o que me deixou um pouco desconcertada e com um sentimento nada agradável.