Vinte e Cinco: Momento ideal?

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Se Soledad talvez me tivesse escrito em código morse ou falado em alemão - ainda que eu entendesse um pouco desse idioma - eu teria entendido um pouco mais do que eu realmente entendi. Tentei pedir explicações um pouco mais concretas sobre o que ela estava tendo dizer, entretanto o que ela me dizia não ajudava tanto. 

O clima do ambiente parecia tenso e o estado em que a garota a minha frente se encontrava deixava claro que não era para ser tão agradável o quanto eu gostaria que fosse. Eu podia notar sua mãos tremendo, mas olhava-a com certa discrição e sutileza, para que não me tivesse como interessada demais.

Ana: Soledad... - a chamei pela terceira vez e, finalmente então, seus olhos se desviaram para mim. - pode me explicar o que isso quer dizer? - tentei ser gentil com cada palavra, não queria que ela pensasse que eu a estava forçando a continuar. 

Seu suspiro foi notável, mas não parecia cansada, se não buscando forças para falar.

Soledad: Quando você tem algo que não é seu, você simplesmente não pode perder. - Assenti com a cabeça tentando entender o motivo da metáfora aplicada. - E eu sinto que algo... na verdade alguém, nunca foi meu... - naquele momento, então, tudo pareceu se explicar sem que ela precisasse dizer mais nada.

Ana: Está falando da sua relação com o Thiago, não é? - Perguntei apenas para obter a informação completa e não apenas achar que sabia. Ela assentiu com a cabeça, desviando o olhar para o chão. - Mas por que diz isso? - Quis saber, ainda que um pouco confusa.

Soledad: Ana, nós estamos juntos tem uns três anos... - pareceu tentar se recordar da data exata, mas prosseguiu: - e em todos esses anos eu sempre o senti um pouco longe, como se tivesse algo, alguém para ser sincera, que ele não quisesse esquecer, apesar de tudo. - A percebia balançar a cabeça de um lado para o outro levemente enquanto dizia aquelas palavras. - E... por isso, eu sempre tive muito medo de perder ele. - Sua voz às vezes tomava um tom possessivo um pouco assustador, mas ela tentava disfarçar e eu fingir que não notava. - Mas tem uns dias que eu noto ele mais distante do que nunca. Como se não quisesse minha companhia. - "e quem queria, realmente?" não pude deixar de pensar, me repreendendo mentalmente por isso logo em sequência. - Então eu me coloquei à pensar que ele me trata como trata a todos, como se eu simplesmente fosse mais uma. E que, desde sempre, dava uma atenção especial para a família da Helena... - pareceu murmurar.

Ana: A família da Helena? - me fingi, esperando que ela acreditasse que eu não sabia quase nada sobre esse assunto.

Soledad: Sim, desde sempre. - seu tom frustrado não me trouxe bons sentimentos, contudo, ela resolveu ficar no que era dito antes. - Quando tento entender essa distância dele, chego na resposta de que, talvez, ele nunca tenha realmente gostado de mim - enfatizou a palavra.

Ana: Você sente que é vista apenas como mais uma boa amiga... - não queria ter dito aquilo em voz alta, mas, quando percebi, já tinha dito e não iria querer disfarçar. 

Soledad: Mais ou menos isso - ela parecia sincera. 

Ana: E eu acho que você já tomou uma decisão sobre o que fazer referente à isso, eu estou correta? - Assentiu, jogando uma parte da franja lateral para atrás da orelha. 

Soledad: Eu vou falar com ele... - assentiu contestando - sinto que não dá mais para seguir.

Ana: Mas tem uma coisa que eu não entendi - comentei com sinceridade estampada em meu semblante. - Por que resolveu me falar sobre isso? Por que não foi fazer o que você mesma julgava ser certo logo de cara, como eu desconfiava que faria? - Arqueei uma sobrancelha ao esperar a resposta.

Soledad: Não sei... mas senti que precisava falar com você sobre isso. - Ela mesma pareceu confusa sobre sua própria linha de raciocínio. Um sorriso carismático invadiu meu rosto. - É que, na verdade, tudo o que eu quero é o bem dele e... eu sento que você faz esse bem inexplicavelmente.

El Destino | ThianaOnde histórias criam vida. Descubra agora