Trinta e Nove: Medo

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Ana's P.O.V.:

Correr contra o tempo. Parece muito mais uma frase de efeito, como aquelas de filmes que deixam seu coração palpitando, mas na verdade as vezes não percebemos que estamos fazendo isso no nosso dia a dia. O coração acelerado não é alguma coisa tão boa, nesse sentido. Você se sente com medo, ansioso e hesitante. Passam na sua cabeça milhares de coisas que podem dar errado em qualquer parte. E então, no que pensamos para poder relaxar?

Eu até que conseguia prestar um pouco de atenção no que Thiago me falava calmamente, me explicando o que pensava, mas minha mente algumas vezes vagava para longe, com medo, hesitante e nervosa. Algumas lembranças recentes de noites em que passei em claro era o foco da minha imaginação e memórias daquele momento.

Depois que Bia foi embora, alguns dias antes — que eu já nem mais poderia contar de tão distraídos que os passei — Manuel e eu voltamos para a casa. Me senti apavorada a cada instante mais. Estar no mesmo lugar que um dia me causou (e ainda causava) sofrimento, o qual não era nada pouco, me deixava sem ar. A atmosfera tensa era perceptível. Algo aconteceria, e não sei bem se gostaria de estar de olhos abertos para descobrir o que seria.

Manuel e Alex notaram a minha pouca inquietação nos primeiros instantes em que ficamos conversando. Embora eles dois não se dessem tão bem ainda, ambos demonstraram uma preocupação comigo, o que eu deveria considerar gentil pela parte dos dois de tentarem juntos entender o que acontecia. Mas, como sempre, eu desviava das perguntas absurdas e dava simples respostas não tão mentirosas assim nas que eu julgava que poderia responder. Eles haviam percebido isso, mas acabaram por desistir ao ver que eu não o faria.

Eu não precisava mencionar que Victor estava estranho. Mas era realmente esquisito vê-lo olhar para mim sem nenhum sentimento pesado aparente, e eu fiquei me perguntando o que haveria acontecido com ele em alguns dias em que passei tão absorta em minha mente que não notei nada ali dentro da casa.

Me lembrei rapidamente da noite anterior. Todos estávamos jantando naquele silêncio que não permitia que eu não me sentisse tensa durante todo o momento em que sentia ser observada. Toda aquela leveza de dias atrás desaparecia assim que eu passava pela porta da casa, retornando para mim apenas quando saía de lá para ficar apenas sozinha com meus pensamentos.

Antônio do outro lado da mesa me encarava e com o relance do olhar o vi erguer as sobrancelhas e fazer uma expressão de como se houvesse chegado a alguma conclusão. Não soube, naquele momento, dizer se achava bom ou ruim.

Antônio: Eu preciso falar uma coisa — todos os olhares se voltaram para ele, exceto meu que se abaixou instantaneamente ao ouvi-lo. — Eu vou precisar viajar para Buenos Aires — ouvi Victor e Alex perguntarem alguma coisa como "de novo?" em expressões surpresas ou algo parecido. Algo bateu forte dentro do meu peito, novamente sem saber dizer se aquilo era ruim ou não.

Paula: Por quê? — foi direta com a pergunta que todos queriam fazer, recebendo um olhar cortante do marido.

Antônio: Um cliente meu... — clareou a garganta, mas me deu uma impressão de que havia algo muito errado, como na outra vez não havia dado tempo de perceber. — Um cliente de lá precisa tratar de alguns assuntos... Documentos e essas coisas, pessoalmente. Não posso adiar — eu tinha a certeza de que havia algo que escondia por trás daquelas palavras que soavam comuns.

Seu olhar estava preso em mim. Eu não queria erguer o meu porque sabia que não seria uma boa ideia encara-lo. O medo não deixaria que eu fizesse isso, aliás.

Pisquei algumas vezes voltando um pouco para o momento presente, chacoalhando a cabeça como se isso me ajudasse a tirar aquelas memórias detalhadas de algumas horas anteriores da mente. Thiago me observava curioso, com humor e um sentimento profundo ao me fitar distraída dentro dos meus pensamentos.

El Destino | ThianaOnde histórias criam vida. Descubra agora