Quando acordou pela manhã, havia comida pronta para ela na mesa, ovos mexidos com bacon e uma fatia de bolo de chocolate. E um bilhete ao lado, que dizia: Fui correr, volto logo.
Ela nem sabia que ele corria ou mantinha uma vida saudável. Olhou para si própria. Será que deveria seguir o exemplo dele? Comeu dos ovos, enquanto pensava na noite anterior. Deveria estar feliz pelo que acontecera, mas tudo que conseguia sentir era tristeza e a sensação de que tudo estava perto do fim. Com a leitura do testamento naquela tarde, amanhã mesmo ela entraria com o pedido de divórcio para separar-se rapidamente de Santiago. Aquele casamento fora o maior erro de todos, e ela devia ter sido mais resistente ao pai e não aceitado toda aquela loucura. Santiago foi feito para viver com uma mulher linda, sensual e que o agradasse, ela era totalmente o contrário, e não atendia as expectativas dele. Como poderiam dar certo um dia?
Ela notou a porta sendo aberta e ele entrando, usando um shorts de moletom e uma camiseta preta, estava todo suado. Foi até ela e beijou-lhe o rosto.
— Está gostoso?
— Sim, obrigada. — ela deu um sorriso fraco.
— Por que parece estar me escondendo algo? — perguntou ele, passando a mão pelo rosto suado.
E estava mesmo, pensou.
— Eu tomei uma decisão, Santiago. — começou Mariane, encarando-o seriamente. — Quero o divórcio, o mais rápido possível.
Ele ficou sem voz, olhando-a sem acreditar.
— Não, Mariane. Não pode falar sério...
Ela se levantou, cruzou os braços e respirou fundo.
— Meu pai morreu antes do acordo ser assinado, isso quer dizer que nós não precisamos mais ficar juntos. — explicou ela.
Santiago assentiu.
— Se é isso que quer, eu assino. Mas...
— Não tem mas, Santiago. Isto é tudo uma farsa. Eu sou uma mulher feia, e você não consegue sequer olhar para meu rosto sem sentir-se enjoado. — declarou Mariane, zangada.
— As coisas não são assim. — defendeu-se ele.
— Não? — ela colocou as mãos na cintura. — Então, olhe para meu rosto e me diga que sou linda, Santiago.
Ele abaixou os olhos e se sentiu o pior homem do mundo. Porque não podia mentir, porque não tinha a capacidade de mentir. Ele podia ser um grande canalha, mas mentiroso não era uma de suas qualidades, se assim pudesse chamar.
Quando teve coragem de olhá-la, viu lágrimas nos olhos dela, e foi aí que Santiago quis que arrancassem seu coração fora. Em nome do Senhor, ela estava certa, precisavam se separar, ela era boa demais para ele, ela era como um anjo vivendo ao lado de um demônio.
— Vou tomar um banho. Aí podemos ir para a casa do seu pai. — ele passou por ela, subindo a escada.
Mariane secou as lágrimas no dorso da mão. Não bastava perder o pai que tanto amava, ainda tinha que conviver com um homem que sentia nojo dela. Como ele conseguira fazer sexo com ela na noite passada? Ah sim, porque não vira o rosto dela.
E houvera um momento em que ela chegara a acreditar que haveria chances de viverem bem, minimamente, ela acreditara que talvez pudesse conquistar o coração daquele homem, não com um rosto bonito, mas com um coração mais bonito ainda. Ledo engano!
Deixou de comer e subiu até o quarto de hóspedes, onde ficaram suas coisas, e foi trocar de roupa. Logo sairiam.
**
Aquela casa não era mais a mesma sem ele, era silenciosa, sem os gritos estridentes de Marcus, sem as risadas, ou quando ele esbravejava com os empregados. Mariane estava sentada naquele sofá há meia hora, com Santiago ao seu lado, carrancudo, sem dizer-lhe nada. Sara voltara da cozinha com um pratinho de bolo para a jovem, que deixou sobre a mesinha de centro, sem vontade de comer. Aquele dia era importante, porque saberiam como ficara o testamento do falecido pai. Ele com certeza deixara muita coisa para Sara, e isso não era um problema para Mariane, que sempre aceitara muito bem a madrasta, apesar da idade. Ela acreditara realmente que a relação dos dois fora baseada em amor em algum momento.
— O advogado chegou, senhora. — a empregada apareceu para avisar.
— Mande-o entrar. — disse Sara.
Um homem negro, de terno e gravata, carregando uma pasta preta entrou, muito sério, e apertou a mão de cada um, e depois sentou-se no sofá ao lado de Santiago.
— É bom ver todos vocês, sou Wilson, o advogado de Marcus. Estou aqui para ler com vocês o testamento que ele confiou a mim. — explicou o homem.
— Pode começar, senhor. — Sara estava ansiosa, sorrindo de um jeito estranho.
Mariane pensou que ela estava muito feliz para um momento tão sóbrio como aquele. Mas deixou passar, não entendia muito bem as atitudes da mulher mesmo.
O homem abriu a pasta e tirou de lá um envelope amarelo lacrado. Ele tirou o selo e puxou um papel de dentro.
O começo era tudo muito formal, explicando como seria feito o processo de leitura, e as informações da pessoa. Depois, ele leu os bens que Marcus possuía, e nomeou os herdeiros, a casa principal para Sara, junto com uma boa quantia de dinheiro, que pelo sorriso dela, a deixou satisfeita. Um apartamento de luxo e dois carros novos para Mariane, que concordou...
E então vinha o que todos esperavam.
— A presidência da Fard é de Santiago Hernandez, mas desde que ele permaneça casado com minha filha Mariane por pelo menos um ano. — leu o homem.
— Jesus amado! — falou a jovem.
Santiago estava em choque. O que Marcus planejara?
— É possível anular isto, senhor?
— Não. Isto é legitimo. — o advogado disse, colocando o papel no envelope novamente. — Se tiverem dúvida, basta me procurarem.
— Obrigada, senhor. — Sara disse, levando-o até a porta.
A sós, Mariane e Santiago se olharam, e ela quase riu, se a situação não fosse trágica.
— Então, ainda quer se divorciar? — ele perguntou, irônico.
— Terá que me agüentar por um ano, querido. — ela se aproximou e beijou de leve os lábios dele. — E eu vou fazer da sua vida um inferno, Santiago.
— O inferno é quente, cariño, mas eu sou mais. Me agüente! — sussurrou no ouvido dela.
— Vocês vão ficar para o jantar? — Sara voltou, ainda sorrindo.
— Não, eu vou buscar minha gata hoje. Fica para a próxima.
— Eu levo vocês até a porta. — a mulher disse, os acompanhando.
Quando o marido já tinha ido na frente, Mariane notou que ela queria lhe dizer algo em particular, por isso ficou para trás.
— Eu queria dizer, que mesmo com seu pai falecendo, eu ainda te vejo como uma filha, Mariane. — a mulher chorou, abraçando a outra.
Elas tinha apenas dois meses de diferença na idade, ela considerava como filha? Mariane teve vontade de revirar os olhos e mandar ela parar de fingir, mas o pior de tudo é que ela não estava realmente fingindo, ou atuando. Sara considerava mesmo a outra como filha, mesmo que não fizesse sentido nenhum.
— Obrigada. Eu também tenho muito carinho por você, Sara. Fique bem, sim? Se precisar me ligue. — disse ao sair.
— Quer dizer que agora sou sua única família. — Santiago comentou debochando, quando ela chegou ao carro.
— Não, eu tenho uma tia distante. — entrou no veiculo, e ele também. — Tão velha que mal pode andar, mas tenho.
— Então sou sua única família mesmo. — o marido falou ao ligar o carro e sair para a rua.
— Ao contrário de você, minha família é pequena. Nunca tive irmãos e nem primos ou tios. — comentou ela, pegando o celular do bolso. — Quem deu meu número ao Elton?
— Eu. Fiz mal? — perguntou na defensiva.
— Não. — tranqüilizou ela. — Ele quer que vamos até o apartamento dele buscar Frida.
Apenas em pensar em gatos o homem já se sentia mal, mas se manteria firme, não cairia para uma pobre gatinha.
— Vamos até lá então. — ele disse, virando numa rua mais a frente.
— Você vai adorar Frida. Ela é manhosa, mas muito obediente.
Mal posso esperar! Pensou ele, pouco ansioso para o encontro.
**
—Que bom que chegaram. Entrem! — Elton os cumprimentou na porta do apartamento. — Como você está lindo, Santiago!
— Desculpe por deixar ela tantos dias com você. Meu pai morreu e tudo se complicou. — explicou Mariane.
— Tenho certeza que Elton se divertiu com a gata. — sugeriu Santiago.
— Você está certíssimo, Santi! Sentem, por favor. — o homem indicou o pequeno sofá vermelho na sala. — Vou buscar Frida, já volto.
Os dois sentaram um ao lado do outro, quase colados, e Santiago aproveitou para colocar a mão na perna da esposa, massageando-a. Ela o olhou com assombro, mas ele ignorou e continuou com o gesto.
Minha mulher, eu posso fazer até mais do que isso. — refletiu, pensativo.
— Aqui está. — Elton apareceu com a gata no colo, vestida de vestido vermelho.
— Oh meu Deus, Frida, você está linda. — Mariane pegou o animal, e o segurou nos braços, no mesmo instante que o marido começou a espirrar.
Santiago ficou de pé, e tentou se concentrar em outra coisa que não fosse a bendita gata ali do seu lado. Mas os espirros vinham um atrás do outro, e ele se perguntou se morreria de alergia a gata.
— Você é alérgico a gatos, Santiago? — perguntou Mariane, preocupada.
— Eu não contei isso a você? — ele falou antes de espirrar de novo.
— Eu não sei, não lembro. — respondeu confusa.
— O que faremos com Froda? — quis saber ele se afastando mais.
— É Frida. E quanto a ela, não faremos nada. E sim com você, vou te levar ao médico amanhã.
— Eu não vou a medico nenhum. Elton, fique com a gata, é sua! — ofereceu ele, coçando o nariz.
— Nada disso! A gata é minha. Vamos embora, Santiago. — decidiu Mariane, acabando com a palhaçada.
— Se cuidem, crianças. Não se matem, por favor. — Elton falou ao vê-los irem embora.
E do momento que saíram do apartamento do amigo até a hora que chegaram em casa, Santiago foi o caminho espirrando, fazendo mil juras de dar um jeito na gata, e proibindo de todas as formas que ela chegasse perto dele.
— Ela que não vai querer ficar perto de você, homem. Deixe minha gata em paz. — ameaçou ela.
— Vou arrumar um cachorro, então. — ameaçou ele também.
— Você não se atreveria. — Mariane disse espremendo os olhos para ele.
Um sorriso perverso recorreu o rosto dele. Ele se atreveria sim!
— Sua atenção deveria estar voltada para mim, querida. Não para a gata. — o homem disse enquanto dirigia.
Ela segurou o riso.
— Santiago Hernandez está com ciúmes de uma gata!
— Não estou! — tudo bem que quem ganhava colinho era ela...
— Está sim. Isso é ridículo! Não posso comparar o que sinto por você com o que sinto por Frida. Eu amo minha gata. — declarou para a infelicidade dele.
Depois de ser quase humilhado, ele juntou o que restou de seu orgulho e estacionou o carro em frente ao seu prédio. Enquanto subiam pelo elevado até a cobertura, ele ficou novamente espirrando, e Mariane fez questão de deixar o animal o mais próximo dele possível. Ela era cruel quando queria.
— Eu preciso de um banho. Tem pêlo de gato em minha roupa. — ele disse ao entrarem no apartamento. Estava subindo as escadas, mas parou. — Não quero esse bicho em nosso quarto.
— Não se preocupe com isso, Santiago, Frida ficará no meu quarto.
— Como assim seu quarto? Dormimos juntos, esqueceu?
Ela largou a gata no chão e cruzou os braços, com uma expressão de deboche.
— E quem disse que voltarei a dormir com você? Vamos passar um ano juntos, mas separados. Não quero mais ter contato com você, Santiago. Você sabe que eu queria o divórcio.
Ele engoliu em seco.
— Você ainda voltará para mim, cariño. Por sua própria vontade, não a forçarei. Mas a esperarei todas as noites. — disse com um sorriso sedutor.
— Vá tomar seu banho, homem. Me deixe em paz. Mas antes de ir, qual o nome daquele cantor que ouvi no seu celular?
Santiago desceu dois degraus.
— Luis Miguel. Ouça Usted. Diz muito sobre nós, Mariane.
Ela apenas concordou com a cabeça.
Ele subiu a escada e sorriu sozinho. Ela entenderia tudo.
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O CEO que amei COMPLETO ATÉ DIA 10/04
RomanceMariane é filha de um dos maiores empresários do ramo automobilístico dos Estados Unidos. Ela dá aulas para detentos na penitenciária, o que desagrada o pai, que esperava um futuro melhor para a filha. Ele então decide que ela deve se casar com Sant...