Capítulo Treze

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Ela subiu para seu quarto, e colocou a música que ele indicara para tocar, e enquanto ouvia, procurou pela tradução, e foi impossível não desmanchar-se em lágrimas ao ver o que ela dizia.
Você me desespera
Me mata, me enlouquece
E eu daria até a vida para vencer o medo
De beijar você
— O que você quer dizer com isso, Santiago?
Ele a confundia mesmo quando demonstrava palavras doces, e depois a rechaçava com amargor. Quem era aquele homem que brincava com seus sentimentos de uma maneira tão infantil? Irritava-a, queria gritar para ele parar, para agir como um homem e não como um menino mimado. E quando a amava com fervor, beijava cada parte de seu corpo, seus lábios, e a levava aos mais altos degraus da paixão, para em seguida derrubá-la sem misericórdia. Este era Santiago Hernandez, o homem com quem se casara, e que não demonstrava controle algum sobre qualquer situação. Que passava de frio e indiferente para apaixonado em minutos, e que a fazia sentir-se desejada, ao menos uma vez.
Ela rolou na cama, fechando os olhos, lembrando da outra noite, quando teve a boca dele em seu corpo, e sentiu o gosto dele na sua. Foi tão intenso, tão quente e ela se sentira tão livre, sem pudores, esquecera-se até mesmo das inquietudes de seu coração.
A verdade é que amava estar junto de Santiago, dormir ao lado dele, ser abraçada, envolvida pelos braços fortes e sentir o cheiro amadeirado do corpo do homem. Mas tinha prometido não voltar mais para a cama dele, e pretendia cumprir essa promessa. Não queria ser fácil com ele. Não queria dar o braço a torcer tão facilmente.
Suspirou. Amanhã voltaria a trabalhar na penitenciaria, e sua vida voltaria ao normal também, como ela tanto gostava. Santiago também voltaria ao trabalho, iria a Fard assumir seu lugar, o qual ficaria por um ano, até que cumprissem os doze meses de casamento, ai sim então a empresa seria definitivamente dele. Há muito tempo Mariane tinha sonhado em assumir a empresa do pai, não que achasse que tinha capacidade suficiente para isso, mas com um pouco de esforço e ajuda ela conseguiria levar para frente os negócios da família. Mas é claro, tudo tinha sido um fracasso.
Mas pelo lado bom, ela ainda tinha um emprego, e não viveria como as madames da sociedade, que ela até não tinha nada contra, mas que mais pareciam bibelôs de enfeite na relação com o marido.
Decidiu dormir, Frida tinha se acomodado aos pés da cama  e depois de dizer boa noite a gata, Mariane entregou-se ao sono.
*
— O quê? — exclamou a jovem ao ouvir aquelas palavras que não pareciam ser reais.
— Está dispensada, senhorita. — repetiu o diretor da penitenciaria.
Ela respirou fundo e tentou ficar calma.
— Por que? O que fiz de errado? — perguntou, indignada.
— Precisamos cortar gastos, Mariane. Suas aulas de história são dispensáveis. Aqui, o cheque pelo último mês de contribuição. — entregou a ela o papel, que olhou-o sem acreditar.
Colocou a bolsa no ombro e saiu do escritório sem coragem de dizer nenhuma palavra. Era difícil acreditar que tinha simplesmente sido demitida apenas porque as aulas estavam custando caro ao Estado. Eram apenas duas horas de aulas semanais, não tinha como custar tanto assim. Havia algo estranho, ela suspeitava. E mais ainda, por instinto, ela suspeitava que alguém, precisamente uma pessoa em especial tivesse agido contra ela, armado para que saísse do emprego. Ela ainda lembrava da conversa que tivera com ele na lua de mel, quando ele declarara abertamente que era contra ela trabalhar na penitenciaria. Pelo Senhor, seria possível que Santiago tivesse interferido em seu trabalho?
Se a resposta fosse sim, ela estava decidida a confrontá-la naquela noite. Com toda certeza faria um escândalo, faria o entender de uma maneira bem simples que erro tinha cometido, porque ela podia ser muito tranqüila, calma, mas quando mexiam com algo que ela gostava, como por exemplo seu emprego, bem, ai sim as coisas ficavam ruins. Podia se imaginar apertando aquele pescoço do marido. Deus, perdão pelos pensamentos malignos.
Ela voltou para casa mais tarde naquela noite, ele já estava em casa, e quando ela entrou, o marido a recebeu na porta com um beijo doce — e com gosto de culpa.
— Como foi seu dia?
— Ótimo. — ela disse friamente.
De mãos dadas caminharam até a cozinha. Havia camarões na manteiga, macarrão com molho de tomate e salada.  E um belo bolo de chantili com morangos.
— Quer comer? — ele perguntou pegando o prato.
— Você fez tudo isso?
— É claro que não. É para isso que ser o delivery. — respondeu o marido com um sorriso bonito.
Ela quase foi afetada por ele, mas manteve-se firme, porque tinha um propósito ali, um confronto que aconteceria em breve.
— Sirva uma fatia de bolo, sim? — pediu forçando um sorriso.
Santiago cortou o bolo e colocou no prato para ela, que experimentou um pedaço  e assentiu, balançando a cabeça.
Mas de repente, ela pegou o bolo com a mão e mirou bem no meio da testa do marido, acertando-o como se tivesse um alvo ali.
— Mariane! O que pensa que está fazendo?
Ela saiu da cadeira que estava e se aproximou dele.
— O que você pensa que estava fazendo quando decidiu que eu deveria ser demitida? Porra, é meu trabalho, Santiago.
— Você não vai mais trabalhar naquele lugar. — declarou ele, retirando o chantili do rosto.
Irritada, Mariane pegou outra porção de bolo e acertou na cabeça dele.
— Você é um idiota, Santiago!
— Ora, sua... — foi a vez dele pegar uma mão de bolo e esfregar no rosto dela. — é melhor correr se não quiser sofrer as conseqüências por sua insolência. — ameaçou, pronto para lançar mais bolo na direção dela.
Mariane correu para a sala, ele correndo atrás. A essa altura ela já estava rindo, — uma traição a causa. Mas ele também não parecia mais bravo, segurou-a pelo braço e esfregou bolo no cabelo dela.
— Não! — ela se debateu nos braços dele.
O piso frio estava liso, e foram os dois ao chão, ele protegendo a cabeça dela de bater no piso de mármore. Ficou por cima dela, o corpo todo sobre o dela e por um momento ele a olhou. Mas não simplesmente com os olhos, foi um mero segundo que ele a viu com os olhos da alma, e não pensou muito quando a beijou. Um beijo doce como chantili. Que ela não rejeitou. Santiago estava beijando a verdadeira Mariane, a feia, a que ele não suportava. E ele poderia jura pelos céus, foi o mais intenso e verdadeiro beijo de sua vida. Sua alma estava nele.
— Espere. O que é isso? — ela falou, tinha algo fazendo cócegas no seu pé.
— Casper, saia daí! — o marido disse, se levantando.
Foi aí que Mariane notou o pequeno cão lambendo o chantili do seu pé.
— Você trouxe um cão para casa, Santiago? — exclamou furiosa. Ficou de pé, e encarou o pequeno animal.
Santiago deu de ombros.
— Eu disse que traria um. — se abaixou e pegou o beagle no colo. — Casper, dê oi para sua mãe.
— Eu não sou mãe de um cão! — defendeu-se ela.
Ela fez biquinho.
— Mas é de uma gata. Cães são muito úteis sabia? Vou treinar Casper para caçar. — explicou o marido.
Ela bufou. Tirou o chantili do olho e encarou os dois. Ela não sabia quem tinha mais carinha fofa, o beagle ou o dono.
— Tudo bem, podemos ficar com ele. Mas não deixe ele brigar com Frida.
— Obrigada, Mariane. — ele fez um carinho no queixo dela e saiu com o cão.
Só minutos depois, ela percebeu que ele tinha engambelado-a!  Saíra do assunto emprego para distraí-la e ela não  brigar com ele. Quase riu, de como ele era esperto.
Passou a mão no cabelo e sentiu-o pegajoso. Precisaria de um banho demorado.
**
Ela tinha um plano. Acordou muito cedo naquela manhã, e depois de um banho quente, e arrumar o cabelo com um pouco de creme, modelando os cachos, e depois vestindo um terninho azul marinho que tinha, foi até a cozinha preparar um café para ela.
Quando Santiago chegou a cozinha, assustou-se ao vê-la toda arrumada.
— Vai sair? — ele perguntou, servindo-se de uma xícara de café.
— Vou. Vou trabalhar com você. — respondeu ela tranquilamente.
Santiago quase cuspiu o café.
— Você só pode estar brincando. — disse ele, devolvendo a xícara a mesa.
— Não, ouviu bem. Se não posso trabalhar com o que quero, vou ajudar na Fard. Até porque a empresa é minha né? Nada mais justo do que isso. Podemos ir? — ela se levantou da cadeira, indicando o caminho.
Sem muito o que fazer, ele a acompanhou. Foram até o elevador, em completo silencio, e depois no carro, foram ouvindo Coldplay Yellow. Ela sabia que ele não teria como negar esse pedido, ou exigência dela.
Quando chegaram as instalações da Fard, a maior fabricante de carros do país, subiram direto para o escritório, onde as secretarias correram recebê-los. Mariane já as conhecia, já estivera ali antes. Foram acomodados no escritório que era do pai dela, e ela sentiu-se saudosa ao entrar ali. Quando era mais nova e vinha até o escritório, o pai escondia chocolates na gaveta da mesa somente para ela, era uma lembrança boa.
— O que você vai fazer hoje?
— Vou responder alguns emails. Preciso esperar pela reunião dos acionistas para saber o que fazer na empresa. Mas ao que parece não há nenhum problema grave. A empresa é rentável. — explicou Santiago.
— Se eu fosse você, estaria apavorada em assumir algo tão grande.
Ele riu.
— A Stenfons é menor, é verdade, mas também tem seu valor.
Ela se apoiou na mesa, de frente para ele.
— Por falar nisso, como você conheceu meu pai? Eu nunca soube de verdade.
Ele suspirou.
— Eu fui convidado para um evento há seis meses. Um amigo em comum me apresentou a seu pai, para minha surpresa ele já conhecia minha empresa, sabia que ela era a maior do México. Isso o interessou. Depois disso ele entrou em contato comigo para falar de negócios, e nesse encontro disse que gostaria de investir em mim. Eu perguntei como, Marcus falou que tinha uma filha solteira...
— E aí você simplesmente se vendeu. — concluiu ela.
— Eu tive sorte, me casei com você. — ele brincou, tentando aliviar a tensão.
— Você poderia ter se dado mal. Já pensou que a mulher com que se casou fosse feia? — ela riu.
— É, fui um puto sortudo! — comemorou ele.
— Vamos dar uma volta pela montadora? Pelo visto você ainda não tem muito o que fazer hoje.
— Vamos. — ele concordou.
Deixaram o escritório e desceram até a linha de montagem, uma grande instalação com várias maquinas, robôs que montavam as peças dos carros rapidamente, um atrás do outro. Havia pouca mão de obra humana, os robôs faziam maior parte do trabalho e ela só conseguia pensar no quanto de investimento tinha ali.
— Engraçado que seu pai não tinha nenhum carro da Fard. — Santiago disse quando saíram da instalação.
— Realmente. Ele preferia carros alemães. Achava mais seguros. — riu ela.
— Seu pai era excêntrico. — comentou ele.
— Era. Sara deve estar sentindo muita falta dele.  — Mariane disse pensativa.
— E você, cariño, sente falta dele?
— É claro que sinto. Muito. Às vezes dói tanto que acho que não vou poder respirar. — os olhos dela ficaram marejados. — Mas eu preciso me conformar que não vou mais vê-lo.
— Não consigo entender sua dor porque nunca aconteceu comigo, mas saiba que me compadeço de coração. Queria poder tirar sua dor, Mariane.
— Obrigada, Santiago. — ela deu um meio sorriso.
— Não agradeça, eu estou muito em falta com você, meu  bem. Eu prometo que serei um bom marido.
Ela apenas concordou com a cabeça.
Deixou-o sozinho e voltou para o escritório.
Ele viu o celular apitar. Era Carla. Pedia para se encontrar com ele em breve.
Ele deveria? Apenas uma última vez, e depois não a veria nunca mais. Respondeu que sim, que iria até ela.
Isso seria de algum modo uma traição?

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