— O que foi, Mariane?
Ela olhou para Santiago.
— Eu não sei, Sara me ligou algumas vezes. Mas aqui não pega sinal. Precisamos voltar para o resort. — disse, olhando com receio para ele
O homem concordava, mas parecia que havia um verdadeiro problema ali naquele momento. Como por diabos o piloto não tinha abastecido o barco antes de sair?
O piloto disse ao CEO que ligasse para um outro barco na costa, mas quando Santiago tentou ligar, notou que seu celular também não tinha nenhuma torre. O que era, com toda certeza um grande desastre. Estavam a deriva no mar, longe da praia e sem contato com ninguém.
— Santiago, estou com medo. — falou a jovem, segurando-se dramaticamente na lateral do barco.
— Não fique, vai dar tudo certo. Logo outro barco passará por nós e ajudará. — acalmou-a ele.
O que definitivamente não aconteceu, já que eles passaram as duas horas seguintes um olhando para o outro, como completos tolos. Em silêncio, isso até Mariane decidir intervir.
— Nós nunca deveríamos ter saído de Seattle. Minha Frida pode precisar de mim. — lamentou ela, desanimada.
— É bom que saiba que sou alérgico a gatos, Mariane. — alertou.
Ela franziu a testa.
— Isso será um problema, já que não pretendo me livrar da minha gata.
— Aprenderemos a conviver, querida. — tranqüilizou ele.
Ela relevou. Era bom mesmo. Frida tinha sido sua companhia nos últimos cinco anos, e ela achara que viveria ao lado da gata até que uma das duas morresse primeiro. Tratava-a como se fosse sua filha, e tinha muito carinho por aquele pequeno ser preto e branco.
— Sabe, tem uma coisa que estou querendo perguntar há um tempo... — insinuou ele.
— Pode perguntar, não tenho nada a esconder. — garantiu a jovem.
Santiago prosseguiu, ansioso.
— Você por acaso teve alguém antes de mim?
Ela ficou séria, muito. As sobrancelhas se uniram em uma expressão que parecia que ela estava sentindo dor.
— Na verdade, houve um. — começou a contar Mariane. — Thomáz foi meu primeiro namorado, e fiquei com ele por alguns anos, mas acabamos terminando.
— Por que motivo?
A jovem respirou fundo.
— Porque ele queria sexo, e eu não. Eu queria... Bem, eu queria me guardar para meu casamento. — contou, envergonhada, olhando para o lado.
O marido sorriu. Era um motivo honrado, que fazia muito sentido na cabeça dele. E fora com ele. Ela se guardara para ele.
— Admito que foi uma surpresa saber que você era virgem, Mariane. — Santiago comentou.
Ela olhou para o piloto, preocupada.
— Não se preocupe, ele não nos entende.
Aliviada, ela decidiu respondê-la.
— Eu notei que você ficou surpreso. Até mesmo achei que não ia mais... Você sabe... — limpou a garganta, constrangida.
— Vamos mudar de assunto, vamos? Acho que estou vindo um barco se aproximando, sim veja ali. — ele apontou para a esquerda.
Era um barco de pesca. Mas era a salvação deles. Ergueram os braços e começaram a acenar, chamando a atenção dos pescadores que acenaram de volta.
Eles mudaram o curso do barco e foram na direção de Mariane e Santiago, que começaram a comemorar, ele abraçando-a. Depois disso, a vergonha bateu, e os dois se separaram. Quando o barco chegou perto, o piloto informou ao capitão do outro o ocorrido, e depois o casal foi transferido para o pesqueiro. A jovem se sentou perto de uma rede, havia um cheiro forte de peixe, mas era melhor que nada. Levaram meia hora para chegarem ao píer novamente, e o CEO, em toda sua pose de homem de negócios ofereceu uma quantia de dinheiro ao dono do pesqueiro, que rejeitou, sorrindo com seus poucos dentes, dizendo que era um favor de amigos.
Assim, os dois voltaram a praia, cheirando a peixe, e queimados do sol.
— Por que inferno não passamos protetor solar? — perguntou Santiago quando chegaram a suíte.
— Eu passei. — tirou vantagem ela.
— É claro que sim. — bufou ele, jogando-se na cama.
— Estou com fome. Vou pedir comida aqui. O que quer? — Mariane quis saber, já com o telefone na mão.
— Um bom bife. E um vinho, pelos céus morro por um vinho branco. Mande trazer o melhor. — mandou ele, exausto demais para fazer esse trabalho.
Ele ouviu ela pedir a comida, em inglês, e sorriu com o jeitinho que ela dizia gracias ao final da ligação, sendo uma das únicas palavras em espanhol que ela sabia.
— Meu celular descarregou. Preciso ligar para Sara. — reclamou ela, procurando pelo carregador na mala.
— Use o meu. — ofereceu ele o celular moderno.
Mariane pegou o celular e discou o número da madrasta, esperando que ela atendesse logo. E assim aconteceu, em segundos Sara estava do outro lado da linha.
— Quem é?
— Sou eu, Sara. — a jovem disse ansiosamente. — Aconteceu algo?
— Oi Mari. Sim, aconteceu. Seu pai sofreu um enfarto hoje de manhã. Achei que devia te avisar. — contou a mulher, chorosa.
— Fez bem, Sara. Como ele está?
— Mal, Mari. Ora, eu não sei se... — a mulher começou a soluçar, chorando muito.
Mariane olhou para Santiago, que a fitava com atenção.
— Sara, eu vou voltar para Seattle hoje mesmo. Me mantenha informada, por favor. — disse antes de desligar.
Devolveu o celular ao marido, que a encarou.
— O que houve?
— Meu pai sofreu um enfarto. Precisamos voltar hoje mesmo, Santiago. — a jovem falou correndo para arrumar a mala.
Ela pensou em muitas possibilidades com o silencio dele, pensou que talvez ele fosse dizer que não, que se negasse a voltar para casa, fazendo ela tomar um vôo comercial de volta para Seattle, o que levaria mais um dia para chegar em casa. Mas para seu alivio, e de seu coração a resposta dele foi a mais perfeita de todas.
— É claro, vou programar o vôo para as próximas horas. Vamos arrumar as malas. — ele começou a ajudá-la.
E enquanto ele guardava as roupas de qualquer jeito na mala, ele notou ela de joelhos ao lado dela, que estava chorando. Chorando tanto que seus ombros tremiam. E ele fez o que um homem honrado faria, mesmo que não fosse um. A envolveu em um abraço apertado, as costas dela contra seu peito, os rostos próximos.
— Ele vai ficar bem, cariño. — sussurrou no ouvido dela.
— Sim, vai. — ela se separou dele, como se o contato não fosse bom. — Vou ao banheiro, Santiago.
Ela saiu, deixando-o sozinho.
Ele voltou a dobrar as roupas, preocupado com o sogro, porque ele não era hipócrita, sabia que se o homem morresse seus negócios acabariam de repente e ele não poderia fazer mais nada. Morte não estava previsto no contrato. Se isso acontecesse, ele teria que deixar Seattle e voltar para a capital do seu país para cuidar de seus interesses, e claro, se divorciar de Mariane.
Estava nas mãos do destino, pensou.
**
Uma hora mais tarde eles entraram no jatinho que esperava por eles no aeroporto de Cancún, não muito longe dali. Dessa vez Mariane estava tão nervosa e preocupada com o pai que se esqueceu do medo de voar, concentrando-se apenas em suas orações, que tinham se tornado incessantes nas últimas horas.
O avião decolou, e Santiago sentia-se nervoso, com dor de estomago, e não era por causa do vôo. Ele precisava ser muito sincero, deixar de lado suas convicções e dizer que estava também, talvez um pouco, preocupado com Mariane, que desde que saíram do resort não havia dito uma única palavra e parecia fria. Era como se ela entendesse que ele estava preocupado unicamente com os negócios e não com o pai dela. Bem, era uma verdade, dolorida, e com a cara de um homem completamente cafajeste. Mas ainda sim era verdade. E mais uma verdade, a mais previsível de todas, é que Santiago Hernandez não podia esconder muito de seu caráter volúvel e de como envolvia facilmente as pessoas em seus jogos apenas por prazer, ou vingança. Dependia de seu humor. Ele só não conseguia fazer isso com a esposa, que era completamente irritante, e o tratava como igual. Nenhuma mulher nunca fizera isso com ele, todas eram submissas, e o respeitavam. No que tinha se metido?
Enquanto seus pensamentos vagavam, um lanche foi servido, biscoitos doces com suco e sanduíche natural, como ele pedira. Ele comeu, ela não. E eles já estavam tempo suficiente juntos para ele saber que quando ela não comia, é porque tinha alguma coisa errada. E também, doía-lhe ver Mariane tão triste; gostava de seu sorriso fácil, de seu jeito alegre e de seu bom humor. Suspirou, e ele estava pensando muito sobre tudo. Quando ficara tão reflexivo daquele jeito?
Algumas horas depois, as quais a jovem só perguntou as horas ao marido uma vez, eles pousaram em Seattle. Do aeroporto, eles foram direto para o hospital, ela roendo as unhas no carro, enquanto o motorista de Santiago dirigia noite a dentro.
Até que ele segurou a mão dela na sua, fazendo-a olhá-lo.
— Tudo correrá bem. — garantiu ele, com um meio sorriso.
— Obrigada. — ela agradeceu, soltando a mão dele.
Mariane não era nenhum pouco boba. De imediato ela percebera que a preocupação do marido com seu pai era puramente por interesse de negócios e não passavam disso. Ele não estava realmente se importando com o fato de ele morrer e deixar a família, não isso não. Santiago queria seu pai vivo para assinar o acordo que unia as empresas, e que tornava seu marido um dos maiores homens do país no ramo de carros. Era doloroso ver a frieza, ou mais ainda, a capacidade de cinismo do homem ao seu lado, e ela não conseguia aceitar nenhum gesto de carinho ou de cortesia vindo dele nesse momento, e só não estava sozinha ali no hospital, porque mesmo não permitiria, dizendo que era da família agora. Como em tão poucos dias ela já conhecesse tanto dele? Até tentara se enganar naquela viagem de lua de mel fajuta e tentar acreditar que eles pudessem se dar bem, mas a verdade era cruel; não podiam, nunca se acertariam. Porque ele queria ter se casado com uma mulher bonita, e ela como um homem que a amasse.
Os dois tinham se enganado um com o outro.
Mas aqueles ali no carro eram os verdadeiros Santiago e Mariane, ela feia, ele um CEO poderoso e esnobe. Não era uma combinação que pudesse dar certo na vida real. Mas estavam fadados a estarem juntos por muito tempo, um convivendo com o outro, aprendendo o defeito de cada, vivenciando as tristezas e as alegrias.
O carro parou em frente o hospital, e os dois desceram. Ela foi na frente, entrou e foi até a recepção. Pediu pelo nome do pai, e depois de receber uma etiqueta que dizia "visitante", junto do marido, subiram até o quarto informado.
Ela bateu a porta, e Sara a abriu, permitindo que eles entrassem. Santiago notou que a mulher estava de vestido de oncinha e salto alto mesmo ali. Uma verdadeira perua.
O pai estava de olhos fechados, com tubos no nariz, ligado a aparelhos. Mariane se aproximou, e tocou o rosto do homem.
Ela se emocionou, mas teimou que as lagrimas não caíssem por seu rosto.
— O senhor vai melhorar, pai. — falou baixinho.
— Ele vai sim, querida. — respondeu Sara, próxima de Santiago.
Foi naquele precioso momento que o CEO se perguntou que tipo de homem era verdadeiramente, e qual a porra da importância dele para o mundo. Porque, não podia ser real, que um homem como ele fosse tão insensível de preocupar-se tanto com negócios quando tinha ao seu lado uma mulher como Mariane, que apesar da aparência que ainda não o agradava, era doce e ingênua. Que não tinha mal nenhum em seu coração.
O pior dos homens, pensou ele amargamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O CEO que amei COMPLETO ATÉ DIA 10/04
RomanceMariane é filha de um dos maiores empresários do ramo automobilístico dos Estados Unidos. Ela dá aulas para detentos na penitenciária, o que desagrada o pai, que esperava um futuro melhor para a filha. Ele então decide que ela deve se casar com Sant...