Capítulo Dez

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Já era madrugada e Mariane não tinha tirado o pé do lado do pai. Santiago e Sara tinham se acomodado nos sofás ao lado da cama, e a mulher havia cochilado algumas vezes, quase caindo ao chão.
Até que o marido se levantou, e foi até a jovem, tocando-a no ombro.
— Vamos embora, Mariane. Precisa descansar um pouco. — ele disse carinhosamente.
— Devo? Eu tenho medo de ir e... — calou-se, afastando os maus pensamentos.
— Nada acontecerá. Voltaremos amanhã. — garantiu Santiago.
Ela então concordou.
Se despediram de Sara e saíram do quarto, ela olhando uma última vez para o pai deitado naquela cama. Quando chegaram ao carro, e o motorista os levou até o apartamento do marido no centro, ela estava tão cansada que não conseguia raciocinar que estava indo para a casa nova. Não tivera tempo de pegar todas as suas coisas em seu antigo apartamento, e teria que fazer isso em breve, pensou. Mas a única coisa que queria agora era comer alguma coisa e dormir. Em qualquer lugar, até um sofá servia.
O carro parou em frente a um prédio alto na área mais nobre da cidade, e os dois desceram, subindo de elevador até a cobertura, e Santiago abriu a porta do apartamento. Ele acendeu as luzes, revelando um lugar amplo e bonito, com as paredes de vidro, com uma vista linda da cidade, e uma escada na sala que levava ao andar de cima. Era um lar. Seu novo lar. A primeira vez que estivera ali não tivera tempo de notar nada, e agora sim podia observar melhor.
— Quer comer alguma coisa? — Santiago perguntou ao lado dela.
— Quero. Estou com fome. — ela levou a mão a barriga.
Ele sorriu. Conduziu-a até  a cozinha, e abriu a geladeira.
Havia dois sanduíches preparados para os dois, com muito queijo e peperoni. Ele ofereceu um a ela, e ainda tirou uma jarra de suco de laranja da geladeira. Procurou por dois copos e serviu a Mariane.
Os dois comeram em silencio, como já tinham acostumado a fazerem, e era uma rotina que parecia combinar com ambos. Hoje não cabia piadinhas sobre peso ou aparência, e tudo que Santiago Hernandez queria era confortar sua esposa, colocá-la em sua cama e fazê-la finalmente descansar.
E foi isso que ele fez depois que ela comeu, a levou até seu quarto e a fez deitar-se de qualquer jeito em sua cama, apenas tirando seus tênis e colocando-os de lado.
— Santiago?
— Sim? — ele falou antes de sair do quarto. Parou para ouvi-la.
— Meu pai não vai morrer não é?
— Não, cariño. Eu te prometo que não. — garantiu o marido, com uma certeza que ele não tinha, mas que tinha que dizer a ela que sim.
Mariane se sentiu confortada, e com menos medo, logo pegou no sono. Quanto ao marido, sentou-se no sofá da sala, depois de servir-se de um copo de uísque, e ficou admirando as luzes da cidade pela janela ampla. Uma grande tristeza se abateu sobre ele, porque definitivamente estava infeliz, e o resultado disso é que acabava fazendo a jovem infeliz também. Que grande confusão se metera com aquele casamento!
Ainda podia se lembrar do encontro com Marcus há quatro meses, os dois no escritório dele, a sós, enquanto o homem fora bem direto e dissera que queria unir as empresas, e como não tinha filho homem, gostaria que um homem responsável e com instinto para negócios controlasse sua empresa. Mas para isso era preciso que Santiago se casasse com sua filha, o que para o homem, de inicio, parecera uma loucura, mas que aos poucos se tornou uma grande realidade. Casar-se com uma mulher desconhecida, com alguém que nunca vira apenas por poder, por milhões em dinheiro. Era realmente corajoso.
Santiago terminou sua bebida e foi para o quarto, despindo-se, ficando apenas com a boxer, e depois simplesmente deitou-se ao lado de Mariane, fazendo como nas outras noites, algo que ele não conseguia explicar, mas que parecia extremamente necessário; abraçá-la por trás, envolvendo-a pela cintura.
— O que está fazendo? — ela estava acordada, e parecia zangada.
— Estou apenas te abraçando, meu bem. É ruim?
A jovem pensou por um momento.
— Não. Tudo bem. — disse mais calma.
— Durma, tranqüila, cariño. — ele falou no ouvido dela, que arrepiou-se completamente.
Aos poucos a respiração dela foi se acalmando, e os pensamentos ficando nublados, até que caísse em um sono profundo. Ele, por vez, ficou acordado mais tempo, pensando em tudo que estava acontecendo, e de repente se deu conta que tinha muito nas mãos — literalmente. Tinha Mariane nas mãos, e ela valia muito. Chegou a pensar, no auge da inconsciência, se um dia chegaria a amar aquela mulher. Não, não era possível. Mas tinha carinho por ela, e um instinto absurdo de protegê-la. Afinal de contas ela era sua parceira, sua esposa, e mesmo que não a amasse, podiam conviver bem.
Isso se o pai dela não morresse. Porque aí o jogo virava completamente. Ele se separaria de Mariane e voltaria para o México por um tempo, quem sabe repensar seus investimentos, e o que fazer depois de um golpe tão duro. Naquelas circunstâncias era o meio mais fácil e que solucionava todos os problemas restantes. Mas ele esperava que as coisas não chegassem nesse nível.
Entregou-se ao sono e permitiu que tudo se tornasse vago aos seus olhos. Era um sono justo.
**
Pela manhã, nada tinha preparado Mariane para o que fosse acontecer, quando ela chegou ao hospital, encontrou Sara chorando no sofá do quarto, e a cama onde seu pai estava, vazia.
— Onde está meu pai? — perguntou, nervosa.
Sara não conseguia falar, só chorava. Foi aí que a pobre jovem soube que tinha acontecido algo, e algo grave. Abriu a boca para dizer algo, mas as palavras não saíram, tentou se mover mas suas pernas pareciam rochas. Lágrimas começaram a escorrer sorrateiras por seu rosto, e o chão pareceu se abrir debaixo de seus pés. Sentiu o peso do mundo sobre seus ombros, e houve um segundo em que ela duvidou que aquilo fosse verdade.
— Faz meia hora. — contou Sara, limpando as lágrimas. — Ele Passou a noite mal, e agora pela manhã...
— Eu não estava aqui. — Mariana olhou para o marido, culpando-o, porque fora ele que a levara embora dali.
— Cariño... — ele tentou acalmá-la, sem sucesso.
— Saia, Santiago. Espere lá em baixo. — pediu ela sem olhá-lo.
Suspirando, ele concordou. Desceu até o térreo, e sentou-se na recepção, sentando em uma das cadeiras próximas ao balcão de informações. Não havia mais ninguém ali, só ele, e a atendente, que estava concentrada lendo um papel.
Seu celular vibrou, e ele não se admirou em ver uma foto de Carla desnuda, o que ele fez questão de excluir imediatamente, realmente sem paciência para os caprichos da mulher naquele momento.
Seus piores temores tinham se tornado realidade, o pai de Mariane tinha morrido, e antes de assinar o acordo de união das empresas. Isso era o fim para ele, e o homem não era tão mau como se pudesse pensar, porque ele definitivamente também estava pensando na esposa, e na dor que ela enfrentaria dali para frente. Obviamente se divorciariam em breve, já que não havia mais motivos para ficarem juntos, mas o que seria dela sem ele por perto? Ela ficaria bem, saudável? E ele, como ficaria sem ela? Porque, veja bem, em menos de uma semana, tinha se acostumado a jovem, e sentia um imenso apresso por ela, apesar do incômodo da aparência dela.
Por Deus! Queria uma luz sobre o que fazer. Talvez apenas não fosse o momento para se preocupar com tudo aquilo. Deveria confortar a esposa, e ficar ao lado dela o tempo que fosse necessário até que ela começasse a se sentir melhor. E se isso demorasse um pouco, ele poderia suportar. Estar ao lado dela não era nenhum grande sacrifício que não pudesse ser feito de qualquer maneira.
Esperou por ela por mais de uma hora, e quando a viu descendo junto da madrasta, ele se levantou.
— Mariane...
— Vamos esperar pelo velório, Santiago. Podemos ir?
— Claro, podemos. — concordou ele.
Ao saírem do hospital, Sara se despediu e entrou em um carro vermelho mais a frente, enquanto eles entraram no carro de Santiago, que dirigiu de volta para casa.
— Eu sei que você...
— Não precisa dizer nada. Eu entendo o seu lado, Santiago. Sei que esperava por uma coisa que não aconteceu, e que agora nosso casamento não vale mais nada...
— Mariane, me ouça. Eu quero dizer que estou aqui para o que você precisar. Esqueça o resto, por favor. — pediu ele, nervoso.
Ela assentiu.
— Desculpe. Eu só pensei que... Pensei que de certa forma você estivesse aliviado. — confessou, chorando.
O que? Não, ele não estava.
— Não, cariño. Eu vou ficar ao seu lado para tudo. Não chore, sim? — ele segurou a mão dela enquanto dirigia.
Que Deus o perdoasse por algum momento julgar deixar aquela mulher. Ele não poderia! Não faria isso de jeito nenhum, não tão cedo. Precisava dela ao seu lado. Era desesperador.
— Obrigada, Santiago. Eu achei que você fosse me deixar a qualquer momento.
Ele inspirou profundamente.
— Vamos passar por isso juntos. — garantiu o homem, soltando a mão dela.
E depois disso voltaram a ficar em silencio. Um deles, totalmente quebrado pela morte do pai, o outro confuso sem saber o que fazer.
**
O funeral de Marcus foi preparado por Sara, que se encarregou de cada detalhe, dizendo que era o dever dela, como esposa. Mariane ficou em casa com Santiago, ele a cuidando, até que fosse a hora de ir. E para a jovem, ver o pai no caixão só piorou tudo, era a confirmação, a realidade de que ele tinha morrido mesmo e não era um sonho. Havia muitas pessoas importantes da alta sociedade, a maioria empresários, colegas do homem, que era bem visto pelos amigos, assim como pela família. A todo momento estava ao lado dele Sara, que não parara de chorar nenhum minuto, a jovem conversava com o marido, esperando, de alguma forma absurda que ele fosse responder.
O enterro aconteceu numa tarde chuvosa e foi rápido. Logo em seguida todos voltaram para suas casas. Mariane tomou um banho e se sentou no sofá, vendo raios de sol pro trás dos prédios sumindo no horizonte. Santiago apareceu com um chá de erva doce para ela, que agradeceu. Ele se sentou ao seu lado, e colocou as pernas dela sobre as suas enquanto massageava-as.
— Você vai gostar de morar aqui. A empregada vem duas vezes na semana e deixa a comida pronta, aí é só esquentar no micro ondas. — informou ele.
Ela fez um careta.
— Nada disso. Vamos cozinhar todos os dias. Comida saudável. — argumentou ela, bebendo do chá.
Ele sorriu.
— Bem, se você insiste. Eu acho que isso pode dar certo.
— Vamos nos esforçar para que dê, não é? — os olhos dela cintilaram.
— Vamos sim, cariño. Então, o que vamos comer hoje?
— Vamos ver o que tem na geladeira. — ela levantou e caminhou até a cozinha.
Abriu a geladeira moderna e grande. Tinha tudo! Pegou ovos, bacon e espinafre. Faria  uma omelete.
— Precisa de ajuda? — Santiago perguntou se aproximando.
— Sim, que fique há dois metros de distância. — brincou ela.
Ele riu.
— Tudo bem, vou assistir ao show.
E foi um verdadeiro show mesmo. O modo como ela misturava os ovos, refogava o bacon e picava o espinafre fresco era bonito de ser ver. E o cheiro começou a despertar o estomago de Santiago.
— Pronto. Pode comer. — ela colocou a omelete no prato e deu a ele.
— E você? — ele olhou sem entender.
— Eu não quero comer. Por favor, não fique bravo comigo, eu só... — piscou, as lágrimas ardendo em seus olhos.
— Tudo bem. Como quiser. — ele seria compreensível com ela, o quanto ela precisasse.
Ele comeu, e adorou a comida, ficou feliz porque teria alguém cozinhando para ele comida de verdade, e claro, ele faria o possível para ajudar ela.
Pela primeira vez ele contemplou um futuro. Por que  não? Se ele não conseguia fazer sexo com ela, poderia viver sem? Quem  impediria disso acontecer?
Era um começo

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