Chega de Saudade

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Tudo parecia um sonho, Miranda ali na minha frente, falando comigo, sua voz, seus olhos azuis que tanto amava, fazendo aquele bico de desgosto e revirando os olhos quando a equipe médica entrou em peso e começou a mexer nela. Ah se ela soubesse o quanto mexeram e reviraram ela durante os últimos 6 meses. Seis meses. Eu tentei, mas foi em vão, eu chorei.

- Andrea, as meninas... Onde estão as meninas?

- Em casa, seguras e bem!

- Eu sei que sim, você as salvou!

- Você me ouvia? Você nos ouvia o tempo todo?

- Sim, eu ouvi querida. Inclusive as suas reclamações e xingamentos por eu deixar você sozinha.

Corei na hora e não segurei o riso, céus ela ouvira minhas lamúrias e minha indignação.

- Desculpa meu bem, fiquei um pouco brava no início. Mas depois com o passar das semanas eu fiquei mais calma. - Sorri de forma gentil enquanto acariciava seus cabelos.

- Espera semanas? Como semanas? Quanto tempo eu estou aqui Andrea, espera e a Runway? E as meninas?

Olhei para a psiquiatra que cuidou de Caroline e Cassidy, Miranda parecia confusa e obviamente sua noção de espaço-tempo não foi igual à nossa, a psiquiatra interveio e eu me afastei. 

- Andrea, me responda, pelo amor de Deus, quanto tempo? - Miranda estava evidentemente perturbada com a informação de semanas, mas como eu diria que as semanas viraram 6 meses?

- Meu bem, as meninas estão me casa, seguras e cuidadas por mim, Nigel e Doug, Roy, Cara por seus pais e às vezes até por Emily. Nesse momento estão na aula e depois vão sair com os meus pais, eles chegam no final da tarde.

- Os seus pais, os seus pais, Andrea? Os meus pais? Emily, Douglas e Nigel? Céus eu acho que enlouqueci. Como um simples desmaio virou isso? Eu só posso estar morta!

- Miranda, você não está morta e não foi uma batidinha. E eu acabei precisando de reforços com você estando aqui no hospital eu fiquei sobrecarregada. Você sabe que nunca tive filhos e ainda que cuidasse das meninas, eu tinha você lá para me orientar. As coisas ficaram difíceis, amor!

Miranda parecia cada vez mais confusa, ela disse que me ouvia, mas será que ela ouviu realmente tudo? Ou seu cérebro filtrou as informações que eram boas? Será que ela não percebera quanto tempo ficara naquela cama e naquele hospital?

- Você ainda não me disse quanto tempo estou aqui. - eu não sabia como falar. Parecia que não sairia.

- Andrea Sachs eu não vou pedir de novo, por Deus, me responda!

-  Miranda que você está há 24 semanas. - tentei falar calma, ela me olhou e seus olhos se arregalaram, ela estava absorvendo a situação e as minhas palavras.

- Impossível, é impossível Andrea, isso dá 6 meses... - Sua voz morreu ao fim da frase.

Miranda ficou atordoada com a informação e tentou se levantar, mas infelizmente o tempo na cama e os traumas na cabeça não ajudaram suas pernas. Ela poderia andar, mas depois de meses suas pernas estavam fracas. O seu corpo e mente ainda precisavam se conectar. 

Ela caiu e todos correram para junta-la do chão.

- Ninguém encosta em mim, não quero que encostem em mim.

- Miranda precisamos... - a enfermeira tentou se justificar.

- Saiam daqui... - a equipe médica continuou imóvel.

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