Presságio

27 23 0
                                    


  Algo que sempre me perguntei foi, como definir alguém como amigo? Seria esta pessoa alguém que também o reconheceu como tal? Alguém com você passa muito tempo? Alguém lhe beneficia? Diverte?

  No entanto, cheguei a conclusão de que esta era uma pergunta sem resposta, ou pelo menos sem uma resposta objetiva. Isto porque cada um deve criar a sua própria definição. Ficar selecionando e classificando as pessoas seria muito chato, então minha definição seria diferente, tornando tudo mais simples e talvez mais doloroso.

"Desde que não me machuque e nem aos meus amigos, qualquer um é meu amigo"

  Seguindo tal ideia fui abandonada e esquecida muitas vezes, mas isto não me desanimou, pois tinha convicção de que alguém que valesse a pena apareceria, e foi assim que conheci Sônia.

  Mas mesmo assim, após tantos anos, duas pessoas quebraram a minha regra.

  Um jovem o qual desconfio avidamente e uma menina que me ameaça constantemente.

  Após a nossa decisão de formarmos uma equipe, Alexander disse que sabia de um lugar onde poderíamos buscar informações. E como o local era em outra cidade não muito distante, preparamos suprimentos e bagagens e partimos numa viagem as pressas.

  Sinceramente, mesmo tento concordado com aquela aliança, eu estava incomodada. Os irmãos não me davam muitas informações, "sei de alguém que pode nos dar algumas informações" mas não me disseram quem é e nem onde fica exatamente. Me sentia uma aluna nova em seu primeiro dia na classe, onde os demais fazem a alienação naturalmente.

  No momento estávamos caminhando por uma extensa estrada deserta, onde haviam algumas carcaças de carros espalhados pela terra e o asfalto quente.

- Vocês garotas são tão más... andando tão despreocupadamente na minha frente, enquanto eu tenho de carregar sozinho todas essas coisas...

  Ao ouvir este lamurio desagradável eu me virei e vi o rosto suado, e com um sorriso um tanto engraçado, de Alex carregando uma grande mochila nas costas e duas bolsas em cada braço, as quais continham os suprimentos.

  Nem mesmo em uma situação dessas ele para de rir? Esse cara tem sérios problemas mentais...

- Caso não tenha percebido, eu nem cheguei a participar da "votação" de quem levaria as coisas - comentei de sarcástica, e o garoto riu - Do que tá rindo idiota?!

"Espera! Não é a Serena a defensora desse cara? Por que ela não se pronunciou e nem se candidatou a carregar as bagagens?" Foi o que eu pensei, e rapidamente direcionei o meu olhar para a menina que anda um tanto distante, a minha direita. Diferente do seu mau humor de costume, Serena estava com uma expressão vaga e distante, como se nem tivesse ouvido na nossa discussão.

  Eu realmente não ligava muito para aquela garota, pois ela brigava comigo desde a primeira vez que nos vimos. Além do fato dela ter me esmurrado covardemente. Mas estávamos numa situação diferente, estávamos na mesma equipe, e eu querendo ou não a sua cooperação poderia ser crucial no futuro. Mesmo assim, não fazia ideia de como lidar com ela.

- Err... você está bem Serena? - perguntei, tentando soar o mais amável possível, mas este não era o meu forte.

  A irmãzinha me fitou de imediato, e ficamos nos encarando por alguns segundos, mas ela não demorou a retornar a sua expressão serena.

- Estou bem - respondeu Serena, em um tom baixo que nunca tive certeza de que foi isso que ela disse.

"É óbvio que não está... mas eu já esperava isso"

  Quando uma pessoa está mal ou com algum problema, ela naturalmente irá esconder isso para não preocupar ou incomodar o interrogador.

- A propósito, Alex, afinal quem estamos indo encontrar? - indaguei, para ser franca foi só pra quebrar o silêncio - Outro incógnita?

  O sorriso malicioso de Alexander se abriu, e mais uma vez ele apenas deixou o mistério no ar. Ele adorava fazer isso, talvez por que gostasse de deixar as pessoas inquietas, como se fosse seu passatempo.

- Não se trata de outro incógnita minha bela Lilieth - falou com um tom poético.

- Não é Lilieth, é Lily!

- Estamos indo ao encontro de alguém muito mais especial do que nós.

  Não importava o quanto eu tentasse, não conseguia me dar bem com aquele cara. Como diabos poderia me tornar sua amiga?

  Mesmo que eu quisesse quebrar o silêncio e Alex causar a inquietação, foi a voz de Serena, de volta ao seu tom habitual, que nos deixou completamente perplexos. Foi quando estava prestes a dar um empurrão em Alex, com bagagem e tudo, que a menina apontou para o chão e disse:

- Olhem aquilo!

  Alexander e eu corremos até ela, e logo antes de nos aproximarmos nós pudemos ver o que se encontrava sobre a estrada marca por inúmeras rachaduras causadas pelo tempo. Diante de nós estava o cadáver de uma anomalia, estirado junto ao sangue seco debaixo de seu tronco.

- Mas oque... - tentei falar.

  Porém o que mais me espantou foi a reação dos irmãos, eles não estavam assustados e muito menos incomodados com o cadáver. Pensava que Serena seria do tipo que se esconderia atrás de seu irmão, horrorizada com aquela cena, mas pelo contrário, foi ela que se aproximou e começou a inspecionar o corpo putrefato.

- Sem dúvida alguma, não foi morte natural... o que acha? - perguntou a menina, com uma expressão séria, como se realmente fosse uma médica legista.

- Talvez uma fratura por um porrete ou mesmo o impacto de uma bala - disse Alexander ao deixar as bolsas no chão e se aproximar.

- Como você entendem tanto disso...? - indaguei ainda assustada com aqueles dois, mas mesmo sendo ignorada, eu percebi que haviam coisas bem mais importantes para serem lidadas.

- Veja!! Tem mais dois praquele lado! - gritou Serena, esticando-se com as mãos protegendo os olhos do sol para enxergar - E acho que tem um outro ali também...

"Oque são todos esses cadáveres?"

  Alexander gargalhou loucamente.

"Oque está acontecendo?"

  O garoto de preto se aproximou do corpo e tocou no sangue, e após murmurar "de fato, é recente"...

"Quem são esses dois?"

  Ele disse:

- Apenas minha intuição, mas sinto que estamos diante de um mau presságio, e próximos de mais inimigo.

Incógnitas - Anomalias do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora