Serena

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  Com o silêncio nada aconchegante daquela noite assombrada, nós nos aproximamos da mansão após deixarmos a estrada de lado. A casa era bem grande, tinha uns dois ou três andares, além de uma bela decoração com estátuas de pedra no jardim e flores que ainda floresciam. Nosso primeiro adversário foi o grande portão de ferro. Não podíamos passar pelos muros pois sob eles haviam cercas de arame farpado, a tática mais antiga contra ladrões. Cientes disso, Alex deu a ideia de fazermos uma escada humana, ou seja, um dar impulso para o outro. Como Serena era pequena, e apesar de tudo nem tão forte, eu e Alex tivemos de fazer o esforço.

  Lembrei claramente murro que levei da última vez que me aproximei daquele idiota, então para nos prevenir de mais um festival de MMA, optei por ficar embaixo e apoiar Alex. E como se fosse profissional em invasão, o garoto conseguiu de primeira e quando dei-me por mim ele já estava do outro lado do portão.

  Como seria mais trabalhoso pularmos um de cada vez, toda vez que precisássemos sair, Alexander foi procurar pela chave dentro da mansão após arrombar uma janela sabe-se lá como. E após uns 15 minutos ele retornou com um molho de chaves nas mãos e um sorriso convencido.

- Não precisam esperar mais donzelas! O herói de vocês chegou!

- Não, acho que o termo ''gatuno" refere-se melhor a você - respondi, ainda pensativa quanto ao uso de tais habilidades.

  Sem tempo a perder, nós adentramos a mansão pela porta da frente e nos deparamos com uma daquelas 'casa dos sonhos' de que alguns falam. Um grande são entapetado nos recepcionava, além de uma escadaria que se dividia em duas, seguindo para lados opostos. Foi antes de colocarmos o pé dentro mansão que senti a primeira gota de chuva cair em minha testa, o prelúdio de uma tempestade que se aproximava. Corri para dentro da casa e Alex trancou a porta.

  Nós estávamos um pouco extasiados sobre o que fazer em seguida, afinal não havia mais ninguém ali, apenas nós três. E mesmo com a dúvida e o medo ainda me atazanando, eu tive a mesma ideia que meus companheiros.

- Que tal explorarmos a casa? - sugeriu Alex, com as mãos nos bolsos e o olhar afiado como um detetive procurando por mistérios.

  Por um lado eu desejava averiguar o local, assim como eu já fizera muitas vezes desde a viagem no tempo, entretanto algo me fez mudar completamente de opinião. Ou melhor, várias razões:

1 - Nós estávamos em uma mansão desconhecida que ficava a beira da estrada, ou seja, a aparição de uma anomalia sedenta por comida ali não seria nada estranho.

2 - Já havíamos encontrado cadáveres horríveis em plena luz do dia e na escuridão da noite, então quais as chances de encontrarmos mais um ali dentro?

3 - Precisávamos descansar, principalmente eu, pois no dia seguinte prosseguiríamos a viagem. E se encontrássemos um corpo esquisito ali eu provavelmente não conseguiria dormir.

- Eu passo, estou muito cansada e já um tanto incomodada com o meu próprio fedor... - recusei enquanto observava os meus trapos de roupas, e começava a subir uma das escadas a procura dum banheiro.

- Desculpe irmão, mas também vou ter de recusar - disse Serena, que olhando melhor também parecia exausta, enquanto esfregava os olhos.

- Eu que carreguei tudo e vocês é quem estão cansadas... - murmurou Alex, irritado por ter de se aventurar sozinho pela mansão - Sendo assim, tomem um banho juntas, mesmo sendo uma mansão essa casa só deve ter um banheiro e eu também quero dormir já que ninguém vai me acompanhar.

  Alex de fato parecia uma criança as vezes.

- Como tem tanta certeza de que só há um banheiro aqui? - perguntei, e após olhar para a sua irmã e sorrir, ele me respondeu.

Incógnitas - Anomalias do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora