Capítulo três - Tobias

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Estou apavorado. Zeke aperta meu braço e diz algo que soa abafado. Minha visão fica embaçada e volta ao normal a cada trinta segundos. Ouço gritos do outro lado da sala, que me fazem lembrar o porquê de eu estar aqui e recobro a consciência. Tento me levantar mas não tenho forças. 

- Tobias, pare com isso e ajude! - grita Cara. 

- O bebê vai sair de mim, não de você! Pare com isso e chame logo Matthew! - grita Christina, apertando a mão de Cara com uma força preocupante. 

- Shauna já foi atrás dele! Mas precisaremos de um médico para o Quatro também. - grita Zeke. 

Ele ainda me chama pelo nome que conheceu e admirou, anos atrás na Audácia. Fico feliz de tê-lo ao meu lado, depois de tanto tempo, nunca pensei que dividiria esse momento com ele. Ele me solta e vai até o corredor, gritando com Matthew, que se aproxima com o médico e uma enfermeira. Muitos gritos nessa sala, certamente isso não faz bem ao bebê. E será pior ainda aos outros pacientes do hospital.

O médico pede para que Shauna, Cara e Zeke deixem o quarto. Eles saem, mas sei que estão sentados do lado de fora, esperando por nós. Vou até Christina, paro ao seu lado, seguro sua mão e logo me arrependo. Nunca quebrei um osso na nossa antiga facção, mas certamente há uma primeira vez para tudo. Ela grita muito, por muito tempo. Acho que já se passaram sete minutos desde que parei de sentir minha mão. Então, o grito fica mais baixo. E a voz muda. E não é um grito, mas um choro. 

É uma menina. Minha filha nasceu. Minha e dela.

                                                                          * * *

Quatro membros da Audácia e uma da Erudição, todos chorando incontrolavelmente, esforçando-se apenas para não fazer um barulho alto demais, não queremos acordá-la. É tão pequena e parece tão frágil, mas tenho certeza de que não será. Ela é braba, chora alto. Tê-la em meus braços me faz sentir um peso estranho. É bom e assustador, como se o mundo estivesse em minhas mãos. E sinto que realmente está. 

Christina pegou no sono, nunca serei capaz de pôr em palavras minha gratidão ou retribuir de alguma forma. Mas ela dorme sorrindo e sei que a alegria de ter feito isso por nós, por mim e pela Tris, já é o bastante para ela. 

Alguém bate a porta, Zeke abre e empurra quem quer que seja para fora, sai do quarto e fecha a porta. Olho para Shauna, que parece nervosa mas não diz nada. Deixo a bebê no berço e vou para o corredor descobrir o que está acontecendo. Quando passo pela porta, vejo Zeke discutindo com ele, tentando falar baixo e o mandando embora. Mas ele insiste, até que nota minha presença. Caleb caminha até mim, irritado e triste. 

- Como pôde não ter dito nada? Ela era minha família! Aquela criança tem meu sangue também!

- Como você soube? - pergunto, não irritado mas cansado. 

- A enfermeira que buscou Matthew às pressas por causa do parto de Christina é a mesma que realizou um procedimento em um dos meus laboratórios, há nove meses. 

- Então você usa o cérebro para algo que não envolva trair as pessoas. - diz Zeke. 

Caleb fecha os olhos, irritado e suspira, peço a Zeke que nos deixe a sós. 

-Ela era sua família mas você a traiu. Ela perdoou você, mas infelizmente não sou tão bondoso quanto ela. Eu não confio em você então não espere ter qualquer tipo de influência sob a criação dela. - digo irritado. Ele me olha confuso, certamente triste, mas há um pouco de alegria em seu olhar. 

- É menina? Posso vê-la? 

Abro a porta do quarto e entramos. Não demora muito para que Zeke entre, agora mais calmo e acompanhado de Amah e George. Logo depois, minha mãe e Matthew, que foi avisá-la. Ela me abraça e chora ao ver sua neta. 

Apesar de não ser tão apegado a minha mãe, de não ser muito próximo de Matthew e de detestar Caleb, sinto-me muito mais feliz com todos aqui. Passamos por tantas coisas, sem nem imaginar que um dia viveríamos algo assim. Mas aqui estamos, como uma família. A família da minha filha. 

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