Capítulo trinta - Tenlie

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Chego na delegacia, mais cedo que de costume, e encontro uma movimentação estranha. Alguns carros da guarda deixaram a delegacia, descubro que Zeke estava em um deles. Tento falar com Shauna, mas seu assessor disse que eu poderia voltar para casa. 

Relutante, deixo a delegacia, sem saber o motivo de todos estarem agindo estranho. Eu deveria acompanhar Zeke nas operações, mas não pude dessa vez. Escuto uns cochichos, parece que montaram uma equipe especial de investigação, Zeke e eu não somos da área de investigação. Minha maior frustração é não ter mais o trabalho para ocupar minha cabeça depois das brigas de anteontem. Pelo menos Frank não ficou com raiva, nem Marlynn, embora não os tenha visto ontem.

Chego em casa e, para minha surpresa, o carro de meu pai está estacionado na frente do nosso prédio, mas ele não está em casa. A louça está suja na mesa, uma torrada foi deixada pela metade. Quando saí meu pai ainda estava dormindo, não tinha compromisso tão cedo. 

Equipe de especial de investigação. Ou aconteceu algo com meu pai, e nesse caso não me mandariam de volta para casa, ou ele se juntou a essa equipe.

Volto para a delegacia, correndo, para tentar descobrir aonde foram. Quando me aproximo, vejo algumas pessoas de jaleco entrando e saindo da delegacia. Uma delas caminha em minha direção. Fernando. 

- Tenlie, oi. - diz.

- Agora não. - respondo tentando seguir andando. 

- Por favor! Eu não estou com raiva, só acho que precisamos conversar. 

- Sabe o que está acontecendo? - pergunto. - Sabe por que todos estão esses cientistas estão aqui? 

Fernando, contrariado por eu querer mudar de assunto, faz uma pausa enquanto pensa na resposta. 

- Viemos prestar depoimento. - responde. - Parece que roubaram um cofre de um dos laboratórios, não sei de mais nada. 

Imediatamente começo a correr, ele me segue. Saltamos no primeiro trem e chegamos no antigo complexo da Erudição em menos de cinco minutos. Como eu já esperava, vários carros da guarda estão estacionados pelos jardins e meu pai está lá, falando com Cara e Zeke. Puxo Fernando para trás de um dos carros e nos escondemos. 

- O que foi? - ele pergunta.

- Falaram que não era para eu acompanhar Zeke hoje, é melhor que não me vejam aqui. Nem você, devia estar prestando depoimento. 

Ele apenas balança a cabeça e aponta para o menor prédio do complexo. Vamos até lá escondidos, entramos pelos fundos. O prédio é todo de salas de aulas da universidade, estamos num corredor, completamente vazio. 

- O que pretende fazer agora? - pergunta Fernando. 

- Esperar eles irem embora e descobrir o que foi roubado. - respondo. 

- Podemos conversar, enquanto esperamos? - começo a andar pelo corredor, deixando ele para trás. - Tenlie, por favor!

- Você sequer lembra do que me disse? - digo, mais alto do que pretendia. Ele fica sem reação. - "Tem que ser tudo sobre a Tenlie", é isso que você pensa de mim? Esqueceu que é sempre você que diz que tudo o que eu faço está errado?!

Sigo caminhando, ele fica parado pensando no que responder. 

- Eu também erro! - ele grita. - Podemos resolver. Eu não quis dizer aquilo. Desculpa. 

Sigo caminhando, atravesso o corredor procurando por alguém em todas as salas que passo. Fernando começa a me seguir. 

- Você aceitou falar com o Frank! Nós somos como irmãos mas você se importa mais com um cara que apareceu há um mês! - ele fala. 

Paro de caminhar e viro-me para ele. 

- Você está arrependido de ter brigado comigo por um motivo bobo e ter me xingado, ou está com ciúmes? - questiono. 

- Tem razão, isso não nada a ver. Desculpa. - ele diz, mais calmo. - E desculpa ter ficado brabo, nem tentei escutar você. Meu pai me contou sobre o julgamento. Eu não sabia nada de Marcus, mas agora entendo você não ter falado sobre. 

Dou de ombros. 

- Não é o tipo de anuncio fácil, falar que é neta de um líder rebelde que te usou para colher informações e que sempre foi contra a abertura de Chicago. 

Ele balança a cabeça e estende os braços. Nos abraçamos e começo a chorar, enquanto ele passa a mão nos meus cabelos. Sempre nos implicamos, praticamente desde que aprendemos a caminhar, mas sempre cuidamos um do outro. Como irmãos fazem. Bom, pelo histórico das nossas famílias, acho que nem todos os irmãos. 

*  *  *

No meio da tarde, o complexo todo está vazio. Fernando me acompanha até o último andar do prédio principal. Entro na escritório enquanto ele me espera do lado de fora. 

- Oi, querida. Desculpa a demora, isso aqui está um caos hoje. - diz Caleb, um pouco estressado. 

- Oi, tio. Tudo bem. - respondo. - O que aconteceu? Me falaram que roubaram o laboratório mas... não entendi direito, estavam nervosos. - falo tentando disfarçar, para que ele acredite que faço parte da operação.

- Insumos. - diz ele. - Levaram os insumos para produzir os soros. 

Sinto meu estômago congelar. Preciso manter a calma e ser convincente. 

- Isso. E você está bem? Sabe se alguém se machucou? - pergunto, nervosa.

- Estou bem, só preocupado. Teremos que reconfigurar o sistema de segurança, limitar a quantidade de funcionários que têm acesso, ativar alarmes. Muitas coisas, mas vamos dar um jeito. 

Concordo com a cabeça e lhe dou um abraço. Tento esconder minha pressa ao deixar o escritório. 

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