Capítulo trinta e dois - Tenlie

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Acordo e me arrumo para o trabalho. Ao sair do quarto, dou de cara com meu pai e Gabe tomando café. 

Nervosa, vou até a cozinha esperando que digam algo, mas meu pai apenas me dá bom dia e Gabe balança a cabeça, enquanto me acompanha com os olhos. Tenho certeza que Fernando falou algo para ele, Gabe é como um detector de mentiras humano e Fernando nunca consegue mentir para seu pai. Mas parece que Gabe vai manter nosso segredo. 

Tomo meu café, em silêncio, e saio para o trabalho. 

Quando chego na delegacia, as coisas parecem estar mais calmas. Sou mandada para fazer patrulha na rua, provavelmente querem me manter afastada do caso do roubo de insumos.  

Fui mandada para um bairro mais distante do centro da cidade, sozinha. Não há muito movimento então passo duas horas sentada na calçada esperando algo acontecer, de vez em quando dou umas voltas na quadra. 

Tudo fica calmo até que vejo um caminhão se aproximando de um prédio abandonado, a duas quadras de onde estou. Me aproximo sorrateiramente, para não ser vista. Não reconheço o motorista, mas a porta do carona abre e de lá sai Julia. Ela abre a porta da garagem do prédio, de onde saem os dois amigos, que parecem mais suas sombras. 

Eles abrem a porta de carga do caminhão e começam a descarregar um monte de caixas, enquanto dois outros homens aparecem, um com uma pistola. Estão fazendo a segurança da carga. Me aproximo, com a mão apoiada nas facas em minha cintura, e chamo por eles.

- Julia! Mande eles pararem. - digo.

Ela me olha e dá uma risada sarcástica enquanto se aproxima. Seus amigos a acompanham e me cercam, agora há mais dois deles armados. 

- Ah Tenlie, a gente só quer se divertir um pouquinho. É tão chato na margem...- ela ri. 

Precisava ter mais gente comigo, estou encurralada com todos os bandidos. Torço para que Fernando me procure, ele e os outros me ajudariam. Talvez a guarda pudesse me localizar e vir me ajudar, mas acham que me deixaram segura me mandando fazer patrulha em uma rua vazia. 

- Eu tenho algumas propostas para você, Tenlie. - continua Julia com um sorriso arrogante no rosto. - São bem simples, faça uma boa escolha, está bem? 

Pego uma faca da minha cintura e aponto em sua direção, ela levanta a mão para que seus cúmplices abaixem as armas e se aproxima ainda mais de mim. 

- Abaixe isso. - ela diz tocando meu braço. 

Ela me segura pelo pulso e me guia para dentro da garagem do prédio abandonado. Seus amigos vem atrás de nós, alguns carregando caixas. 

A garagem está vazia, mas há uma porta a alguns metros. Entramos em uma sala vazia, iluminada por luzes brancas.  Há uma escada de concreto, que leva para um tipo de mezanino. Julia me força a sentar no chão, tento segurar a raiva por ter sido feita de refém. Ela se agacha a minha frente e começa a falar:

- Você tem algumas opções, não são muitas, mas tem. - ela espera alguma reação de mim, mas apenas a encaro. - Você vai pegar um soro, injetar no seu pai, fazê-lo liberar seu avô e aí entregar Marcus para nós. 

Não consigo sequer levar a sério tal proposta, e tenho certeza que as próximas serão piores.

- Não? Está bem. - ela continua. - Então você fica aqui conosco, levamos você para a margem e quando seu pai sentir falta e for atrás de você, pegamos ele também. E levamos os dois para margem. - ela sorri de novo, sinto meu corpo queimar de raiva. 

- Você esquece que eu sou policial? Vão vir atrás de mim, e eu vou ajudar a prender todos vocês. 

- Não esqueço! E por isso, tenho minha opção favorita. Você pode ir embora.

- O que? - espero ela rir ou apontar uma arma para mim, mas ela apenas se levanta. 

- Nós temos um plano muito bem elaborado. Já temos bastante soro para levar à margem, logo conseguiremos fazer todos os grupos rebeldes se unirem.  Conseguimos tudo que queríamos, agora só precisamos sair de Chicago com nossa carga. Levar Marcus seria um bônus, não uma necessidade. Você pode ir embora, liberamos você. Desde que você tome o soro da memória. 

Minhas opções são: perder a memória, trair meu pai e a guarda de Chicago, ou ser sequestrada. E o Zeke achando que me mandar fazer patrulha era a escolha mais segura. 

- Você não precisa escolher agora. Tem até a noite. - ela se afasta e sussurra algo no ouvido de um dos seus amigos. 

Ele anda até mim, me pega pelo braço e me guia até as escadas. Quando subimos, ele me empurra para dentro da salinha e tranca a porta. Estou presa e tenho apenas quatro horas até que minha vida seja destruída de alguma forma. 


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