Capítulo quinze - Tenlie

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Três semanas depois

Acordo com o ombro ardendo, por causa da tatuagem que fiz na tarde passada. Fiz os símbolos das cinco facções, lado a lado, na omoplata direita. Meu pai disse que minha mãe tinha uma tatuagem no mesmo lugar. Ter escolhido a tatuagem sem saber disso a tornou ainda mais especial, tenho mais em comum com minha mãe do que esperava. 

Vou para a cozinha, pegar algo para comer. Estou sozinha em casa, meu pai saiu mais cedo, para o julgamento de Marcus. Não o vi desde que foi preso, mas soube que ele deu algumas informações sobre os rebeldes. 

Termino de arrumar a cozinha, me visto e saio para ir ao treino. Depois de terminar a escola, precisava escolher um trabalho e decidi me juntar a guarda da cidade. Meu pai não gostou muito da ideia no começo, mas o tio Amah o convenceu. Tenho ido bem nos exames físicos, minha preocupação é que logo terei de praticar mira com armas. Sigo a pé, em direção a delegacia, que fica a vinte minutos de casa. 

- Ei! - Frank surge de repente e me acompanha pela calçada. - Por onde esteve? 

Não vi mais nenhum dos meus amigos desde que visitamos o Memorial da Revolução de Chicago. Acho que precisava de um tempo para resolver minhas coisas depois que conheci meu avô, o ajudei a se esconder e então ajudei meu pai a prendê-lo. Quando decidi qual profissão seguir, achei algo bom para focar e me dediquei apenas a isso. 

- Oi! Que susto. Por aí, eu acho... ocupada com o treinamento. 

- Treinamento? Achei que já era uma guerreira pronta. - ele diz sorrindo e mexendo a mão como se lançasse uma faca imaginária. - dou uma risada curta.

- Decidi trabalhar na guarda. Como perita, acho. Um pouco de Audácia e de Erudição. 

- Uau. Isso é bem legal. Eu acho que vou trabalhar no programa de realocação, com Christina. Ela ajudou bastante meus pais quando nos mudamos. - aceno com a cabeça e seguimos em silêncio por alguns metros. - Você ficou sabendo da festa? 

- Festa?

- É, hoje a noite. Uma garota de fora chegou na cidade e vai dar uma festa, de boas vindas, eu acho. 

- Boas vindas para ela mesma? - questiono. 

- Parece que sim. - ele dá de ombros. - Nada Abnegação da parte dela. Mas parece que ela já tinha uns amigos na cidade. - balanço a cabeça, enquanto viramos a esquina. - Você quer ir?  Seria bom ter você lá, Victória disse que precisamos convencer Shauna de que Marlynn estará seguro.

- Tá. É, acho que vou sim.

Chegamos na delegacia, paro e aceno com a cabeça para ele. 

- Nos encontramos nos trilhos. - ele diz seguindo seu caminho, e eu entro na delegacia. 

* * *

Zeke está me mostrando fichas na sala de arquivos, quando meu pai abre a porta. Seu rosto está sério e sei que é melhor eu não perguntar como foi o julgamento. Marcus é um assunto delicado. Mas Zeke não tem toda essa noção.

- E aí, Quatro! Como foi? - pergunta sem tirar os olhos da gaveta de arquivos. 

Meu pai se aproxima, apoia a mão nas minhas costas e beija minha testa. 

- O mesmo de todo julgamento, vai ficar preso por alguns bons anos. - ele me olha e para de falar. 

Zeke puxa uma pasta da gaveta e a põe embaixo do braço. Ele e meu pai se encaram e sei que meu pai precisa falar algo que não quer que eu escute. Zeke também percebe e argumenta: 

- Não pode mais querer esconder as coisas da garota, ela trabalha aqui agora. 

Sorrio, feliz por finalmente poder fazer parte da ação. Eu acabava sempre sabendo das coisas, mas sem poder me envolver. Meu pai olha para o chão e dá um sorriso curto, depois suspira e volta seu olhar para nós. 

- Marcus deixou escapar algo, sobre um outro grupo. Não disse quem são ou o que querem, talvez nem ele saiba disso. Mas parece que os rebeldes não são mais a nossa única preocupação. 

- Eles só ameaçam, mas nunca fazem nada. Relaxa, Quatro. - responde Zeke, me entregando a pasta com as fichas e deixando a sala. 

Meu pai olha para mim, desconfiado. 

- Você conseguiu o que queria, não é, metida? 

- Adoro uma boa fofoca. - respondo, sorrindo. - E acho que isso aqui é minha vocação. - digo, batendo a pasta em seu braço. 

Deixamos a sala e nos despedimos. Ele vai para a prefeitura e eu vou entregar as fichas ao escrivão, uma tarefa muito emocionante para alguém que trabalha na delegacia. 

* * * 

- Você não é do tipo que vai em festas. - diz meu pai me encarando do outro lado da mesa do jantar. 

- Eu sei, mas... sei lá, faz tempo que não saio com eles. Precisava de um tempo e acho que me isolei demais. 

Levanto, levando a louça para a cozinha. Ele lava, eu seco e guardo. Depois, vou para o quarto me vestir. Não sei que tipo de festa é, mas quase todas as minhas roupas são escuras e preto fica bem em qualquer ocasião. Pego uma calça preta, botas e uma blusa preta, de alça fina. Me despeço de meu pai, que me entrega uma jaqueta, também preta. 

- Está frio. - diz ele. 

Sorrio, dou-lhe um abraço e pego a jaqueta. Saio correndo pelas ruas mal iluminadas em direção ao ponto de encontro que eu e meus amigos combinamos há anos. Quando me aproximo, vejo as sombras de dois garotos altos, uma menina, um pouco mais baixa que eu, e um garoto muito menor que todos eles. Acho que Victória convenceu Shauna a deixar Marlynn nos acompanhar. Fico feliz e ao mesmo tempo nervosa por rever todos eles. 


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