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Tinha se passado uma semana desde o ocorrido na biblioteca e do sonho.

Os abençoados estão tentando se acostumar com o fato de terem sido abençoados e tentando adivinhar como ministram seus poderes.

Cillín queria descobrir como usar o fogo que ele tinha em suas veias. Ele conseguia sentir o calor correndo em seu corpo, conseguia sentir nas noites frias que teve a três dias atrás. Ele de alguma forma conseguiu aquecer a casa inteira ao ponto de não precisar usar as lãs para se aquecer.

Já a abençoada Aiyana, ainda não conseguia acreditar em seus possíveis dons. Na mesma noite fria em que Cillín conseguiu se aquecer, ela se molhou inteira. A água desligou do copo que estava ao lado de sua cama e a molhou inteira. Mas logo após ela sentiu um leve calor em seu sangue. Isso a aqueceu e ela dormiu tranquilamente.

Cillín tentou achar a mulher que apareceu em seu sonho. Fez um breve desenho das feições dela e colocou em um ponto da cidade em que ele sabia que pessoas de todos os lugares passavam todos os dias. Ele ia por pelo menos meio sol - meia hora - para ver se alguém sabia sobre a mulher. Ele passou a semana inteira procurando. Buscando. Investigando e não a achou.

Era noite do último dia da semana. O sétimo dia. A lua estava no pico do céu quando ele foi dormir.

Pensou em uma brasa pequena, e levantou sua mão apontando as toras que estavam dentro da lareira se acenderam. Ele pensou em uma brasa maior. E foi realizado na lareira.

Cillín estava começando a aprender sobre seu poder. Era como uma tapeçaria, ele tinha que pensar e começar a tecer. Fio por fio estava em sua mente em seu coração e ele deveria arrumar, consertar o que estava errado, fazer novos. Devia tecer seu poder. E ele estava tecendo, devagar, mas estava.

Mais uma vez o sono de Cillín foi conturbado. Novamente sentiu seu corpo estranho, mas dessa vez seu corpo estava mais preparado para o que é que a voz tinha para falar.

Cillín, não desista. - a voz continuou nova e velha. Suave e rouca.

Estou procurando mas não a acho, você deveria me ajudar. - a voz de Cillín estava novamente estranha.

Irei lhe mostrar o caminho, olhe atentamente o próximo dia. Observe. Abre seus olhos, e os olhos da mente. - a voz disse afiada.

– Irei olhar, mas dê uma dica antes, de onde devo olhar.

– Já lhe disse demais.

E foi isso, a voz sumiu e ele deslizou para as profundezas do sono e ficou lá até que o sol tenha saído completamente do céu.

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Assim que Cillín abriu seus belos olhos ele sabia o que devia fazer ou aonde deveria ir.

Se arrumou, passou pela cozinha rapidamente, pegou um pão e saiu em direção a vila. Seria lá que ele encontraria ela ou em algum lugar perto.

Apesar de ter saído correndo do palácio, ele andou tranquilamente. Como se alguém estivesse o segurando por sua jaqueta de couro. Então ele apenas aceitou.

Caminhou olhando as coisas ao seu redor.

De longe ele avistou um homem alto de cabelos loiros e cacheados arando a terra seca, tentando achar alguma raiz. Ao seu lado esquerdo ele viu duas crianças tentando colocar fogo em duas toras de madeira. As crianças tinham poucas roupas, e o clima estava consideravelmente frio. O vento soprava sem parar e isso trazia reflexos dos terríveis invernos.

Era nos invernos que muitas pessoas morriam. Não tinham fogo, nem comida. Era no inverno que os mais antigos do reino pediam aos deuses já esquecidos para que desse calor a sua cama e a cama daqueles que não tinham uma brasa de fogo.

Cillín chegou perto das crianças e teceu um fio de logo em sua mente e levantou a mão discretamente atrás das crianças e o fogo se acendeu. Imediatamente as crianças deram um sorriso tão brilhante que Cillín sentiu seus olhos lacrimejando.

Um simples ato de bondade. Um de muitos que ele e a abençoada deveriam fazer para melhorar o mundo.

Após ver que as crianças estavam se aquecendo, ele continuou caminhando. Atraindo o olhar de muitos. Talvez alguns sabiam quem ele era e outros olhavam somente por curiosidade.

Sua caminhada durou aproximadamente um meio sol, desde que ele havia saído de casa.

Sentiu algo pensando em seus ombros, como se dissesse olhe para frente. E assim ele fez, olhou para frente. E, mesmo de longe, ele viu.

Lá estava a mulher que ele tinha visto na biblioteca, que tinha aparecido em seus sonhos por uma semana inteira. Era como se ele estivesse procurando por ela. Como se fosse a primeira vez que ele estivesse vendo ela. Sentia que deveria cuidar, seguir, escutar, proteger, aprender.

Ele caminhou em frente, em sua direção.

Passou por algumas pessoas que olhavam e queriam saber dele.

Ele seguiu aquele chamado.

O calor em seu corpo aumentou. Como se estivesse sendo aquecido, foi finalmente acordado.

Em seu interior ele sentiu uma porta sendo aberta, uma janela foi aberta. Sua casa interna estava toda livre, esperando uma visita.

O sangue em suas veias corria rápido, suas pernas estavam mais rápidas.

Como ele não tinha percebido que estava tão longe dela, como foi que ele errou gravemente em calcular quantos metros estavam um do outro. Um erro besta, ele tinha sido treinado para não cometer tais erros.

Um fio da sua tapeçaria queimou esses pensamentos e inundou sua mente de possibilidades, em como deveria chegar e dizer oi.

Ele diminuiu os passos estando a sete pés dela.

Pensou em como faria para ela visitar a biblioteca.

Seis pés.

Pensou em como iria proteger ela.

Cinco pés.

Olhou para as roupas que ela usava e ela exalava humildade, inteligência e um poder imensurável.

Quatro pés.

A sua tapeçaria estava louca. Fios e mais fios se colocavam no lugar.

Três pés.

Suas mãos estavam suando, seus pés deslizavam dentro das botas, suas orelhas estavam quentes.

Dois pés.

Ele não sabia o que falar. Mas tinha que falar.

Um pé.

Assim que ele chegou perto o suficiente para ele falar e ela ouvir sem nenhum problema, ela virou.

Cillín quase caí no chão ao ver a beleza dela tão de perto.

Seus olhos brilhavam. O cabelo era de uma cor digna de reinos. Seus lábios eram tão convidativos. Ela tinha leves sardas no nariz e na bochecha.

Ele sentiu sua tapeçaria ir à loucura completa. Seu joelho fracassou e ele estava ajoelhado diante dela. Sua cabeça estava abaixada. Ele não se sentiu digno de olhar para ela, de respirar ao lado dela.

– Moço, o que você está fazendo? - a voz dela era tão suave quando firme.

A voz de uma deusa. A voz de uma mulher que poderia acolher todas as pessoas de todos os reinos em seus braços durante uma tempestade. A voz da abençoada.

Ele se levantou e olhou fixamente nos olhos dela.

E lá estava, os dons.

O fogo fervia seus olhos, o vento balançava seus cabelos. A água estava tranquila em algum lugar de sua alma e a terra estava nas mãos dela, como se ela pudesse, ali mesmo, enfiar as mãos na terra e criar milhas de vida.

– Sinto muito. Me chamo Cillín - ele estendeu a mão para um aperto - fui enviado até você.

A AbençoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora