Em um lugar bem distante do salão preto e branco onde quatro abençoados elementais observavam Aiyana segurar a mão das duas deusas para, enfim, trazer a ordem ao patamar dos poderes. Estava os demais abençoados.
Seres daquela dimensão de poder só se reuniam em casos de extrema emergência, e naquele caso, era uma emergência. Tinha se passado séculos e mais séculos da reunião em que fizeram para discutir a troca de poder entre as irmãs.
Os seres de Luz e Escuridão foram um dos únicos a sobreviverem após uma enorme guerra, restando apenas o ser do Céu, o do Mar e o das Galáxias.
A deusa do Céu é conhecida como Daila. Sua pele negra e brilhante, seu cabelo de tranças que alcançava suas nádegas. E o seu poder de raios.
O deus do mar é conhecido como Pailas. Sua pele cor de oliva, com cabelos dourados e olhos azuis como as águas que ele comandava. E o seu poder de conjurar água e tempestades.
E por fim, a deusa das galáxias conhecida como Antlia. Sua pele morena, cabelos longos e negros combinavam com seus olhos puxados. E o seu poder era o próprio brilho das estrelas e a escuridão dos buracos negros.
Todos aqueles seres/deuses reunidos em um só lugar - um salão criado na dobra do espaço tempo para realizar as reuniões quando necessário - para falar de uma pessoa, de herdeira de um legado, de um poder, a pessoa que foi incumbida de mudar tudo. Aiyana Ventlina Galaxys.
- Não sei de que maneira chegamos a esse ponto.- disse Antlia com sua voz melódica e doce.
- Ainda me pergunto como isso aconteceu, a menina tinha somente a missão de quebrar a maldita maldição e agora é herdeira de uma deusa. - disse Pailas com sua voz rouca.
- Devemos dar um jeito nisso. Nós, deuses, somos imortais e dificilmente alguém mortal vai conseguir nos matar. Sabe lá quantos milênios Solaria vai viver. - disse Antlia - Até que por fim Solaria morra, não restará nem as cinzas da coitada da Aiyana.
Para que um herdeiro de um deus ou deusa se tornasse imortal, o seu anterior deve estar morto e confirmada a morte pelos outros deuses. Daí se inicia um processo, como um batismo nas águas da juventude, poder e imortalidade. Depois disso tudo
- Vocês acham justo que, aquela menina, mate uma DEUSA? Porque, pelos deuses, ou melhor, por nós mesmo, isso é patético.- disse Pailas.
- Patético é, de fato, entretanto, o que podemos fazer quando as forças de algum lugar mandam mais que nós?- disse Antlia.
- Deve haver alguma maneira, alguma coisa para fazermos.
Enquanto Antlia e Pailas discutiam sobre o quão patético é uma abençoada matar e tomar posse do reinado, Daila pensava em uma forma de reverter esse contra tempo. Ela recorreu a memórias e livros já lidos de muitos e muitos séculos atrás. Sua mente vasculhava cada prateleira mental de seu interior. Lhe apareceu aprendizados de poções, como acabar com reinos, como transferir dons, como ressuscitar alguém, como roubar dons e poderes e vários outros conhecimentos.
Dentre os deuses ainda vivos, Daila é a que mais estuda, lê livros, busca o conhecimento esteja onde estiver.
O silêncio que a deusa portadora dos raios está fazendo chamou a atenção dos demais portadores de poderes.
- O que te passas Dali?- perguntou Palias com sua voz não passando de um ronronar.
A séculos atrás, muito antes de se tornarem seres tão poderosos, o coração de Palias batia ardentemente por Daila, as pupilas dilatavam, o sangue circulava mais rápido e todos os sentimentos de alguém apaixonado. Até que um dia Daila morreu. Palias sentiu a dor mais forte do universo. Seu corpo e sua mente doíam por ter sido tão covarde ao ponto de não dizer " eu te amo " para ela. Dois anos haviam se passado da morte de Daila quando uma guerra aconteceu na fronteira dos reinos antigos, e nessa guerra Palias morreu.
Quando sua alma chegou aos prados verdejantes ele viu Daila brilhando e mostrando pequenos raios a alma de algumas crianças ali. E ele soube que, mesmo que nada afetivo acontecesse, estariam ligados por toda uma eternidade.
Antlia observava a ' amiga ' pensar. Palias apoiava seu rosto nas mãos e também observava ela pensar.
Segundos se passaram e ela nada falou
Minutos se passaram e ela nada falou.
As horas passaram e um brilho nos olhos de Daila fez com que os outros dois despertassem do eminente sono.
- Já sei o que podemos fazer.
Daila começou a falar tudo aquilo que seus pensamentos haviam reunido. Tudo que sabia de seus lábios fazia sentido, passava a certeza de que daria certo.
- Deixe Aiyana fazer o que tem em mente, é possível.- disse Daila.- Deixe ela mudar o mundo, quebrar toda maldição. Deixa tudo que está escrito nas estrelas e nos grãos de areia acontecer. E quando ela achar que tudo está em ordem, nós traremos a verdadeira ordem ao mundo.
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A Abençoada
FantasyIndicado ao Wattys 2021. Uma maldição foi jogada por toda terra há 250 anos atrás. Um mundo que era florido, com alimento para todos, água abundante foi resumido a dunas de areia, alimentos mínimos, pequenos córregos de água doce. As brigas, guerra...