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Havia se passado dias desde que Aiyana tinha se conectado ao seio de seu poder. Ela mergulhou em toda escuridão, e foi novamente abençoada com o poder forte da Escuridão.

Todos abençoados se preparavam para a quebra da maldição que há tantos anos foi jogada no mundo.

A voz tinha entregado a Aiyana e seus companheiros um livro cheio de canções que deveriam ser usadas para ajudar no ritual. Uma delas era um Sonata ao Luar. Canção tocada no piano e em um instrumento de cordas, junto a canção deveria ser proclamadas palavras de um idioma criado enquanto ainda existia somente a Luz e a Escuridão vagando pela terra.

Durante os dias que os outros quatro abençoados fortaleceram seus dons, Aiyana estava aprendendo as orações. Cada uma delas tinha um significado, algumas para desfazer amor, outras para trazer o amor. Algumas para matar, outras para trazer a vida. Somente nas últimas páginas do livro ela encontrou o que realmente interessava. Oração para quebrar maldições.

Ela iniciou a leitura.

Faço esta oração para que se quebre tudo aquilo que foi amaldiçoado.

Proclamo essas palavras para que nada ainda viva do passado.

Digo essas coisas para que abra os cadeados a muito tempo trancados.

Que as correntes sejam quebradas e ao mar atiradas.

Que as deusas possam ouvir meu pedido, que toda maldição seja quebrada.

Se com as palavras não conseguir, que minha vida seja levada, e eu possa ser o sacrifício para que tudo volte a ser como era.

Que haja luz e amor. Que a escuridão não seja perturbadora. Que tudo seja belo e sagrado. Que minha vida esteja ao lado.

Agora tudo seja quebrado, refeito e arrumado.

Os pelos do corpo de Aiyana estavam todos eriçados ao fim da leitura da oração para quebrar a maldição. Ali ela entendeu que não era uma simples menina que havia sido abençoada por seres poderosos somente para ser boa, ajudar as pessoas, e mudar um ou duas coisas do mundo. Ela teria que dar sua vida.

Talvez ela não fosse tirada imediatamente, mas um dia seria. Se não foi ontem, pode ser hoje, ou será amanhã.

Ela se levantou da cadeira que estava sentada o dia inteiro. Seu corpo ainda doía por conta do aumento no ritmo dos treinos, mas era a sua mente que mais estava pesada.

Aiyana se sentia quebrada. Tinha um mundo em suas mãos, e jamais teria a oportunidade de viver em paz. Ela sentia no fundo da sua alma que iria morrer ao quebrar a maldição. Mas ela queria tanto viver, queria conhecer os outros reinos, queria desvendar os possíveis mares, queria se apaixonar e dar netos a sua mãe.

As lágrimas começaram descer do rosto de Aiyana, e não havia ninguém ali para lhe dizer palavras bonitas e reconfortantes. Era somente ela, olhando o céu alaranjado devido ao pôr do sol. Era ela e a escuridão que agora vivia agarrada aos seus calcanhares.

Todos os abençoados estavam se preparando para realizar tudo na próxima lua cheia, a exatos três dias.

A canção seria tocada, ela estaria recitando a oração e entregando a sua alma nas mãos das deusas. As mesmas deusas que lhe deram a vida e os dons seriam as que lhe tirariam a vida e os dons.

Todo seu corpo pedia para se deitar, esquecer tudo que devia fazer, se deitar e apenas dormir. Queria novamente o silêncio em seu interior, queria novamente não ter a responsabilidade nas costas.

A AbençoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora