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A noite caiu em Nebulos e a lua brilhava no céu escuro. Seguindo a orientação da lua e o silêncio das pessoas da vila, eles estavam no meio da noite.

No horário marcado pelos deuses.

No horário em foi predestinado para Aiyana. E la estava ela, apenas esperando seus batimentos cardíacos se acalmarem.

Ela suspirou. Em um de suas mãos tinha a adaga, e a outra mão estava aberta pronta para ser cortada. O chão ja estava com as marcas do ritual, falava apenas o sangue.

Ao redor, os outros abençoados e o deus observavam Aiyana. Todos mandavam ondas de seu dom para ela, ou melhor, lhe mandava forças.

Ela suspirou de novo.

Ergueu a adaga e cortou sua outra mão. O sangue escorria e sem mais delongas ela começou a marcar o chão, a selar. Aiyana só esperava que tudo desse certo, que nada de errado acontecesse.

– Que meu sangue seja a ponte para o selamento dessa marca.- disse ela enquanto pingava seu sangue na terra.- Que ninguém entre, e eu só saia quando a maldição for quebrada.

Uma luz vermelha como sangue começou brilhar na areia, e aquele era o sinal de que ela estava presa dentro do círculo, aquele era o sinal de que deveria começar o antigo idioma. Aquele era o sinal para quebrar a maldição.

O dom da luz começou a cicatriz o corte na mão da abençoada e herdeira.

Ela suspirou novamente e naquele momento fez com que seu dom da escuridão e da luz se misturasse. O dom da terra, do ar, da água e da brasa de misturaram também. Aiyana juntou todos, criando uma esfera de dons brilhante e pesada.

A esfera flutuava a frente de Aiyana.

Uma lágrima involuntário desceu de seus olhos, ela deu uma última olhada para seus amigos que ainda lhe mandavam forças e balançou a cabeça.

Ας σπάσει η κατάρα, ότι ο κόσμος ξεπαγώνει, ότι η αγάπη είναι ισχυρότερη και ότι ο θόρυβος επιστρέφει όπως ήταν.

Aiyana suspirou e proferiu as palavras para quebrar a maldição.

– Que a maldição seja quebrada, que o mundo descongele, que o amor seja mais forte e que a cor volte como antes.

Ela jogou a esfera para cima e um clarão cobriu o céu.

A noite virou dia. O tempo parou. Aiyana caiu no chão. Em algum lugar do universo um cadeado foi aberto, correntes foram quebradas. A maldição tinha sido quebrada.

Aiyana não estava respirando.

Primeira coisa que os outros abençoados perceberam foi o chão, a grama começava nascer ali. As dunas de areia começaram se desfazer dando lugar a montanhas verdes e floridas.

O coração de Aiyana estava fraco.

Algumas dunas se tornaram cachoeiras fortes e abundantes. Rios começavam se abrir.

Aiyana ja não tinha mais batimentos cardíacos.

Árvores de todos os tamanhos, formas, espécies começaram crescer. Flores e frutos. Alimento para todos. Maçãs, laranjas, tomate. O cheiro de mata estava em todo ar.

Palias percebeu que algo estava errado. O chão não brilhava mais, o selo tinha sido desfeito e Aiyana não tinha voltado.

– Cadê Aiyana?- perguntou ele aos demais.

E ela ja não estava mais naquele plano.

Aiyana estava morta.

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Palias estava desesperado.

Ele deveria achar uma forma de ajudar Aiyana na passagem para se transformar em uma deusa, mas não aquilo.

Ela estava morta, e ele também.

Lágrimas e mais lágrimas tomavam conta de seu rosto, seu soluço podia ser ouvido por todos ao seu redor ou longe.

A grama crescia ao redor de Aiyana, a colocando em um tapete verde e macio.

Palias fazia massagem em seu peito, mas de nada adiantava. Nem um só batimento. Nem um só suspiro. Nem um sopro de vida.

Ela estava morta.

Os demais abençoados choravam.

Cillín segurava a mão de Aiyana, a mão gelada de Aiyana.

A noite ainda perdurava, a maldição estava sendo quebrada dm cada parte do mundo. A cor, os cheiros, a paz e o amor estavam sendo restaurados. As pessoas que observavam aquilo, chamavam de milagre, mas uma vida tinha sido trocada por tudo aquilo.

Sangue por sangue.

Uma vida pela de todos.

Uma deusa pelo mundo.

Palias observava Aiyana, serena e sem vida no chão.

Cillín ainda segurava sua gelada mão.

Rowena chorava sem parar.

Tyr se lembrava dos momentos que tiveram, e chorava.

Azura estava em estado de negação.

De nada podiam fazer, a não ser velar o corpo de Aiyana. Orar ao deuses que cuidassem de sua alma, onde quer que ela esteja.

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O sol estava nascendo. Rosa, laranja, amarelo. As cores que Aiyana tanto gostava de admirar.

Palias ainda estava ao lado do corpo dela, segurando um das mãos enquanto Cillín segurava a outra.

O som do mundo sem maldição era diferente. Os pássaros cantavam alegremente, voavam e comemoravam ter árvores para fazerem seus ninhos. As flores brilhavam e exibiam suas belas cores. O cheiro de tangerina atingiu Palias, que virou o rosto e viu uma criança puxando a fruta da árvore. As pessoas estavam tentando entender como tinha acontecido aquilo, como o mundo tinha ficado tão diferente em apenas uma noite, como tinha tanto verde, tanta comida e tanta água. A felicidade deles era transmissível.

Todos estariam sorrindo, se não fosse o momento trágico que estavam presenciando.

Algumas pessoas perceberam os abençoados ali, e correram para lhe entregarem algumas frutas quando perceberam que algo estava errado. Ali eles viram a menina de cabelos brancos inerte. E eles também choraram entendendo como tudo aquilo havia acontecido.

Palias chorou. Cillín chorou. Azura, Tyr e Rowena choravam.

E o silêncio reinou. Os pássaros ficaram quietos. A cor foi perdida.

Silêncio.

A AbençoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora