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Nada era mais desconfortável e frio quanto a mudança que aconteceu no interior dos abençoados após sentirem que algo estava errado.

Aiyana observava suas reações, sentindo o peso da voz em seu interior. Seus dons estavam em absoluto silêncio. Ela reconhecia aquele sentimento que exalava de seus amigos, não diria nada até que eles dissessem.

O primeiro a abrir a boca para dizer algo foi Cillín, seus olhos eram pura confusão.

– Sinto que algo foi cravejado em meu peito e eu não consigo achar uma forma de retirar. - disse ele colocando a mão no peito. – Não era para eu estar me sentindo assim, sinto que tudo vai se quebrar em segundos.

Tyr e os demais saíram do transe e não falaram nada, apenas respiraram fundo e ficaram quietos. Em um silêncio de velório.

– No momento em que parei enquanto caminhamos eu senti essa pressão, um espinho em meu dedo, uma pedra em meus sapatos, um terrível calafrio me informando que algo estava totalmente errado. - disse Aiyana.

– Nós devemos fazer algo, achar a coisa que está nos trazendo essa sensação de aperto. - disse Azura enquanto caminhávamos de um lado para o outro.

A mente de Aiyana trabalhava em várias formas de como resolver esse problema. Ela já havia sentido que algo iria acontecer, ela sentiu que deveria aprender a lutar e manipular seus dons de forma segura e correta.

Antes mesmo de sentirem o erro - digamos assim - ela já sabia que algo viria e que o mundo e todos os abençoados deveriam estar prontos. E eles estavam trabalhando no mundo, deveriam encontrar uma forma de que a transformação fosse feita em Nebulos e atingisse os demais reinos. Uma força tarefa.

– Antes de fazermos qualquer movimento em  busca disso, nós temos que ficar fortes, eu e Rowena temos que estar prontas para segurar uma espada e manipular nosso dom. Assim como todos vocês.- disse ela enquanto andava de um lado para o outro. – Nós devemos tentar as transformações da terra e tudo mais de Nebulos até os demais reinos.

– Creio que isso não seja possível. - informou Cillín.

– Por quais motivos?

– Creio que nossos dons tenham um limite de extensão. É longo, mas não chega aos outros reinos. Para que fizéssemos uma transformação a longa escala deveríamos ir a mais dois reinos. - disse ele.

– Não sei se vocês se lembram quando fizemos aquela flor surgir. - disse Aiyana – Eu desmaiei, e minha mente foi levada a um reino escuro e frio, e uma voz, a voz de meus dons, me informou que eu jamais deveria usar o dom da luz novamente, mas não disse nada sobre a Escuridão.

Aiyana vinha pensando nesse fato. Já que não podia usar a luz para transformar o mundo, usaria a escuridão para o bem. Apesar dos livros dizerem que a Escuridão era somente morte e sofrimento, ela transformaria todos esse vasto dom em algo bom. Transformaria a escuridão em luz.

– E como você irá fazer isso? - perguntou Tauriel.

– Não sei como vocês observam seus dons, mas os meus estão em baús. E o da escuridão é mais fundo que os demais, como se não houvesse um fundo, somente um início. Eu teria que me transportar para meu interior, onde estão meus dons. Quando eu estiver lá, meus dons da natureza serão mixados à escuridão. Somente a luz ficará de fora. E quando finalmente eu estiver sob controle da Escuridão benigna, deixarei ela fluir para fora transformando tudo em vida sagrada.

– Não sei se consigo confiar nisso. - disse Rowena.

– Não confio, mas é a única solução.- disse Aiyana sorrindo - Vocês abençoados devem transformar a terra, molhar, ventilar, fazer tudo enquanto eu me concentro no meu interior. E quando eu estiver pronta, vocês saberão.

A AbençoadaOnde histórias criam vida. Descubra agora