Capítulo 8

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Nicolas

Ao amanhecer com uma horrenda dor de cabeça da ressaca arrasadora, eu curiosamente me sentia menos pior do que ontem.

Assim que Charlotte voltou para sua casa minhas dúvidas sobre ter feito o certo em mostrar tudo a ela -sem esconder Grace e suas artimanhas- acabaram. Sabia que havia feito o certo e que ela não me deixaria na mão, apesar de seu visível desconforto enquanto minha decisão de permanecer com ela. 

Havia notado seu nervosismo antes de dar o veredito final e me tornar mais um tripulante do navio ''Brooklyn''.

Curiosamente não sentia que ela desgostava de minha escolha por não gostar de mim, mas pelo contrário. Estávamos criando certo laço, eu sentia isso e sabia no fundo que ela queria apenas me proteger enquanto dava. Ao menos esperava que fosse mesmo isso e não que me achasse um pé no saco.

Falamos ainda de um endereço que ela pesquisaria, era um suposto local onde havia a imigração clandestina de crianças. Mas isso ficaria para o meio da semana, pois fui mandado hoje direto para o novo emprego de fachada.

A minha mais nova parceira havia me ordenado que fizesse desse dia um bom dia, me distraísse me afogando em tudo quanto é trabalho e conversas banais com pessoas aleatórias e era exatamente o que eu planejava. Não valia a pena me remoer por culpa de Grace, mesmo que essa fosse a minha vontade.

O assunto com as crianças era delicado, era necessário um tempo que não tínhamos a perder para pensar o que faríamos, mas Charlotte ainda assim disse que cuidaria de tudo e tudo que eu podia fazer era tentar tirar Grace de minha cabeça.

Tudo estava uma bagunça na minha vida, todas as áreas eram incertas e eu não tinha nada, mas minha tosca amizade com Charlotte -se é que eu podia chamar de amizade- havia se tornado a única coisa que realmente me dava um norte, a única coisa que finalmente se solidificava nessa vida e eu não podia decepcioná-la, então lá estava eu segurando um copo de café e vestido com a minha melhor camisa social.

Precisava de novas roupas se ia embarcar nesse ramo, realmente estava desleixado.

–Olá! –Sorri para o homem da recepção que mantinha um sorriso gentil nos lábios. –Sou Nicolas Rodriguez, novo funcionário da dona Daphine, me foi falado para que eu a procurasse aqui.

–Oh, acho que o senhor se enganou. A senhorita Henderson já retornou a Paris ainda ontem. Mas espere aqui que telefonarei para o RH e o coordenador geral virá falar com o senhor. –Ele pegou o telefone da recepção já discando para o número e eu precisei controlar a vontade de revirar os olhos com mais algo dando errado.

Será possível que nada vem fácil? Tudo sempre me arruma algum problema com Charlotte. Mas por que ela não me avisou que a irmã estava em outro continente? Agora me sentia um tapado.

–Você poderia ligar diretamente para a segunda senhorita Henderson? A Charlotte. Ela saberá o que fazer. –Tentei manter meu sorriso gentil quando o homem me olhou como se eu fosse louco. Claro, ela era a vice-presidente da empresa e eu era um rapaz que acabava de iniciar. Que clichê.

–Na verdade não. –Ele disse como se fosse a coisa mais lógica. –Ralph? –Ele voltou sua atenção para o telefone. –Tem um rapaz aqui procurando a senhorita Daphine, disse que é o novo funcionário dela, o que devo fazer? – Ele se calou por um momento enquanto recebia ordens.

Por incrível que pareça, mais uma vez um Henderson passava pelo hall bem no momento em que eu precisava, mas dessa vez não qualquer Henderson, o pai, Anthony Henderson estava dando passadas apressadas em direção ao elevador com um terno chique e caro, o cabelo muito bem penteado para trás e uma maleta em mãos.

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