Charlotte
–Eu levo você para lá. Podemos conversar no caminho. –Parker declarou e eu ponderei.
Eu poderia ir com ele e ouvir mais ou ir com Zach.
Zach!
Mas ainda sim, não consegui evitar. Estava curiosa demais. Assenti calada para Parker e ele começou a caminha, suponho que para o carro dele e eu o segui.
–Eu não sei como tudo começou, nunca soube, por todos esse anos eu procurei e nunca descobri –Ele começou a contar enquanto olhava para seus pés. Me sentia enjoada, enojada de tudo aquilo.
Era horrível não lembrar de nada daquele jeito. Me lembrava dos sumiços de meu pai, lembrava das longas noites em que fugia para dormir com minha mãe e se me forçasse, lembrava de algumas brigas deles, mas não me lembrava sobre o que eram as brigas. Eles quase nunca brigavam na minha frente e eu era muito nova para lembrar de certas coisas, fora a memória intocável que a pequena Nella criou de seus pais, fazendo a velha Charlotte duvidar de tudo, sem poder acreditar em todas as memórias e sem saber quais foram melhoradas pela cabeça infantil cheia de saudades. Até por que, que casal não brigava?
–O que eu sei é que ele se envolveu com algum esquema de drogas, foi quando ele começou a sumir. A polícia desconfiava que era alguma coisa familiar que ele tentou fugir quando passou a morar na Itália, mas não se pode fugir dessas coisas assim, você sabe –Parker pousou seus olhos em mim, como se me analisasse porque a qualquer segundo poderia desabar de novo, mas eu apenas o seguia calada tentando absorver aquelas novas informações. –As coisas ficaram estranhas, ele sumia e aparecia tempos depois. Havia armas na sua casa, sangue nas roupas e muitas vezes ele aparecia machucado também. Quando entrei na polícia federal certas coisas passaram a fazer sentido; descobri que a família de Lucas era envolvida com muitos esquemas milionários e era muito poderosa e influente em todo o mundo, mas especialmente no Brasil, de onde eles eram, não sei se você se lembra.
Acenei com a cabeça. Era fluente em português graças a meu pai. Não me lembrava da família dele, talvez nunca a tenha conhecido e desconhecia seus nomes, mesmo que soubesse seu sobrenome, mas haviam muitas famílias Albuquerque no Brasil, era quase impossível de saber qual era a minha, e como Charlotte Antonella estava morta, quem mais poderia buscar por eles? Era mais seguro não procurar.
–Bom, cada vez que pesquisava, descobria mais coisas imundas sobre a família dele e todos os esquemas no mundo em que ela estava envolvida, mas não era algo que a polícia da Itália pudesse lidar de verdade.
–Como eu nunca descobri sobre isso? Se a polícia tinha toda essa documentação... –Perguntei mas ele balançou a cabeça em negativa.
–Vou chegar nessa parte da história, calma –O homem deu um breve suspiro –Lucas se afundou nos negócios da família. Ele tentou fugir por uns anos, como eu te disse, mas acabou afundando na podridão e levando Gianna junto. –Seus olhos voltaram a assumir uma escuridão. –Eram muitas coisas, Antonella... Tráfico de drogas, contrabando de armas, tráfico humano... Um império de nojeira e muito dinheiro.
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Brooklyn
Ficção GeralCharlotte Antonella Di Angelo viu seus pais serem assassinados a sangue frio em sua frente quando tinha 7 anos. Adotada por um ex-policial que teve sua vida arruinada pelo mesmo homem, a garota cresceu em treinamento para se tornar uma máquina de ma...