Resquícios

Bônus: E... Eu?

 Haise estava com aquele monte de pelúcia e não sabia o que fazer, será que eles notaram que ele estava desanimado? Porra, era aniversário do irmão dele e ele não podia ir, foi só isso. Não que estivesse reclamando, ele amava pelúcias, e lembravam do quarto de brinquedos que ele tinha quando criança.

 Bem, agora ele não tinha o que fazer, eles tinham sido bem específicos de que não havia devoluções. Ele segurou com uma das mãos as pelúcias e com a outra a garrafa de vinho de sangue.

 Tá, pode parecer que eu estava me alcoolizando e etc, mas vinho de sangue era uma garrafa de sangue com supressores que os caras do Conclhea davam para ele tomar e diminuir a fome, embora se ele não tomasse por mais de uma semana os supressores fervilhavam ai sim se transformava em álcool, já que o CCG tava pouco se fudendo se ele passava fome e mandava comida para ele praticamente a cada quatro meses. Por sorte os caras do Conclhea tinham consideração com todos do local que trabalham com ele.

 Ele se dirigiu ao seu quarto, encontrando com Shirazu na frente da porta do seu quarto, ele o olhou com curiosidade, depois acenou, com um sorriso no rosto. Eu o encarei tentando entender o por que dele estar ali, dei de ombros e entrei no meu quarto deixando as pelúcias na minha cama e bebendo mais um gole de vinho, mas ele continuou lá, encostado no batente da minha porta.

 Me senti meio nervoso sendo observado desse jeito, então eu o encarei de volta. Ficamos assim por um tempo até ele se manifestar.

 - Eu... Queria ver filmes com você... - Ele disse, ainda me encarando, sinceramente aquilo estava ficando desconfortável.

 - O que deu em vocês hoje cara... Por que diabos você quer ver um filme comigo? - Perguntei, meio irritado com toda essa gentileza repentina, eles me ignoravam até umas horas atrás!

 Ele deu de ombros, como se também não tivesse um motivo. Eu apenas deixei que ele entrasse, não perderia meus olhos se visse um filme com ele, pelo menos eu acho. Sentamos na cama, um do lado do outro, de frente para a TV.

 Liguei a TV e deixei que ele escolhesse o que quer que fosse nos programas que haviam ali, logo estávamos assistindo Operação Big Hero. Ok, ele quer ver um filme infantil, eu até gostava mas podia sentir a influência de Kishou nessa merda. Eu o olhei acusadoramente e ele apenas respondeu o olhar a altura, embora eu reconhecesse um pouco de pena ali. 

 Shirazu

 Ok, ele estava me encarando. 

 Sabia que devia ter trazido a Tooru ou a Saiko, elas pareciam compreender a mente dele e conseguiam conversar sem muitos silêncios desconfortáveis. Embora ele soubesse que precisava desenvolver esse lado com ele, mas cara, os olhos dele eram assustadores.

 Sinceramente, hoje ele não parecia necessariamente assustador, só parecia cansado e deprimido, embora seus olhos continuassem afiados como sempre. Os olhos intensos como de uma criança que perdeu sua ingenuidade muito cedo, ambos de cores diferentes, um vermelho sangue e outro cinza nebuloso, que pareciam analisar a sua alma.

 Eles ficaram se encarando até que chegou na parte que o irmão mais velho do Hyro morre e desvia sua atenção de mim e olha para a tela como se fosse um filme de sua vida. Eu notei seus olhos tremerem como se estivesse quase chorando. Achei aquilo um pouco fascinante e fofo, ele era humano afinal.

 Ele sempre estava o lutando como o demônio, cozinhando como um profissional, limpando a casa como se nascesse fazendo isso, sempre tendo respostas para tudo, seu próprio quarto (pelo que ele pode observar) era cheio de quebra-cabeças e livros. Ele parecia alguém totalmente fora de alcance, como o próprio Arima, alguém muito difícil de se ler e de se aproximar, e lá estava ele -aquele modelo inalcançável- chorando por um filme infantil.

 Era fofo, ele era fofo.

 Ele passou seu braço pela nuca do garoto e o puxou para descansar sua cabeça no seu ombro, olhou para o mesmo que o encarou por alguns segundos com um olhar surpreso e algumas lágrimas se acumulando na parte de baixo dos olhos. Logo ele voltou a encarar a televisão, mas não antes de aproximar os joelhos do peito e se aproximar um pouco mais para que ficasse mais confortável.