Nico acordou suando frio, ofegante e completamente assustado. Seus cabelos estavam grudando na testa pelo suor, ele sentia algumas lágrimas saírem e seus olhos arregalados procurando algo que ele sabe que não está lá mas que ainda deixava presença.
O Tártaro foi com certeza algo traumatizante, mas se ele soubesse que o primordial ainda o seguiria para onde fosse, sussurrando coisas em sua cabeça ele teria batido o pé e não aceitaria a proposta do pai.
Você sabe que eu te seguiria mesmo assim, me visitar só facilitou o processo. A voz disse novamente, ele bateu na sua cabeça como se estivesse tentando tirar água do ouvido. Ele nunca entendeu o que ele queria dizer com isso, ele só sabia que de alguma forma Tártaro o seguia e ele queria se livrar dele mas não conseguia.
Teve algumas vezes que tentou conversar com seu pai, mas ou ele estava ocupado ou não estava de bom humor para lidar com os problemas do filho, se perguntou se fosse Bianca no lugar, se o pai iria a atender na hora ou algo do tipo.
É óbvio que ele a atenderia na hora, você não passa de uma ferramenta para quando ele precisar de ajuda. Balancei a cabeça e grunhi, não é como se isso não tivesse passado por sua cabeça, mas ele não precisava ser lembrado que não servia de nada para o pai. Ele se levantou, não era bom sair de noite mas se ele não caminhasse pelo menos um pouco não ia conseguir dormir de novo.
Só quando precisou abrir a porta do quarto que se lembrou que estava em um apartamento a uma boa distância do chão, dividindo o mesmo com duas pessoas, que para sair ele precisava ou usar viagem nas sombras (que o faria ficar fraco e não conseguiria lutar com os monstros) ou usar a chave o que faria barulho que possivelmente acordaria um, ou com sua sorte os dois e eles o impediriam de sair.
Que maravilha, ele pensou. Talvez pelo menos uma água eu possa pegar.
Com essa ideia em mente, ele abriu a porta devagar, com o lugar escuro ele seguiu para a cozinha tentando não tropeçar em nada. Quando chegou lá, suspirou e pegou um copo, enchendo com água da pia mesmo e bebendo calmamente.
Quando a termino ouço o som de uma porta abrindo, olho rapidamente para ver Leo andando aos tropeços até a cozinha, enquanto esfregava os olhos sonolento.
- Eai. - Cumprimento, ele da um pulo para trás e eu rio baixo, enquanto ele coloca a mão no coração e tenta recuperar o ritmo cardíaco.
- Porra Nico, um aviso, só um cara. - Ele fala, se aproximando e entrando na cozinha, pegando um copo e enchendo de água. - Eai, pesadelos?
- Mais ou menos isso. - Respondo observando ele beber a água calmamente, embora seus dedos não parassem quietos na pia.
- Sonhos de semideuses... - Ele fala teatralmente. - Proféticos.
- Para mim eles só são assustadores mesmo, saber do futuro geralmente não é o que esperamos. - Falo, olhando para frente, ele ri baixo enquanto me sento na pia com cuidado para não molhar a roupa e começo a mexer os pés. - Mas eai, com o que sonhou?
Ele fica quieto por um instante, parecendo se decidir se me conta ou não. Suspirei, sabia que pesadelos eram horríveis, por isso coloquei a mão no seu ombro e escorreguei um pouco para suas costas massageando brevemente. Leo pareceu se arrepiar e tomou água nervosamente, eu costumava ter esse efeito nas pessoas.
- Minha mãe e... o dia que ela... - Ele não precisou terminar, eu sabia o que queria dizer. Suspirei de novo e desci rapidamente, me aproximando e me apoiando a pia ao lado de Leo. - O pior é que, foi num incêndio e eu... bom, olha.
Ele levantou a mão no ar e produziu uma pequena bola de fogo, brincando com ela por entre os dedos. Eu achei interessante aquilo, mas pude entender por que Leo não gostava de usá-lo, Valdez terminou o copo em um gole e o deixou dentro da pia, suspirando com a mínima vontade de voltar para a cama.
- Você devia tomar um banho, talvez um morno te faça dormir mais tranquilo. - Falei, ele pareceu sorrir, mas não consegui identificar direito pela luz. - Ou leia/faça algo feliz, geralmente tranquiliza o cérebro e deixa ele mais apto a sonhos felizes.
- Mais alguma dica revolucionária Sr das trevas? - Ele pergunta em tom de zombaria, consigo rir brevemente com isso e posso senti-lo sorrir.
- Vai logo ou eu te faço dormir na porrada. - Eu brinco de volta e é a vez dele rir levemente.
- Que violência, pensei que você gostasse de mim. - Ele fingiu-se de ofendido e eu sorrio. - Aliás cadê a Madison?
- Dormindo, diferente de semideuses cobras não tem sonhos proféticos. - Respondo um pouco mais animado.
- Ah... Queria zoar com a Pipes. - Ele brinca se fingindo de magoado novamente, eu sorrio e dou um leve empurrão no seu ombro, que ri baixo.
- Tá, agora chega de papos da madrugada, bora dormir que eu tenho que trabalhar amanhã.
- Você trabalha? - Ele pergunta levemente surpreso.
- Não realmente, eu consigo alguns bicos aqui e ali. - Respondo simples, saindo da cozinha com ele em meu encalço. Me viro para ele antes de entrar no meu quarto. - Boa noite Leo.
Ele demora um pouco para responder mas logo a resposta vem em um sussurro.
- Boa noite, Nico.
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Resquícios
FanfictionEntão, basicamente um monte de capítulos soltos das minhas historias do spirit e do Ao3. E só isso mesmo...