Filial do inferno

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Odeio esse lugar

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Odeio esse lugar.

Quente demais, cheio demais, sujo demais.

Lorena não é um dos meus lugares favoritos do mundo - era ligeiramente melhor há uns dez anos, quando o presidente Amaro Villena era o líder mais querido e carismático do Caribe, patriarca de uma família bonita, eleito democraticamente em uma ilha onde a frase "ser eleito democraticamente" parecia uma mentira.

Mas ele foi deposto, exilado, perdeu mais do que o poder no processo.

Odeio política, mas entendo quem entra nisso "por um mundo melhor". A ilusão alimenta os sonhos das pessoas; os meus já não existem há anos.

Cheguei a matar algumas pessoas em Lorena, mas nada de muito interessante - não pagavam bem, e nunca gostei de circular por aqui. Gente demais, pessoas mentirosas demais. Eu noto mentira de longe, e por isso, sei separar quem é alguém em quem posso depositar algum tipo de sentimento próximo a acreditar em suas palavras, e quem eu estou a dois passos de deixar uma bala na cabeça.

Mas estou aqui e vou ficar pelo menos por uma semana - se não achar Danielle nesse meio tempo, foda-se, tô indo embora. A semana era algo que eu devia a John, não a Danielle.

Ainda podia me lembrar de Dani explicando por que ainda sentia falta desse lixo, a filial do inferno, e não conseguia entender tamanho amor por Lorena:

- São as minhas raízes, Rico. Raízes. Meus pais vivem lá, meus irmãos estão lá, a compreensão de que eu sou, meu lugar, está lá. Se nada der certo, Lorena e minha família são meu colo. - ela respondia, ajeitando os cabelos curtos e cacheados dentro de um gorrinho toda vez que nós três saíamos pra comer em Londres.

Dani era fácil de conversar. Por isso John se apaixonou tão rápido - e eles tinham algo em comum. Mesmo John não tendo mais família, ele tinha raízes. Era inglês, foi criado em Liverpool, torcia para o time local, ficava gritando "You'll Never Walk Alone" enquanto eu revirava os olhos.

Não sei quem eu sou. Não sei de onde eu vim, minha história. Eu me lembro de mim, de verdade, quando tinha oito anos, e um matador de aluguel chamado Montero me pegou, no meio da rua, comendo restos, e disse que me tornaria como ele.

Deixei de ser bicho para ser alguém.

Ele me ensinou tudo - desde como atirar, táticas de guerra, luta; até mesmo o básico para sobreviver como uma pessoa normal: educação, saber falar outras línguas, usar o garfo e a faca, mijar e cagar no lugar certo. Eu era a porra de um cachorro, só faltava dar a pata e latir.

Montero me transformou em um homem, um assassino, e o melhor.

Mas minha missão aqui não era de morte. Danielle morava em Lorena, a capital e definitivamente a pior cidade da ilha.

Aparentemente, ela morava com os irmãos - eu não sei se os pais estavam vivos na época que ela voltou para cá, mas Danielle sempre falou dos três irmãos: um, professor de química, o outro policial, e o terceiro era dono de um bar e restaurante. Decidi então ir atrás da casa onde ela vivia, um local escrito nas correspondências que a família de Dani mandava pra ela em Londres.

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