Eu moro em uma casa que fica a alguns metros da praia. Há um pequeno muro para quem vê a casa pela praia, mas não dá pra chegar porque a construção foi feita em um elevado – então o máximo que você vê é uma parte da parede e o telhado.
Do lado de dentro, a gente vê tudo: a praia, o pessoal jogando bola, o som do arrocha que Des adora, além das crianças, que ficam dançando aquele barulho horrível – uma dança meio desengonçada, a outra balança a cabeça animada.
É um bebê.
Essa não era mais a mesma casa que eu morava quando fui embora do Brasil para visitar John em Londres. Seria, mas descobrimos que Destiny estava grávida lá no México, e entendemos que minha casa um pouco pequena para ter duas crianças convivendo juntas; por isso, eu decidi procurar outro lugar que atendesse nossas necessidades.
A casa era perfeita, porque de um lado, ela tinha entrada para a rua, com uma varanda larga. Colocamos algumas cadeiras, fiz uma pintura bonita na frente, meio amarela, Des ajeitou o jardim e nós abrimos um restaurante.
Sim. Um restaurante.
O nome era "Casa de Rico", o pior nome é possível, mas Des achava maravilhoso e dizia que ia pegar – por que questiono as decisões de minha mulher... Quem cuidava da cozinha era eu e uma senhora, dona Joaquina, moradora da vila, cozinheira de mão-cheia. A gente não queria fazer alta gastronomia, era mais comida local. Feijão, arroz, bife, dona Joaquina cuidava da comida baiana toda sexta-feira... Então o "Casa de Rico" tinha muitos turistas e moradores da vila como fregueses, e nossa preferência era abrir o restaurante apenas pela manhã e o começo da tarde, tanto nos dias da semana quanto nos finais de semana. A gente fechava mais ou menos umas 15h, porque depois era hora de ficar com as crianças.
Cassandra era incansável: ela corria tanto pela varanda do restaurante, quanto pelos fundos, gritando e berrando e sabendo que eu iria buscá-la.
- PAPAI! PAPAI! QUELO BLINCÁ DE PEGA!
- Depois, princesinha, tenho que trocar a fralda de sua irmã!
- QUELO TLOCAR A FLALDA!
- Então venha... – e resmunguei pra mim mesmo: - Podia trocar também no meu lugar, Cass, que nojeira o uso dessa fralda...
Leti era a nossa bonequinha, muito calma e tranquila, provavelmente tem a minha personalidade. Cass é vibrante como sua mãe, Leti é mais calada, e só se manifesta quando quer pedir colo, o peito, ou ouve aquelas músicas pavorosas, ou quando Cass aparece para brincar com ela.
Ela já nasceu no Brasil, e foi o nosso recomeço. Foi Destiny quem escolheu o nome, "Letizia", porque aquele era o nome dela, parte da história que não poderia ser apagada. Mas ela não se via mais com aquele nome.
- PAPAI, QUELO TLOCÁ A FLALDA!
- Princesinha, não grite porque a mamãe tá-
- QUELO TLOCÁ!
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Destiny
RomanceRico é um assassino profissional que viaja até a ilha de Lorena, no Caribe, para buscar a mulher de seu amigo - que em seu leito de morte, pediu a Rico que cuidasse de Danielle. Porém, Dani está morta, e o que era uma busca vira uma missão de ving...