cinquenta (fim)

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EPÍLOGO

CINCO MESES DEPOIS

Eu tive que voltar para casa depois de um tempo fora e, por mais incrível que parecesse, todas as energias ruins da minha casa estavam lentamente desaparecendo.

Minha mãe estava cada vez mais receptiva comigo. Não sabia se era por causa do medo de abandono ou porque a terapia estava mesmo funcionando. Eu esperava que fosse a segunda opção.

E eu não visitei o meu pai na cadeia. Ainda não estava pronta para isso. Talvez um dia eu estivesse, mas por enquanto não.

Ainda não.

Eu achava que tudo bem. Minha psicóloga - sim, eu estava finalmente fazendo terapia - disse que não precisamos perdoar tudo na hora. Levamos o tempo que precisamos levar.

E eu estava finalmente entendendo o que isso significava.

Eu estava levando o tempo que precisava para me curar de todas as feridas que ele deixou. Tirando isso, a faculdade era tudo que eu imaginava e mais. Tinha novos amigos e sempre que conseguia saía com eles. Estava me dedicando ao máximo porque, afinal, dessa vez eu não era a garota rica e sim a bolsista. Tudo era diferente, mas eu estava gostando. Muito.

Ainda faltava algo em mim, contudo. Às vezes eu escutava uma música que despertava uma antiga memória ou apenas uma palavra fazia isso. Era estranho, mas eu tive que aprender a lidar com essa falta de algo constante na minha vida.

Mas, como eu sempre fui meio impulsiva, decidir ir atrás da antiga casa de Cole só para ver como estava.

Seu pai estava preso e eu sabia, mas queria poder me sentir perto dele pelo menos mais uma vez. Estava tudo igual, mas havia um anúncio de "vende-se" no gramado. Eles realmente estavam dando adeus àquele capítulo de seus vidas. Eu estava muito feliz por isso.

- Você tá me perseguindo? - ouvi uma voz do meu lado que me fez pular de susto.

Tive que colocar a mão no coração para garantir que ainda estava viva e abri os olhos apenas para ver o dono dos meus sonhos rindo da minha cara.

Cole Sawyer estava na minha frente, segurando uma caixa vazia e parecendo que ouvia meus pensamentos. E, porra, ele estava tão bonito como nunca. Seu cabelo estava maior, mas sua face era a mesma.

E pensar que eu quase esqueci a intensidade daqueles olhos verdes.

- Jesus. Você me assustou.

- Me desculpe, mas eu fiquei assustado antes ao te ver aqui - ele continuou sorrindo. - O que você está fazendo parada na minha porta?

Eu parecia uma louca que não o esqueceu se respondesse a verdade.

Bom, talvez eu realmente fosse isso.

- Eu vim para o feriado e quis ver como estava a sua casa - dei de ombros, mas sabia que eu parecia uma lunática. - Ok, pode me julgar.

- Você trouxe seu binóculo também? - ele riu.

Eu tive que rir junto. Meu Deus, como eu sentia falta daquilo.

De nós dois.

- Para a sua informação, Sawyer, não, eu não trouxe - respondi, sorrindo. - Mas foi quase. O que você tá fazendo aqui? Não deveria estar em Nova Iorque?

Ele mexeu a caixa em seus braços e depois deu ombros.

- Precisava pegar mais algumas coisas antes da venda da casa - explicou e eu assenti. - Mas foi uma coincidência te ver. Uma boa coincidência.

Meu coração deu um pulo irritante ao ouvir aquilo. Ele ainda sabia que palavras dizer para me fazer derreter.

- Sim, foi mesmo - não consegui não sorrir.

Cole continuou me encarando em silêncio. Eu queria saber se ele ainda pensava em mim como eu pensava nele. Queria saber se já havia encontrado outra pessoa, por mais que aquilo ainda doeria em mim. Queria saber de tudo sobre ele, porque ele continuava sendo tudo que eu queria.

Eu estava conseguindo me amar mais, aos poucos, claro. Conseguia viver com a minha própria companhia e muito bem sozinha. Mas eu sabia que a falta de Sawyer era apenas porque o que vivemos foi intenso o suficiente para me adicionar tudo que eu queria.

Não me completar. Mas me adicionar.

- Sabe, eu testava pensando... - falou. - Acho que começamos com o pé errado na nossa relação.

- Pé errado? - ergui uma sobrancelha.

- É - ele continuou sorrindo. - Bom, começamos namorando antes mesmo de nos conhecermos. Foi tudo errado desde o início.

Dei uma risada, pensando sobre aquelas palavras. Nunca pensei que um namorado falso traria tantas consequências, isso era um fato.

Mas, como uma das consequências foi Cole Sawyer, eu faria tudo novamente.

- Ah, sim - concordei. - Se tivéssemos nos conhecido e depois namorássemos teria sido bem mais fácil.

Ou não. Mas era bom sonhar.

- Talvez podíamos começar de novo - sugeriu e eu franzi o cenho.

- De novo? - comecei a ficar estupidamente nervosa com aquelas palavras.

Aquilo significava que poderíamos tentar novamente? Ele estava pronto para me dar uma chance?

- Sim. De novo.

Abri o maior sorriso que consegui. Eu gostava muito daquela ideia.

- Bom, sendo assim - falei, estendendo uma mão para ele junto de um sorriso. - Eu sou Lydia Carpenter. Prazer em te conhecer.

O sorriso de Cole aumentou e ele equilibrou a caixa na outra mão para tocar na minha. Seu toque continuava sendo eletrizante.

- Eu sou Cole Sawyer - meu sorriso só aumentou quando eu soube o que ele falaria. - Mas você já sabia disso, certo?

Só FingindoOnde histórias criam vida. Descubra agora