Jughead
Quando algo começa, você geralmente não tem ideia de como vai terminar.
Às vezes, a casa que você ia vender torna-se seu lar, e os colegas da escola que um dia somos obrigados a aceitar, tornam-se a nossa família. Ou, quem sabe, a "ficada da noite" que você estava determinado a esquecer, torna-se o amor da sua vida por duas vezes consecutivas.
Estou aqui, no outro lado do quarto, os olhos perdidos entre as páginas de um livro, mas minha atenção está totalmente voltada para ela.
Seus cabelos loiros e compridos estão soltos em cascatas por suas costas, enquanto ela forra com lençóis novos o leito extra que solicitamos. Ela está silenciosa, mesmo que há uma hora atrás, na frente de Cole, ela tenha brincado, sorrido bastante, contado histórias infantis, fingindo que está tudo sob controle, até enfim o colocarmos para dormir. Mas agora que o pequeno parecia em paz dentro dos seus próprios sonhos, Betty se emudeceu.
Prefiro não insistir. Eu sei que são muitas as informações que eu mesmo ainda estou digerindo. Mesmo assim, algo no fato de ela não me olhar nos olhos, me preocupa. De todo modo, não preciso que ela diga em voz alta as coisas que eu já sei. Eu entendo que, no fim das contas, tem algumas coisas que você apenas não consegue não falar. Algumas coisas nós não queremos ouvir, e outras coisas que falamos por não conseguirmos mais nos silenciar. Algumas coisas são mais do que você diz, elas são o que você faz. Algumas coisas você diz porque não tem outra escolha. Algumas coisas você guarda só para si. E, não muito frequentemente, mas de vez em quando, algumas coisas simplesmente falam por elas mesmas. Essa é uma dessas situações.
Se eu não conhecesse Elizabeth Cooper, eu não diria que posso traduzir o seu silêncio.
Eu fecho o livro, tirando o óculos de leitura e passando a mão pela barba, segurando-me para não tocar no assunto. Sei que algumas guerras nunca terminam de verdade. Algumas acabam em tréguas desconfortáveis, como a nossa. Algumas guerras acabam em esperança, outras resultando em completa vitória, mas definitivamente, nenhuma delas é comparada a guerra mais assustadora de todas: aquelas em que você ainda precisará lutar.
Betty
Um dia desses li em uma matéria que em reuniões, homens têm uma chance 75% maior de falarem do que mulheres, e quando uma mulher fala, é cientificamente provável que seus colegas homens ou irão interrompê-la ou falar por cima dela. Não é porque eles são rudes. É ciência. A voz feminina é cientificamente provada de ser mais difícil para um cérebro masculino registrar. O que isso significa? Significa que num mundo onde homens são maiores, mais fortes, mais rápidos... Se você não estiver pronta para brigar, o silêncio vai te matar.
Esse é um desses momentos em que me pego na berlinda: morrer sufocada pelas minhas palavras, ou falar coisas das quais irei me arrepender depois? As pessoas pensam que querem sempre a verdade, mas será que realmente querem? A verdade dói. Às vezes nós dizemos a verdade porque ela é tudo que temos pra dar. Às vezes nós dizemos a verdade porque nós mesmos precisamos ouvi-la. Às vezes nós dizemos a verdade porque não conseguimos sustentá-la sozinhos. E, às vezes, dizemos porque é tudo que devemos a alguém.
— Você está quieta. — ele fala, finalmente, fazendo um arrepio percorrer minha espinha. Ele não se aguenta, eu o conheço o suficiente para saber disso. Jughead puxaria o assunto, de uma forma ou de outra.
— Estou... Pensando. — respondo, virando-me de frente pra ele e me encostando na bancada, enquanto assisto Cole dormir. O quarto está imerso na meia-luz do abajur de canto, isso torna a situação mais fácil.
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Daddy's little love [Bughead]
FanfictionApós oito anos morando em Chicago, Betty se encontra sem saída e decide voltar para sua antiga cidade, Riverdale, disposta a reabrir o velho jornal da família e conseguir estabilidade para ela e para o pequeno e neurótico Cole, seu filho de seis ano...