12. Confissão [revisado]

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Betty

A campainha ressoa por todos os cômodos e me dá um susto. Não sei há quanto tempo estou na banheira, mas sei que tomei meia garrafa de vinho e que minhas mãos estão enrugadas. Combinei com Verônica às nove da noite e ainda são sete e quarenta. Tenho tempo.

A campainha toca mais uma vez e eu bufo irritada, me perguntando quem é o bendito ser humano que ousa interromper meu momento de sofrer em paz. Me enrolo numa toalha, enquanto prendo os meus cabelos em um coque alto. Calço as pantufas e faço uma corrida até as escadas, descendo com atenção para meu corpo molhado não gerar um tombo em meio aos degraus bem vernizados. 

Ouço a campainha ressoar pela terceira vez e rolo os olhos, irritada. 

— Você está morrendo aí fora por um acaso? — berro, enquanto traço uma corrida até a porta.

Porra, tá frio pra caralho aqui! — ouço uma voz conhecida gritar em resposta e tão logo meu coração me sabota. Não pode ser.

Destravo a maçaneta com rapidez e quando abro a porta vejo um Jughead ensopado parado sob o batente.

— O que você está fazendo na minha casa? — pergunto a ele, ríspida, mas o vejo me lançar aquele sorriso de lado e passar os dedos longos pelo cabelo molhado. 

— Eu estava no Inferninho tomando um whisky com o Archie e...

— Bom saber que o médico do meu filho está enchendo a cara por aí.

— Ah, vamos lá, eu não estou de plantão.

— O que você quer? — pergunto mais uma vez, sentindo um arrepio quando o vento forte transpassa nós dois.

— Nós precisamos conversar, não acha?

— Não. Eu não acho.

— Olha, tá frio pra caralho aqui! Você poderia, por favor, me deixar entrar?

Avalio sua expressão. Dou passagem para ele entrar no hall e fecho a porta atrás de nós, voltando para o conforto da casa aquecida. Os respingos da sua roupa molhada criam pequenas poças no tapete e vou até os armários, pegando duas toalhas e estendendo para ele.

— Atrapalhei seu banho? — ele pergunta, lançando um olhar sedutor em minha direção, e só então me lembro de que estou vestindo apenas uma toalha de banho. Nada bom.

— Atrapalhou sim, e a não ser que você tenha um motivo muito bom para estar aqui...

— Cole está doente. — ele diz, de repente, me cortando.

— Eu sei, mas como os malditos exames só ficam prontos amanhã...

— Gosto dele. Me preocupo com ele. E me preocupo com você.

— Onde você quer chegar, Jones?

Jughead dá dois passos em minha direção e sinto minha boca ficar seca. Meu coração pulsa tão rápido que tenho certeza de que ele me escuta agora.

Dou dois passos para trás e me deparo com o armário. Estou encurralada e ele olha para mim como um predador encara sua presa. Confesso que senti falta desse olhar.

— 'Tô com saudade. — ele diz, de repente, tomando meu fôlego e minha voz.

Tem uma lista de perguntas que quero, mas nunca vou fazer. Tem uma lista de perguntas que reviro na cabeça sempre que fico sozinha e meu pensamento não se segura. O que será que ele acha que acontece com o amor que foi deixado para trás quando dois amantes se abandonam? Quão triste ele acha que fica o amor antes de morrer? Será que morre ou ainda existe em algum lugar esperando por nós quando mentimos um para o outro dizendo que era para sempre e partindo? Qual dos dois sofreu mais? Eu me quebrei em mil pedacinhos e os pedaços se quebraram em mais mil até esfarelar e virar pó e não sobrar mais nada além de silêncio. Então eu queria que ele me contasse como sentiu o luto, quando seu choro virou lamento... Como que ele fez para manter os olhos abertos sabendo que eu não estaria mais do outro lado?

Daddy's little love [Bughead]Onde histórias criam vida. Descubra agora