18. Quando a verdade vem a tona [revisado]

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Jughead

Não sinto a cama quente sob meu corpo, nem as lágrimas se acumulando embaixo dos meus olhos. Tudo o que sinto é um buraco no peito. Sinto enjoo. Tateio ao redor, sem saber o que estou buscando com as mãos, talvez procurando algum tipo de alívio.

— Jughead... — Betty começa a falar, mas nesse instante não consigo amá-la.

Como ela fora capaz de esconder que tivera o meu filho todo esse tempo?

— Eu... Eu tentei não ficar paranóico, sabe? — digo a ela, em meio as lágrimas, me levantando da cama e vestindo minha cueca, enquanto o pequeno pedaço de papel rasgado continuava em minhas mãos — Eu tentei ignorar as semelhanças, as coincidências... Tentei digerir e entender o fato de você ter ficado grávida menos de um ano depois de fazer o aborto do nosso filho, mas... No fim, era ele. Você falsificou a certidão de nascimento dele... Você... Você deixou que ele crescesse sem que eu o conhecesse.

Betty semicerrou os olhos, tirando a toalha e enrolando um roupão felpudo sobre o corpo.

— Eu... Pretendia te contar. — ela diz, friamente.

— Quando? Da próxima vez que fossemos pra cama, ou quando eu dissesse que eu te amo? Elizabeth, você viu que eu me senti próximo ao garoto e... Como teve coragem?

Vejo Betty arregalar os olhos por um instante e depois dar um sorriso irônico, aproximando-se de mim. Seus movimentos são friamente calculados e eu conhecia esse seu lado. Ela vinha pro ataque.

— Você acha que pode agir cheio de afirmações sob meu teto? Como se suas teorias fosse verdadeiras e você fosse o pobre paizinho que foi privado do filho? Você é um idiota, Jones. Um idiota por me dizer tudo isso. Há quase oito anos você jogou mil dólares na minha cara e disse: se vira, faz um aborto, vive a sua vida. E bom, foi isso que eu fiz. Eu vivi a minha vida. Diferente de você, eu escolhi ser a mãe de Cole. Isso não caiu no meu colo. Havia uma escolha a ser feita. Eu podia ficar ou ir embora. Eu podia fazer o aborto que você queria, ou ser mãe. E eu escolhi a maternidade. E foi a melhor escolha que eu poderia ter feito na minha vida.

Meu rosto arte de raiva pela segunda vez. É estranho sentir tanta raiva dela e mesmo assim saber que Betty está coberta de razão. Odeio essa linha tênue entre querer esbravejar minha raiva e entre ter que enfiar o rabo entre as pernas, porque ela é uma mãe incrível e criou Cole completamente sozinha. E ainda assim, eu sequer conseguia olhá-la nos olhos.

— Eu... Tenho que sair daqui. Eu não consigo olhar pra você.

— Por que? — ela indaga, ríspida, indo de encontro a porta e fechando a passagem, enquanto eu vestia minha roupa — Por que eu criei bem o seu filho? Por que ele é inteligente, amoroso, crítico e o sonho de todo pai? Por que eu dei a vida a essa criança que você nem queria que existisse? É por isso que você não consegue olhar pra mim?

Termino de vestir minha roupa e me aproximo dela, pedindo passagem. Encaro seus olhos verdes, que eu amava tão desesperadamente mesmo depois de todo esse tempo, e me pergunto como as pessoas vão tomando atitudes sem pensar em quanto machucarão as outras. Isso serve pra mim, isso serve pra ela.

— Eu jamais questionei tudo que enfrentou esses anos. Eu estou questionando a sua honestidade, a sua capacidade de ter adulterado uma certidão de nascimento só para me esconder a verdade. Não são meses, Elizabeth. São sete anos. Sete anos que você me privou de conhecer meu filho. E que garantias você tinha de que eu não queria conhecê-lo? Você sequer me deu a chance da dúvida.

— Ah é? — seus olhos lacrimejam, mas percebo que Betty está se esforçando para não chorar — Pois saiba que não precisamos de você. Nunca precisamos.

Daddy's little love [Bughead]Onde histórias criam vida. Descubra agora