13. Depois do beijo [revisado]

333 33 15
                                    

Betty

O clima tenso dentro do meu carro é perceptível para nós dois. Jughead está sentado no banco do carona, enquanto me guia pelas ruas do Lado Norte até seu apartamento (que digamos de passagem, não é muito distante da minha casa). Quando estaciono o carro em frente ao prédio, vejo que o efeito do álcool está começando a abandoná-lo, e sei que isso é culpa do chá de boldo com hortelã que lhe servi antes de sairmos da minha casa. Jughead esfrega uma mão na outra, e então levanta os olhos pra mim.

— Então... É isso? Vamos mesmo fingir que nada aconteceu? — ele pergunta, baixinho.

— Sou boa nisso — respondo de modo ríspido.

— Qual é o seu maldito problema, Cooper? Como você consegue ignorar aquele beijo? E por que?

Porque você é o pai do meu filho, idiota. E eu te amo. E tenho medo de você me partir em milhares de cacos novamente.

— Foi assim que me tornei quem eu sou hoje... Ignorando. — respondo — Agora, por favor, você pode descer? Preciso liberar a Ronnie no hospital e quero saber como está o meu filho.

Ele fica em silencio e agita a cabeça, como se estivesse se esforçando muito para não me dar uma resposta atrevida. Jughead me lança um último olhar antes de abrir a maçaneta do carro e sair noite afora.

— Nos vemos amanhã, no hospital. — ele resmunga enquanto tateia os bolsos atrás das chaves. Só depois que ele some para dentro do prédio que tenho coragem de ligar o carro e dar partida.

— Mal posso esperar! — sussurro para mim mesma.

(...)

— Amanhã temos aquela reunião super-hiper-ultra importante com a Cheryl. Ela vai assinar o contrato e assumir a coluna de moda e lifestyle. — Verônica me lembra, enquanto percorre o quarto atrás de sua bolsa. São nove e quinze da noite e Cole está imerso num sono profundo, sem febre.

— Você precisa que eu esteja presente? — pergunto a ela.

— Não, com a Cheryl eu me viro, você tem que se concentrar em ficar tranquila para os resultados dos exames que saem amanhã.

— Eu andei pesquisando a respeito — digo a ela, com o olhar perdido em direção a janela — Estou com aquela sensação de que não vai ser boa coisa.

— Independente do que seja, vamos enfrentar isso, juntas.

Sorrio abertamente para minha melhor amiga. Ela tinha o poder me deixar mais calma, mas nem hoje o "efeito Verônica" estava surtindo sobre mim.

— Ok, você está com aquela cara. — ela diz, dando um sorriso.

— Que cara?

— Lembra quando a gente tinha dezessete anos e você começou a namorar o Jones e aí vivia escondida com ele nos armários para dar amassos, mas como demorou para me contar sobre vocês dois, mentia e fingia que não era nada? Ai ficava com essa cara... De quem comeu, gostou e não quer me contar.

— Você é impossível... — respondo ela, puxando seu braço em direção aos fundos do quarto, o mais distante da cama possível — Jughead me beijou.

— O QUE? — ela grita e vejo Cole revirar na cama. Faço uma careta e belisco seu braço.

— Não faça um escândalo.

— Então me conte como isso foi acontecer.

— Eu estava no banho e do nada ele apareceu lá em casa, meio bêbado. Começamos a conversar, eu estava de toalha e aí minha toalha caiu.

— E você ficou pelada? — ela sussurrou, com um sorriso malicioso nos lábios — Peladinha de tudo?

— De tudo. Tudo!

— Puta merda!

— Pois é! E depois disso ele... Me atacou.

— Atacou? Corta essa. Você parece ter gostado bastante do... Ataque.

— Eu sei bem o que senti — respondo a ela, com um certo pesar — Ele disse que está arrependido e que se importa. Comigo e com o Cole. Talvez... Você estivesse certa.

— Eu sempre estou certa — ela sorriu — Mas fico feliz que pelo menos ganhou uns beijinhos pra começar a pensar a respeito.

Acabo por rir. E então, nos despedimos alguns minutos depois. Vou para perto de Cole e beijo sua testa morna. Tão pequeno e frágil, sem fazer a mínima ideia da loucura que era o mundo dos dos seus pais. 

(...)

Cole perdeu o sono era por volta de cinco e meia da manhã e eu só fui perceber isso quando o flagrei pulando da sua cama para a minha. Ele se aconchegou nos meus braços e segurou meu rosto com suas mãozinhas.

— Eu estou muito doente, mamãe? — ele me pergunta baixinho, me despertando.

— Ainda não sabemos o quanto, querido. Mas sim, você está doente.

— Estou me sentindo melhor agora. O doutor Jones falou que o sangue que eu recebi é seu. Obrigado, mamãe.

— Céus, você é muito inteligente e maduro pra sua idade, sabia?

— Você sempre diz isso — ele responde, escondendo a boca com as mãos, num risinho — Mãe, eu estava pensando... Eu queria conhecer o cara das sementes. Ele deve ser meu pai, não é?

Meu coração acelera tão rápido que escuto as batidas através do silencio do quarto de hospital. A luz do poste que ilumina o estacionamento está passando pela janela faz com que o rosto de Cole esteja visível para mim, seus olhos ansiosos a espera de uma resposta.

— Querido, eu não sei se é uma boa ideia.

— Mas se eu estou doente, você tem que contar pro cara da semente, mamãe.

Cole, em toda sua inocência, estava me dando o maior dos conselhos que eu poderia receber. Puxo meu filho pra perto, pela primeira vez na vida tendo coragem de ir adiante com esse assunto.

— Você gostaria de saber quem ele é, não é? — pergunto, baixinho. Cole afirma com a cabeça que sim.

— Gostaria. Queria que ele fosse legal como o Doutor Jones...

Sorri. 

Claro que ele queria. A conexão dos dois fora clara e imediata. Mesmo sem saberem que eram pai e filho, se reconheciam inconscientemente. E pra mim isso significava tudo. Eu dei ao Jones o melhor de mim. Ele me deu um filho. E agora, a cada batida do coração de Cole, sabia que era exatamente isso o que deveria ser feito.

Daddy's little love [Bughead]Onde histórias criam vida. Descubra agora