11. Ponderando [revisado]

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Betty

Estou deitada de olhos fechados na sala de doação de sangue com mais quatro pessoas. Faz vinte minutos que estou com uma agulha enfiada no meu braço, que transporta meu sangue e o transfere pra uma bolsinha ridícula, mas que ajudará com a saúde do meu filho. Sei que, algumas horas mais tarde, meu sangue estará correndo nas veias de Cole, e não existe nada que me motive mais do que isso. 

A febre de Cole melhorou durante a noite, em compensação, o cansaço e a fraqueza vieram com tudo. Jughead avisou que isso aconteceria hoje de manhã, quando chegou para seu plantão.

Passei mais uma noite acordada, pelo menos, a maior parte do tempo. Além da preocupação com o estado de saúde de Cole, o tormento de não saber como revelar a verdade a Jughead fez com que minha cabeça ficasse em alerta por horas.

Fecho os olhos e tento cochilar. Não tinha muito o que ser feito.

(...)

Chego em casa por volta de sete da noite. Estamos no final do outono e as chuvas torrenciais são insistentes a cada pôr do sol. Verônica ficou com Cole no hospital para que eu pudesse relaxar antes de mais uma noite naquele colchão desconfortável.

Meu primeiro passo é ir até a cozinha e abrir uma garrafa de vinho. Encho a taça e vou até minha bolsa, a procura de uma carteira de cigarros antiga perdida. Faz mais de um mês que a comprei e raramente fumava, mas dias como os de hoje me obrigavam a acender um daqueles.

Subo os degraus de madeira em direção ao segundo andar e vou até a suíte principal, que costumava ser o quarto dos meus pais. Primeiro coloco a banheira pra encher e depois tiro as roupas, ficando nua de frente para o espelho. Ao encarar meu reflexo, sinto minhas bochechas arderem, enquanto a fumaça do cigarro sai entre meus lábios. Não era sempre que eu tirava um tempo para pensar em mim, para me observar. Avanço até a banheira, que já está cheia pela metade, e me afundo na água quente. Sinto o peso da exaustão sobre meus ombros e de repente me vejo desejando o que não posso ter. Em dias como hoje, não consigo deixar de sentir falta dele passando os dedos pelos meus cabelos e falando baixinho que tudo ficaria bem. Em dias como o de hoje, quero as mãos dele segurando não só as minhas mãos, quero que seus lábios não beijem só meus lábios, como todo o resto.

Mas de repente, lembro-me de minha mãe gritando comigo, há oito anos atrás.

Quando minha mãe dizia que eu merecia coisa melhor, eu defendia Jughead por força do hábito. "Ele ainda me ama" eu gritava para ela, enquanto ela olhava para mim, com olhos derrotados, do jeito que os pais olham para os filhos quando sabem que esse é o tipo de mágoa que nem eles conseguem mudar e dizia: "pra mim esse amor não significa nada se ele não faz merda nenhuma com isso, Elizabeth." E bom, ela não estava de todo errada.

Jughead me disse naquela última noite: se é pra ser, o destino vai nos unir de novo.

Por um segundo me pergunto se ele foi mesmo tão ingênuo, se acreditou de verdade que o destino funciona assim. Como se ele vivesse no céu e nos observasse. Como se passasse o tempo movendo a gente como peças de xadrez. Como se não fossem as escolhas que fazemos. Quem foi que ensinou isso pra ele? Quem o convenceu disso? Nossas ações não definem o que vai nos acontecer. E toda vez que o vejo, agora, é isso que quero gritar. Quero gritar e berrar que somos nós, seu idiota, as únicas pessoas que podem nos unir novamente. Mas em vez disso, eu fico quieta, a todo tempo, sorrindo de leve, pensando entre lábios trêmulos: é ou não é uma coisa trágica? Quando você vê tudo tão claro, mas a outra pessoa não vê nada?

Jughead foi a coisa mais bonita que eu tinha sentido em toda a minha vida e eu estava certa de que continuaria sendo a coisa mais bonita que eu poderia sentir. Será que alguém sabe como isso pode ser sufocante? Ser tão jovem e pensar que tinha encontrado a pessoa mais incrível que eu poderia conhecer? Que depois dele, nada mais faria diferença? Que nem todos os anos à minha frente combinados poderiam ser mais doces do que ele?

Daddy's little love [Bughead]Onde histórias criam vida. Descubra agora