Capítulo XVIII.

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— Pode liberá-lo, ele é inocente. — Disse para Gregson e todos na sala me olharam confusos. Passei pela porta, saindo da sala.

— Não podemos liberar um suspeito assim. Por que mudou de ideia tão rápido? — Gregson veio atrás de mim.

— Aparentemente eu me enganei. Se ele fosse culpado, teria tentado se defender, não apenas agir como uma máquina. Observei as anotações do perito do caso e conclui que a cor dos cabelos e o tamanho do pé na pegada deixada pelo criminoso não conciliam com os dados desse indivíduo. — Comecei a apresentar argumentos. — A única pergunta respondida corretamente foi sobre seu álibi, muito consistente por sinal. Confirme-o e terá sua resposta.

Antes de entregar Damon à polícia, certifiquei-me de que tinha algum álibi sólido. Se Damon demonstrasse ser traiçoeiro, saberia que não poderia trabalhar com ele e não comentaria sobre esse álibi com o capitão Gregson, o que dificultaria e levaria mais tempo para sua soltura. Mas se demonstrasse ser confiável, entregaria evidências a seu favor para provar sua inocência. Fui em uma livraria próxima à minha casa, onde havia visto o carro de Damon há alguns dias, e conferi a gravação da câmera de segurança em que continha a imagem de Damon circulando pelo local na mesma data e horário que o do crime, comprovando assim a inocência dele.

— O que nos recomenda analisar? — perguntou o capitão.

Olhei para Damon ainda dentro daquela pequena sala e suspirei. Nunca me imaginei defendendo e cooperando com um criminoso. Mas era necessário.

— O suspeito havia comentado sobre a livraria Books for Cooks, próximo à Westbourne Grove. Tente as câmeras de segurança. Me mantenha atualizada do caso, por favor.

Emma e eu fomos para casa discutindo sobre o que acontecera na delegacia.

— Eu entendi suas intenções ao entregá-lo, mas pensou em como ele reagirá sobre isso? E se tentar revidar?

— Bem, então que ele tente. Ele precisa mais de mim do que eu dele, ele não ousaria.

— Você tem razão nisso — disse, apontando para mim. — Mas tome cuidado, ouviu? Ainda mais agora que decidiu trabalhar com ele.

Concordei e logo chegamos em casa. Não sabia ao certo como funcionaria esse negócio de trabalhar em uma investigação com Damon, mas estava prestes a descobrir.

Apressei-me em pesquisar mais sobre a siderúrgica cujo meu pai era sócio, uma vez que nunca havia me interessado em saber mais sobre a empresa. Sabia que nos rendera grande parte de nossas riquezas e que era uma indústria importante para o país, mas não tinha conhecimento da forma com que cresceram e o motivo pelo qual encerraram as atividades. Por ser uma empresa em sociedade, quem seria o outro sócio? E por que não continuou com os negócios?

Ao iniciar minha investigação sobre a Stelco, consultei seus levantamentos, balanços anuais e semestrais e o lucro mensal obtido. Nos últimos anos da empresa, todos esses resultados eram irregulares e começaram a levantar suspeitas. Em nenhum momento foi mencionado o nome do outro sócio e aquilo passou a me incomodar. Algo estava escondido e eu precisava de respostas.

Depois de algumas horas estudando todos aquelas arquivos e registros, percebi que já era noite e resolvi fazer uma pequena pausa. Estava em meu quarto quando escutei meu celular avisando-me de uma nova mensagem. Era de um número desconhecido.

"Me encontre no seu terraço."

Coloquei meu casaco e fiz o que a mensagem pedia. Encontrei Damon apoiado no guarda corpo.

— Pensei que havíamos combinado de você não invadir mais meu terraço.

— E pensei que havíamos combinado de trabalhar juntos. Parece que ambos estávamos um pouco enganados — respondeu virando-se para mim. Quando seus olhos encontraram os meus, percebi um vislumbre de decepção.

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