Capítulo XXII.

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Na noite anterior, Matt havia me mandado uma mensagem me chamando para um jantar. Não a respondi e tinha me esquecido dela. Até meu celular vibrar.

"Quem cala consente? Me passe o endereço de onde está e me diga a que horas posso te buscar. Beijos, Matt."

Depois do dia conturbado que tive, não quero pensar em sair, em me arrumar, fingir sorrisos quando quero apenas descansar. Ignoro a mensagem por um tempo.

Estamos no hotel nos dedicando a investigação, trabalhando, e estou tão distraída que quase consigo afastar de minha mente o episódio com meu irmão. Quase.

Damon percebia minhas reflexões doloridas e dava um jeito de esvaí-las, sendo com suas provocações e flertes que agora me faziam rir, ou sendo desempacotando algumas lembranças suas. É extremamente contraditório que, embora Damon me irrite na maior parte do tempo e faz com que eu deseje matá-lo a cada minuto, eu me sento aliviada por tê-lo comigo ali.

O tempo havia esfriado consideravelmente no fim da tarde, nos forçando a fechar todas as janelas e ligar o aquecedor interno, e quase consigo sentir o frio de casa. Londres, minha casa, meu território que já sinto falta, mesmo estando fora por apenas alguns dias. Faço menção de pegar meu celular e ligar para Emma, mas ela pode estar trabalhando e não gostaria de atrapalhar.

— Me conte um pouco sobre sua paixão secreta por mitologia e o livro que comprou aquele dia — peço a Damon, enquanto me aconchego nas cobertas.

Damon tira os olhos dos papeis e me olha surpreso. Depois de alguns segundos, dá de ombros e se ajeita na cama, ficando mais de frente para mim.

— Não é como se realmente fosse secreta — contraiu os lábios em uma linha fina. — Antes mesmo de aprender a ler, eu entrava escondido no quarto do meu irmão e espiava sua estante de livros. No meio de todas aquelas cores, tamanhos e temas, eu me atraía pelos de mitologia. Não sei se eram as capas bonitas ou as histórias que eu imaginava que contavam. Na ausência de Stefan, eu tentava ler, tentava juntar as letras e imaginar que sons resultariam. Um dia, meu irmão chegou e me viu segurando esses livros e tentando lê-los. Começou a ler para mim, e continuou mesmo depois que aprendi a ler. Talvez a maneira com que ele contava as histórias aguçava minha imaginação.

Damon deve ser um pouco mais velho que eu. Doí no fundo de minha alma admitir que é um dos homens mais lindos que já vi. Sua aparência, curiosamente, se entrelaça e combina perfeitamente com sua personalidade: marcante, desafiadora, sedutora. O rosto, os cabelos e o corpo são bem cuidados, o que não é surpresa já que é extremamente vaidoso.

Mas nos últimos dias suas expressões faciais têm estado cansadas, mostrando o resultando de noites mal dormidas. Faço uma nota mental para questioná-lo sobre isso em outro momento.

— Por que está me olhando desse jeito? — pergunta com um sorriso preguiçoso e meu corpo congela.

— Hum... De que jeito? — pergunto, fingindo uma tosse.

Ele me analisa, pousando seus olhos em minha boca e fixando-os ali.

— Como se eu fosse um delicioso bolo de chocolate que você está desesperada para provar.

Sinto meu rosto queimar, mas solto uma risada sarcástica.

— Que nada, gato — faço um sinal de desdém. — Estava só me perguntando se você tinha brigado com a escova de cabelo ou gosta da sensação de ter um ninho em cima da sua cabeça — provoco e mordo o lábio para evitar a risada.

Damon pega o travesseiro em que estava encostado e, antes que eu pudesse me proteger, ele me acerta no rosto, fazendo meus cabelos voarem para cima.

Um Estudo em VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora