Capítulo XXXI.

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23 dias depois.

Quase um mês havia se passado desde o encontro com Damon. Desde então, tenho valorizado muito mais a companhia de Emma e me certifiquei de compensar o tempo em que estava longe da minha amiga com algumas aventuras e investigações simples das quais Emma passou a gostar.

Para minha surpresa, Damon e eu continuamos mantendo o contato. Muito contato, na verdade. 

Vez ou outra saíamos para uma simples volta na West End, ou para um jantar mais elaborado, mas Damon fazia questão de minha presença em seu dia de alguma forma, fosse pessoalmente ou por uma ligação ou mensagem. Mesmo relutante, era inevitável confessar que também gostava de sua presença em meus dias.

Ele me visitou algumas vezes, sendo a primeira delas em um almoço dois dias depois de nossa chegada, em que Damon se entrosou com Emma e Amélia em poucos minutos. A cena não poderia ter sido mais improvável e irônica: o mesmo homem que invadia minha casa e meu terraço para me ameaçar meses atrás, estava sentado em minha mesa de jantar, se alimentando da minha comida, conversando e rindo com minha melhor amiga. 

Mesmo sob efeito de drogas e alucinógenos, eu jamais poderia prever tal episódio.

"— Você estava certa, Elena. Sua comida é uma das melhores que já experimentei. Está mais do que aprovada em meu conceito culinário." Damon admitiu logo depois da primeira garfada.

"— E o quanto sabe sobre culinária?" pergunto e ele dá de ombros.

"— O suficiente para me gabar."

Estou a caminho da clínica de reabilitação de Jeremy para a visita diária. No dia posterior ao encontro em Bulington, liguei para a clínica em que meu irmão estava internado e expliquei a situação, questionando sobre a possibilidade de uma transferência para Londres. Na tarde daquele mesmo dia, o funcionário encarregado pelas transições e liberações de pacientes me retornou com a resposta definitiva de que tinham encontrado uma clínica compatível em Londres e que atendesse as necessidades de Jeremy. Apesar da exaustiva burocracia do processo, logo Jeremy estava em um avião com Damon e eu com destino à minha casa.

Adentro a recepção e minha chegada é anunciada para Jeremy que me aguardava em uma área descoberta, muito semelhante à antiga clínica. Caminho até ele e, assim que me vê, se levanta sorrindo.

— Você está oito minutos atrasada. — Se pronuncia.

— Um pequeno charme, eu diria — rebato e ele ri.

— O que trouxe para mim? — pergunta, apontando para o pacote em minha mão.

— Bem, faltam apenas dois meses para que termine seu tratamento e por fim saia daqui. — Digo e ele concorda, ainda curioso. — Então decidi lhe trazer algo que te ajude a ver esse tempo correr.

Lhe entrego a embalagem e Jeremy a abre, tirando de lá um relógio de pulso antigo.

— Isso é...

— O relógio do papai. — Completo e ele me olha. — O guardei por muitos anos, incerta do que poderia representar para mim, mas na verdade ele sempre foi seu, Jer. Sei que nosso pai o daria a você, é uma herança dos homens da família Gilbert.

— Eu... eu não sei nem o que dizer, Lena — seus olhos encontram os meus e prendo a respiração para evitar as lágrimas diante do silêncio significativo. — Muito obrigado.

— Não precisa me agradecer. — Disse e meu irmão ajustou o relógio em seu pulso.

Depois que contei a Jeremy que a ideia de o transferir havia sido de Damon, meu irmão simpatizou um pouco mais com ele. Conversamos e definimos melhor a situação pendente entre Jeremy e eu e, desde então, estávamos focados e ansiosos para sua saída.

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