Acordei antes do alvorecer devido aos pesadelos que decidiram me assombrar naquela noite.
Em uma visão diferente da que eu estava na noite em que meus pais morreram, uma posição privilegiada que me permitia olhar por todos os ângulos daquela tragédia. Meu pai implorava pela vida, de joelhos diante de seu assassino, implorava por nossas vidas. Um sorriso frio e divertido nos lábios daquele que apertou o gatilho. Deixava rastros de sangue a cada passo que dava e seus olhos, caçadores e impiedosos, procuravam por minha mãe, que em algum momento apareceria, se entregando para nos salvar. Os gritos desesperados e suplicantes foram abafados por outro barulho estrondoso que ainda divertia o caçador. O corpo sem vida, há poucos segundos barganhando sua vida pela de seus filhos, estava estirado no chão, e não havia nenhum sinal de toda a graciosidade e elegância mantida por toda a vida.
Ainda sentia o suor escorrendo por minhas têmporas, grudando os cabelos na pele. O ar ficou denso e passou a ser difícil de respirar, então me levantei silenciosamente, colocando um roupão e ousando um olhar para Damon, para me certificar de que ainda estava dormindo – do seu lado da cama.
Seu tronco estava exposto e descoberto e pude ver os músculos de suas costas contraídos. Me perguntei se ele também tinha pesadelos que o perturbavam.
Desci até o restaurante do hotel, onde o café da manhã ainda estava sendo preparado e peguei um café preto da máquina. Fiquei apenas sentada nos sofás do saguão, observando pessoas chegando e saindo, imaginando como seria a vida delas julgando por suas roupas, gestos e expressões.
Julgar. Um hábito que me consumia e que dependia de mim. Minha vida era cercada de julgamentos, de deduções que agiam como primeira impressão de tudo.
Tem um preço, disse a Emma uma vez, e eu não menti. Sempre existia o peso de analisar e desvendar qualquer pessoa que aparecesse, como um ataque e defesa simultaneamente. Nunca algo casual, tranquilo e que fosse dirigido pelo ciclo e funcionamento do universo, do destino ou qualquer que fosse aquela força maior. Às vezes sinto isso como um fardo e meu corpo pede para que eu respire, e como eu gostaria de poder respirar.
Não havia falado com Emma desde que cheguei, apenas por algumas mensagens. Liguei para ela.
— Graças a Deus você ligou, Elena! — atendeu animada. — Estava preocupada e com saudades.
— Eu também estou com saudades, Ems — forcei um riso baixo. — Como estão as coisas por aí?
— Está quase tudo do jeito que estava antes de você sair. Amélia voltou voluntariamente para cá ontem para me fazer companhia e está sempre perguntando por notícias suas. Eu sempre respondo que também gostaria de ter.
Suspirei devagar, lembrando de meu sonho mais cedo. Estremeci e afastei o pensamento.
— Desculpe Em, as coisas estavam um pouco tumultuadas por aqui. Não tivemos um progresso muito interessante, mas temos algumas coisas.
Contei a Emma o que tinha acontecido ontem, as partes que realmente interessavam. Contei sobre os depoimentos dos dois ex funcionários e minhas suspeitas de que um dos dois estava mentindo.
— E o que seus instintos te dizem?
— Sinceramente? Eu ainda preciso de mais informações. Mas mesmo que seja mais racional dar ouvidos ao senhor que trabalhou como operário, meus sentidos me lembram constantemente das palavras daquele Gabriel e encontrei veracidade nele. — Alguns flashes vieram em minha mente do dia anterior, de ambos os homens interrogados e a eloquência em suas declarações. — De qualquer forma, ainda temos muito trabalho para fazer por aqui.
— Você... e quanto ao seu... hum, planeja visitar Jeremy? — perguntou hesitante e a ouvi expirar um ar desconfortável.
— Eu tinha pensado de encontrar um tempo hoje para ir à clínica, mas talvez não seja uma boa ideia.
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Um Estudo em Vermelho
Fiksi PenggemarDepois da morte de seus pais, Elena cresceu determinada a encontrar o assassino, sua motivação e dar a ele um desfecho merecido. Estudou a investigação durante anos; se especializou em diversas áreas; aprofundou-se em assuntos que para os outros era...