Capítulo XXVI.

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Chegamos à clínica em alguns minutos e minha cabeça já trabalha freneticamente. Quando adentramos o local, agradeço por estar usando aquele casaco, pois todas as pessoas presentes desviam os olhares para nós. Cassian aparece enquanto nos identificamos na recepção.

O enfermeiro nos guia apressadamente pelos corredores, virando algumas direitas e esquerdas até eu me dar conta de que não saberia voltar sozinha.

— Isso aconteceu uma vez desde que Jeremy está conosco — explica Cassian depois de um tempo, ainda andando. — Na época, demos a ele um sedativo que foi o suficiente para controlar e estabilizá-lo. Mas dessa vez não bastou sequer para acalmá-lo. — O moreno me olha com preocupação nos olhos. — Ele grita seu nome, Elena.

Sinto meu corpo pesar arduamente junto da pontada no estômago. Parados diante da porta do quarto de meu irmão, sinto a mão de Damon na minha, apertando-a e me dando força. Obrigo minha respiração a se regularizar, inspirando todo o ar que consigo encher meus pulmões. Vou ter que ser forte para Jeremy, se ele me chamava é porque precisa de mim. Faço um sinal com a cabeça e Cassian abre a porta.

Não consigo reparar em nada no ambiente ao ver meu irmão com os braços e pernas amarrados, se debatendo e relutando contra as faixas de couro. Corro até ele e seguro seu rosto, obrigando-o a olhar para mim. Quando seus olhos arregalados e desesperados encontram os meus, Jeremy se acalma e suas pupilas dilatadas começam a voltar ao normal.

— Ei, Jer, está tudo bem, eu estou aqui — acalmo-o, passando a mão em seus cabelos enquanto ele me olha confuso, decidindo se aquilo era real ou não.

— Elena? É você mesmo? — pergunta zonzo pelo sedativo. Sua voz embargada e as lágrimas surgindo em seus olhos estilhaçam meu coração.

— Sim, sou eu. Estou aqui de verdade. — Tento abraçá-lo, mas as faixas que o prendem impedem. Olho para Cassian severamente. — Desamarre-o.

O homem o faz prontamente e murmura algo para Jeremy, tranquilizando-o. Meu irmão se senta assim que é solto e finalmente o abraço. Jeremy me abraça forte, como se dependesse daquele afeto para se sentir a salvo, e pelos soluços percebo que está chorando. Afago seus cabelos, acalmando-o.

— Estou aqui, Jer — sussurro em seu ouvido. — E não vou a lugar algum.

Ficamos naquela posição durante longos minutos, o suficiente para Jeremy se acalmar e sua respiração regular, mas ainda reluta contra o efeito do medicamento. Ele se afasta, dando mais espaço em sua cama para eu me sentar.

— Quer me contar o que houve? — pergunto cautelosamente, acariciando os nós de seus dedos que agarram minha mão com força.

Meu irmão respira fundo com os olhos fixos em nossas mãos juntas.

— Eu senti aquilo de novo, Lena — diz e não tenho dúvida sobre o que está falando.

No dia em que meus pais morreram e eu saí de nosso esconderijo para pegar o telefone para chamar a polícia, tive que deixar Jeremy por alguns minutos dentro daquela sala escura. Quando voltei, ele estava encostado na parede do fundo da sala, abraçando os joelhos contra o corpo, chorando, em pânico. No momento em que entrei no esconderijo, Jeremy gritava meu nome, assim como tinha feito hoje. Ficamos abraçados até os policiais chegarem, da mesma forma em que estávamos momentos antes também.

Isso aconteceu com meu irmão quando ele chegou aqui, mas eu não estava presente para tranquilizá-lo. Ele suportou aquilo sozinho e esse pensamento bastou para eu permitir que as lágrimas rolem.

— Eu estava de novo naquela sala escura, sozinho, sem você. Ouvia os tiros e os gritos e sentia que eu seria o próximo. — Suas mãos tremem e seus olhos estão agitados, mais sombrios do que nunca.

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