Capítulo 3

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  Virando-se, caminhou para a porta e entrou na casa. Camila observou o aposento amplo, ensolarado, com piso de granito, cheio de ganchos numa das paredes, com chapéus, jaquetas e equipamentos de montaria. Num dos cantos havia uma máquina de lavar roupa e uma secadora. Á esquerda, ficava um banheiro espaçoso, onde se podia avistar um box de vidro transparente, abrigando o chuveiro.

Mas foi a visão de Lauren, de costas para ela, parada junto á pia, que atraiu sua atenção. Ela atirara o chapéu num balção próximo, puxara a camiseta para fora da calça jeans e despia-a pela cabeça, atirando-a ao chão.

Camila observara as costas com um leve bronzeado, os músculos flexionando-se, enquanto abria a torneira e pegava o sabonete, começando a se lavar. E, quando inclinou-se sobre a pia, uma faixa de pele mais clara ficou exposta na cintura.

Estava tão perturbada que não desviou o olhar quando ela agarrou a toalha e virou-se de repente.

- E então? - perguntou, esperando pacientemente.

Forçando-se a encará-la, tentou fingir que não se abalava em vê-la sem camisa. Não era fácil, já que um estrando calor invadira-lhe o corpo ao vê-la esfregar o pescoço e o abdômen com a toalha.

- Almocei com Dinah Jane Hansen na semana passada - começou, dizendo a si mesma para ficar calma - ela me contou que tem uma filha de sete anos, que veio morar com você há pouco tempo. E que está tentando encontra alguém para cuidar dela.

- E dai?

- Eu gostaria de ter esse emprego.

Lauren ficou imóvel, mas logo um sorriso curvou-lhe os lábios.

- Está brincando, não é?

- Não, não estou.

O sorriso desapareceu. Ela fitou-a por um logo instante, antes de falar.

- E por que faria isso?

Já imaginava que Lauren iria perguntar estava pronta para responde sem desviar o olhar do rosto dela, falou com uma serenidade que estava longe de sentir.

- Porque Lander é o meu lar. Senti falta, e gostaria de ficar por aqui. Agora que vendi o rancho, preciso de algo para fazer.

- E acha que trabalhando para mim resolverá o problema? - o rosto dela endureceu, e lentamente balançou a cabeça - não penso assim, Camila.

Embora esperasse algo assim, a resposta dela a atingiu. Engolindo em seco, perguntou:

- Por que não?

Atirando a toalha sobre o balcão, ela pegou uma camiseta azul. Franzido a testa, pegou um pé de meia com borda rendada que se prendera à camiseta e atirou-a para dentro do jeans.

- Digamos que não acho você a mulher certa para esse trabalho.

- Mas eu sou - insiste Camila, tentando não parecer desesperada - estou aqui, disponível, sei como cuidar de um rancho e tenho jeito com crianças.

Lauren apoiou-se no balcão, não parecendo convencida.

- Talvez, mas acredito que Dinah não lhe disse que preciso de alguém para morar aqui.

- Ela me disse.

Os lindos olhos verdes estreitaram-se, como se achasse difícil acreditar.

- E você concorda com isso?

Não era hora de dizer que a perspectiva de morar com ela fora decisiva ao pensar no emprego. Assim, tentou manter um tom neutro ao responder:

- Sim.

- Mas eu não. Acho que isso irá chocá-la, princesa, mas preciso de alguém que faça mais do que companhia a Lissy. Não tenho empregada e preciso de alguém que cuide de casa.

Camila recusou-se a perder a paciência, mesmo diante da ironia. Ainda assim,não conseguiu disfarçar a irritação ao responder:

- Acho que posso cuidar de tudo, Lauren. Sei cozinha, lavar e limpar uma casa. E o mais importante é que posso cuidar da sua filha. Sei que está tento problemas e adaptação na escola - acrescentou, vendo os lábios dela se apertarem e percebendo que tocara num ponto sensível - acho que posso ajudá-la.

- Dinah Jane fala demais - disse ela, brusca.

- Talvez, mas não muno o fato de quem tenho algo especial a oferecer, eu era um pouco mais velha que a sua filha quando perdi meus pais e vim morar com o meu avô, sei como é senti-se só, perder a vida que tinha e ter que adapta-se a outra bem diferente.

- Mesmo que tivesse ainda mais qualidades, a resposta seria não, Camila.

- Mas... - por um instante, ela quase disse a verdade.

"Por favor, preciso desse trabalho.Vendi tudo que tinha valor. Tenho pouco mais de trezentos dólares e em quatro dias não terei onde morar."

- Sinto muito - disse Laura friamente, interrompendo-lhe os pensamentos - não daria certo.

O tom de voz dela não deixava duvidas. Como uma bofetada, trouxe Camila de volta á realidade, um arrepio percorre-lhe o corpo ao percebe como estivera perto de suplicar a ajuda dela, e de envergonhar a memória do avô.

Mesmo assim, não pôde evitar que lágrimas quentes viessem aos olhos, e virou o rosto, piscando para afastá-las.

- Entendo.

Tudo daria certo, disse para si mesma. Era apenas mais um contratempo, não o fim do mundo, o mais importante era não fazer papel de tola. Engolindo as lágrimas, ergueu o queixo e forçou-se a encará-la.

- Acho que não vai mudar de ideia - disse forçando um sorriso.

- Não.

Percebendo que seus lábios tremiam, Camila fingiu olhar o relógio.

- Acho melhor você ir, ou chegará atrasada.

Para alivio dela, Lauren olhou o próprio relógio, dando-lhe a oportunidade de ir embora. Queria sair dali correndo, mas forçou-se a andar até a porta com um falso sorriso, olhou por sobre o ombro.

- Foi bom vê-la outra vez. Lauren.

Ela assentiu, com uma expressão indecifrável no rosto.

- Também foi bom ver você.

- Espero que encontre logo alguém.

- Com certeza.

Camila saiu e atravessou a varanda. Com passos deliberadamente lentos, caminhou até o carro, entrou e ligou o motor, manobrando lentamente na direção da saída.

Foi só quando chegou na rodovia que percebeu como suas mãos tremiam. Incapaz de prosseguir, parou no acostamento, mas uma vez, tentou convencer-se de que tudo daria certo. Só que, no fundo, não conseguia acreditar nisso.

Mais uma vez apertou os olhos, mas uma lágrima solitária escorreu-lhe pelo rosto, enquanto imaginava o que iria fazer de sua vida.

Continua...

Louco amor (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora