Virando-se, caminhou para a porta e entrou na casa. Camila observou o aposento amplo, ensolarado, com piso de granito, cheio de ganchos numa das paredes, com chapéus, jaquetas e equipamentos de montaria. Num dos cantos havia uma máquina de lavar roupa e uma secadora. Á esquerda, ficava um banheiro espaçoso, onde se podia avistar um box de vidro transparente, abrigando o chuveiro.
Mas foi a visão de Lauren, de costas para ela, parada junto á pia, que atraiu sua atenção. Ela atirara o chapéu num balção próximo, puxara a camiseta para fora da calça jeans e despia-a pela cabeça, atirando-a ao chão.
Camila observara as costas com um leve bronzeado, os músculos flexionando-se, enquanto abria a torneira e pegava o sabonete, começando a se lavar. E, quando inclinou-se sobre a pia, uma faixa de pele mais clara ficou exposta na cintura.
Estava tão perturbada que não desviou o olhar quando ela agarrou a toalha e virou-se de repente.
- E então? - perguntou, esperando pacientemente.
Forçando-se a encará-la, tentou fingir que não se abalava em vê-la sem camisa. Não era fácil, já que um estrando calor invadira-lhe o corpo ao vê-la esfregar o pescoço e o abdômen com a toalha.
- Almocei com Dinah Jane Hansen na semana passada - começou, dizendo a si mesma para ficar calma - ela me contou que tem uma filha de sete anos, que veio morar com você há pouco tempo. E que está tentando encontra alguém para cuidar dela.
- E dai?
- Eu gostaria de ter esse emprego.
Lauren ficou imóvel, mas logo um sorriso curvou-lhe os lábios.
- Está brincando, não é?
- Não, não estou.
O sorriso desapareceu. Ela fitou-a por um logo instante, antes de falar.
- E por que faria isso?
Já imaginava que Lauren iria perguntar estava pronta para responde sem desviar o olhar do rosto dela, falou com uma serenidade que estava longe de sentir.
- Porque Lander é o meu lar. Senti falta, e gostaria de ficar por aqui. Agora que vendi o rancho, preciso de algo para fazer.
- E acha que trabalhando para mim resolverá o problema? - o rosto dela endureceu, e lentamente balançou a cabeça - não penso assim, Camila.
Embora esperasse algo assim, a resposta dela a atingiu. Engolindo em seco, perguntou:
- Por que não?
Atirando a toalha sobre o balcão, ela pegou uma camiseta azul. Franzido a testa, pegou um pé de meia com borda rendada que se prendera à camiseta e atirou-a para dentro do jeans.
- Digamos que não acho você a mulher certa para esse trabalho.
- Mas eu sou - insiste Camila, tentando não parecer desesperada - estou aqui, disponível, sei como cuidar de um rancho e tenho jeito com crianças.
Lauren apoiou-se no balcão, não parecendo convencida.
- Talvez, mas acredito que Dinah não lhe disse que preciso de alguém para morar aqui.
- Ela me disse.
Os lindos olhos verdes estreitaram-se, como se achasse difícil acreditar.
- E você concorda com isso?
Não era hora de dizer que a perspectiva de morar com ela fora decisiva ao pensar no emprego. Assim, tentou manter um tom neutro ao responder:
- Sim.
- Mas eu não. Acho que isso irá chocá-la, princesa, mas preciso de alguém que faça mais do que companhia a Lissy. Não tenho empregada e preciso de alguém que cuide de casa.
Camila recusou-se a perder a paciência, mesmo diante da ironia. Ainda assim,não conseguiu disfarçar a irritação ao responder:
- Acho que posso cuidar de tudo, Lauren. Sei cozinha, lavar e limpar uma casa. E o mais importante é que posso cuidar da sua filha. Sei que está tento problemas e adaptação na escola - acrescentou, vendo os lábios dela se apertarem e percebendo que tocara num ponto sensível - acho que posso ajudá-la.
- Dinah Jane fala demais - disse ela, brusca.
- Talvez, mas não muno o fato de quem tenho algo especial a oferecer, eu era um pouco mais velha que a sua filha quando perdi meus pais e vim morar com o meu avô, sei como é senti-se só, perder a vida que tinha e ter que adapta-se a outra bem diferente.
- Mesmo que tivesse ainda mais qualidades, a resposta seria não, Camila.
- Mas... - por um instante, ela quase disse a verdade.
"Por favor, preciso desse trabalho.Vendi tudo que tinha valor. Tenho pouco mais de trezentos dólares e em quatro dias não terei onde morar."
- Sinto muito - disse Laura friamente, interrompendo-lhe os pensamentos - não daria certo.
O tom de voz dela não deixava duvidas. Como uma bofetada, trouxe Camila de volta á realidade, um arrepio percorre-lhe o corpo ao percebe como estivera perto de suplicar a ajuda dela, e de envergonhar a memória do avô.
Mesmo assim, não pôde evitar que lágrimas quentes viessem aos olhos, e virou o rosto, piscando para afastá-las.
- Entendo.
Tudo daria certo, disse para si mesma. Era apenas mais um contratempo, não o fim do mundo, o mais importante era não fazer papel de tola. Engolindo as lágrimas, ergueu o queixo e forçou-se a encará-la.
- Acho que não vai mudar de ideia - disse forçando um sorriso.
- Não.
Percebendo que seus lábios tremiam, Camila fingiu olhar o relógio.
- Acho melhor você ir, ou chegará atrasada.
Para alivio dela, Lauren olhou o próprio relógio, dando-lhe a oportunidade de ir embora. Queria sair dali correndo, mas forçou-se a andar até a porta com um falso sorriso, olhou por sobre o ombro.
- Foi bom vê-la outra vez. Lauren.
Ela assentiu, com uma expressão indecifrável no rosto.
- Também foi bom ver você.
- Espero que encontre logo alguém.
- Com certeza.
Camila saiu e atravessou a varanda. Com passos deliberadamente lentos, caminhou até o carro, entrou e ligou o motor, manobrando lentamente na direção da saída.
Foi só quando chegou na rodovia que percebeu como suas mãos tremiam. Incapaz de prosseguir, parou no acostamento, mas uma vez, tentou convencer-se de que tudo daria certo. Só que, no fundo, não conseguia acreditar nisso.
Mais uma vez apertou os olhos, mas uma lágrima solitária escorreu-lhe pelo rosto, enquanto imaginava o que iria fazer de sua vida.
Continua...
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Louco amor (Camren)
FanfictionLauren Jauregui sabia muito bem como cuidar de cavalos, mas de crianças não sabia nada. O que uma garota órfã podia saber sobre lar e filhos, especialmente uma menina frágil como Lissy? Ela precisava de ajuda. E a ajuda veio... da forma mais inesper...