Os pneus da picape rangeram quando Lauren diminuiu a velocidade, parando no acostamento. Olhando na direção do oeste, viu o ônibus amarelo da escola se aproximando.
Suspiros aliviada, contente por não estar atrasada. Abaixando o vidro, desligou o motor e esperou. A tensão em seus ombros era tão grande que mais parecia carregando um rolo de arame farpado.
E sabia muito bem qual era o motivo.
Embora tivesse prometido a si mesma que não pensaria nela, os pensamentos teimavam em voltar para Camila. No momento em que entrara no pátio e a vira, qualquer um poderia tê-la derrubado com um sopro. Depois de todos aqueles anos continuava tão bonita quanto antes. E ainda mais confiante. O que ela dissera sobre suas qualificações?
"Acho que tenho algo especial para oferecer".
Bem, ao menos quanto a isso estava certa, pensou Lauren, com um sorriso irônico. Não era mulher de alimentar vingança, mas também não era tola. Não esquecera o modo como Camila a tratara anos atrás, antes de ir para a faculdade. Esguia, com aquelas cuvas bem-feitas, pele morena e olhos castanhos, além dos dentes mais perfeitos que ela já vira, ao dezessete anos irradiava seu encanto para todos. Menos para Lauren.
E já que ela nunca tivera problema de auto-estima, sabia que era atraente. Talvez os olhos verdes, a constituição forte, um certo distanciamento que parecia torná-la uma conquista difícil, tudo contribuía para que as mulheres e homens se sentissem atraídos poe Lauren, desde que era adolescente.
Mas não a adorável srta. Camila. Ela não gostara dela á primeira vista. Nada d sorrisos ou brincadeiras como fazia com os outros vaqueiros. Em vez disso, apesar de ser sempre educada, costumava tratá-la como se cheirasse mal.
É claro que não gostara dessa atitude, mas precisava do emprego, e fizera de tudo para ignorá-la. Dizia a si mesma que Camila não passava de uma criança, que lhe fazia um favor, já que Max Cabello a despediria de imediato, se mostrasse qualquer interesse nela.
Ainda assim, não esquecera. Quantas vezes desejara arrancar aquele ar superioridade do rosto dela! E não por vingança ou ressentimento. Mas porque a desejava. Como desejara mergulha as mãos nos cabelos morenos e sedosos, saborear a boca macia e rosada! E como quisera sentir o corpo moreno sob o seu, tocando-a em todos os lugares, até fazê-la gritar seu nome.
Mimada, ou não, ela a deixava louca de desejo.
Mas isso era passado, disse a si mesma. É claro que Camila ainda era linda, talvez mais do que antes. E havia algo nela, o tom levemente rouco da voz, o modo como se movia, os cabelos e a pele dourada, que conseguia fazê-la arder de desejo, ao ponto de deixar a calça jeans apertada demais. Quando á ideia de trabalhar para ela...
A expressão do rosto de Lauren era cínica. Não importava quanto precisasse de ajuda, nem quanto lhe parecia atraente a ideia de ser a chefe de Camila. Não tinha intenção de ceder á vontade da princesinha do Roking C.
Para começar, ela não servia para o trabalho. Precisava de alguém que cuidasse de tarefas mais práticas, sem se importar se os cabelos estavam arrumados ou não. E que fosse carinhosa, dedicada, maternal, e não uma garota mimada. E, mais que isso, precisava estar disponível por um tempo, e não mudar de ideia de repente.
Quando se tratava de Camila, era difícil acreditar que ficaria num lugar por muito tempo. Por mais que dissesse que sentia saudade do lugar e que ficar ali, como Lander podia se comparar a Nova Iork, ou a Paris? E por que, de repente, resolveu trabalhar? Nos últimos anos tinha apenas viajado e se divertido.
A menos que... Lauren parou, sentindo-se desconfortável. Meses atrás, ouvira boatos de que Max Cabello estava com problemas financeiros. Mas estava preocupada demais com a descoberta que tinha uma filha e nem pensara nisso. Mais tarde, imaginara que os boatos não tinham fundamento. Embora o aumento das despesas e a queda no preço do gado tivessem levado vários fazendeiros á falência nos últimos anos, não acreditava que isso pudesse acontecer com alguém tão experiente quanto Max. No entanto, poderia explicar o súbito interesse de Camila pelo emprego.
O som de freios rangendo interrompeu-lhe os pensamentos. Erguendo o olhar, viu que o ônibus escolar chegara e estacionava atrás dela, com os faróis ligados. A porta se abriu, e Lissy apareceu.
O coração de Lauren apertou-se ao vê-la. Era miúda e magrinha, com o pequeno rosto rosto muito branco e enormes olhos verdes. E embora as roupas dela não combinassem, pensou ela, observando o suéter laranja, a saia xadrez vermelha, e as meias cor de rosa, usadas com sapatilhas brancas, pouco se importava. Era sua filha. Sua carne, seu sangue, pensou, sentindo um misto de amor, ternura e admiração. A emoção era tão forte que chegava a incomodar.
Não que isso importasse, lembrou a si mesma quando, os olhos se cruzaram por um instante, e a sombra de um sorriso surgiu no rosto de Lissy, antes de ela desviar o olhar, meio sem jeito. Não importava quanto o fato de ser mãe a emocionava. A verdade era que ela e a filha ainda eram estranhas. A outras mãe dela, uma mulher de quem mal se lembrava, fizera de tudo para que fosse assim.
A mandíbula de Lauren se contraiu. Ainda não entendia por que Elaine não a procurara, ao descobrir que estava gravida. Era verdade que tinham apenas passado algumas noites juntas, nem chegando a ter um relacionamento. E Lauren deixara claro que não queria compromisso.
Mas se Elaine a procurasse, dizendo que algo saíra errado apesar dos cuidados que haviam tomado, e que estava gravida, teria se casado de imediato. Era uma mulher que costumava cumprir suas obrigações.
Mas ela permanecera em silêncio, mesmo depois de ter ficado muito doente e ter deixado a filha dela para a sua mãe criar. E s a velha senhora também não tivesse ficado doente, talvez nunca tivesse vindo a saber que tinha uma filha.
Continua...
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Louco amor (Camren)
FanfictionLauren Jauregui sabia muito bem como cuidar de cavalos, mas de crianças não sabia nada. O que uma garota órfã podia saber sobre lar e filhos, especialmente uma menina frágil como Lissy? Ela precisava de ajuda. E a ajuda veio... da forma mais inesper...