- Obrigado, Marty. Telefono durante a semana, assim que conseguir o transporte. Foi um prazer fazer negócios com você. Dê um abraço em Maxine.
Lauren desligou o telefone, sentindo a tensão nos ombros e espreguiçando-se para afastá-la. Recostando-se na poltrona de couro, junto à escrivaninha, examinou os números que apareciam na tela do computador.
Tinha tentado comprar alguns bezerros de primeira linha, do rebanho de Martin Hersher, por seis meses. Agora conseguira fechar o negócio, e por um preço bastante razoável.
E como se sentia? Estava satisfeita? Com um sentimento de vitória?
Não. Apenas sentia-se vazia, como se nada tivesse acontecido.
Empurrando a cadeira, levantou-se e começou a andar de um lado para o outro. O grosso tapete persa abafava o som das botas, e, por fim, parou junto à janela em arco, apoiando as mãos no batente.
Durante a hora que passara ao telefone, a noite havia caído. O céu típico de outono mais parecia um manto de veludo, salpicado de estrelas brilhantes e enfeitado pela lua crescente.
Mas era a terra, vasta e fértil, que lhe atraía a atenção. Quantas noites passara sozinha, no orfanato, prometendo a si mesma que um dia teria um lugar só seu?
Agora, graças ao trabalho duro e a um talento para lidar com ações, tinha tudo com que sonhara um dia. Tinha seu rancho, segurança financeira e uma posição respeitada na comunidade.
E nada disso se comparava á felicidade de ter uma filha.
O coração dela apertou- se, ao lembrar do rostinho de Lissy quando ela se recusara a ver as roupas novas. Sabia muito bem que uma boa mãe jamais agiria assim. Pelo contrário. Teria concordado na hora e dito para a pessoa que telefonava que ligaria mais tarde.
Teria colocado a filha em primeiro lugar.
Mas não ela. Não Lauren Jauregui, fazendeira e mulher de negócios. Como sempre, não soubera a coisa certa para dizer á filha, e quando tivera uma chance de ficar mais tempo perto dela, desprezara a oportunidade.
E, embora soubesse que tinha feito o que era mais correto, já que não saberia o que dizer das roupas e provavelmente faria alguns comentário desajeitado, era doloroso ver a decepção no rosto da menina. Pelo jeito, fizera apenas uma coisa certa. Contratara Camila, que parecia ter conseguido em uma semana estabelecer um vínculo com Lissy.
Então, por que se sentia tão infeliz, como quando era pequena e solitária?
Mas iria superar esse sentimento e sobreviver. Sempre conseguira.
Isto é, se não morresse de desejo reprimido, pensou, sorrindo consigo mesma. Ao chegar em Missoula, na sexta-feira à noite, tentara convencer-se de que seu desejo por Camila era apenas consequência do longo período de celibato e que precisava fazer algo a respeito.
Mas quando uma linda morena se aproximara dela, no bar do hotel, deixando claro o interesse e as intenções, descobrira, chocada, que não sentia o menor interesse.
Desculpara-se, alegando que estava cansada. Depois tentara convencer-se de que não aceitara o encontro porque preferia tomar a iniciativa. Só que ao chegar em casa e ver Camila na sala, o desejo voltara, mais intenso do que antes.
- Lauren?
A voz suave invadiu-lhe os pensamento. Por um instante, acho que estava imaginando coisas. Mas ela repetiu seu nome, e percebeu que realmente estava ali. E era a última pessoa que desejava ver naquele momento. Assim, permaneceu imóvel, no mesmo lugar onde estivera.
- O que foi?
- O jantar está pronto.
Não sentia a menor vontade de comer.
- Obrigado, mas parei em Drover no caminho e tomei um lanche.
Apesar do silêncio, um sexto sentido lhe dizia que Camila ainda estava ali. Com relutância, virou-se e a viu parada na soleira da porta. E, embora fosse ridículo, por um instante pareceu ver uma sombra de desejo nos olhos dela. Mas logo afastou a ideia, sentindo-se tola e frustrada.
- Mas alguma coisa?
Diante do tom brusco, ela pareceu reagir.
- Na verdade, sim. Pretendia fala com você durante o jantar, mas... Posso entrar?
Lauren não a queria por perto. Não agora, quando estava tão perto de perder o controle. Ainda assim, faria de tudo para que ela não percebesse sua fraqueza.
- Fique à vontade.
Camila fechou a porta e aproximou-se. Ficou ainda mais difícil para Lauren manter-se impassível, ao ver o modo como andava, como a luz batia sobre ela.
- Achei que gostaria de ver as notas das compras que fiz para Lissy. - A voz dela era fria, assim como os olhos castanhos. - Assim ao menos terá uma ideia do que compramos.
A censura era evidente na sua voz, e, embora a merecesse, Lauren reagiu bruscamente.
- Obrigado. Pode deixar na escrivaninha.
- Está bem - disse Camila, sem sair do lugar.
- Mais alguma coisa?
- Sim. Gostaria de lhe pedir um favor. - Apedar das palavras, a voz não tinha um tom de súplica.
- E o que é?
- Quando estava em casa, costumava cavalgar alguns dias por semana. Se tiver um cavalo disponível, gostaria de recomeçar. Estou acostumada ao exercício.
Lauren quase sorriu diante da ironia. Ali estava ela, sentindo que mal podia manter o controle, e Camila estava preocupada apenas em montar um cavalo.
- Não tem problema, princesa. Vou avisar o pessoal do estábulo. - Lauren parou, incapaz de conter o sarcasmo na voz, ao acrescentar: - Mas terá de cuidar do cavalo pessoalmente. Não pago meus vaqueiros para fazerem isso para ninguém. Especialmente para outro empregado.
- Pode deixar - retrucou ela, erguendo ainda mais o queixo.
Lauren sabia que Camila seria capaz. Por mais que relutasse em admitir, na última semana ela não se revelara nem mimada nem egoísta, como ela imaginara.
Não que tivesse mudado de opinião. Ainda era a princesa de gelo, o que ficava evidente pelo modo como a fitava, com fria superioridade, apesar de ser mais alta do que ela.
- Só isso? - perguntou, brusca.
Camila hesitou por um instante, mas depois aceitou.
- Muito bem. - Passando por ela, voltou a sentar-se atrás da escrivaninha e começou a remexer numa pilha de papéis. - Se não se importa, preciso trabalhar.
Lauren podia sentir o olhar de Camila em suas costas. Em silêncio, ela aproximou-se, deixou as notas sobre a escrivaninha e saiu.
Por mais que repetisse para si mesma que estava contente porque Camila saíra da sala, o perfume dela permanecia ali, provocando-a. Ao sentir a reação indesejada do próprio corpo, Lauren tomou uma decisão... Dali por diante, já que era tão difícil controlar a libido, manteria a srta. Cabello a distância.
Continua...
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Louco amor (Camren)
Fiksi PenggemarLauren Jauregui sabia muito bem como cuidar de cavalos, mas de crianças não sabia nada. O que uma garota órfã podia saber sobre lar e filhos, especialmente uma menina frágil como Lissy? Ela precisava de ajuda. E a ajuda veio... da forma mais inesper...