Capítulo 7

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A pergunta pegou-a de surpresa. Ainda assim ergueu o queixo e encarou Lauren.

- O que o faz pensar assim?

- Não tente me enganar, Camila. Eu já tinha ouvido comentários. E depois daquela desculpa de que precisava de carona porque ainda não tinha comprado um carro novo, comecei a raciocinar. Telefonei para Victor Taylor, e ele me contou tudo.

Victor Taylor era o presidente da financeira Lander. Camila nunca gostara dele, mas até então acreditara que fosse um homem discreto.

- Ele não tinha esse direito - falou, seca.

- Talvez não, mas foi o que ele fez.

Elas atravessaram o arco de madeira na entrada do rancho, e Lauren diminuiu a marcha, observando a estrada. Logo cruzava a pista e tomava o rumo do próprio rancho, acelerando novamente.

- Ainda não respondeu a minha pergunta.

- Penso diferente do sr. Taylor, e acho que o assunto não é da sua conta - retrucou friamente - não lhe pedi um empréstimo, nem ajuda - declarou com uma expressão de desafio - por acaso todos que trabalham para você têm que fazer um relatório sobre a própria situação financeira?

- Não estou contratando uma pessoa qualquer para cuidar da minha filha - respondeu Lauren séria - estou contratando você. Acho que isso me dá o direito de fazer algumas perguntas.

Por mais que não gostasse, Camila tinha de admitir que a outra tinha razão.

- Muito bem. O que quer saber?

- Pensei que tivesse recebido um bom dinheiro quando seus pais morreram.

- É verdade.

- O que aconteceu? Gastou tudo?

Antes, ela suspeitava que Lauren a achasse fútil e mimada. Agora, tinha certeza. Ainda assim, não iria se defender, nem explicar. Não para ela. Portanto, deu de ombros.

- Gastei, mas não se preocupe, não vou roubar a prataria. Não estou tão desesperada assim, ainda.

Para satisfação de Camila, a boca dela contorceu-se, mostrando que a atingira. Decidindo aproveita a vantagem, acrescentou:

- O que a fez mudar de ideia e me contratar?

Ela deu de ombros, antes de responder, num tom despreocupado.

- Não tenho tempo para administrar o rancho e cuidar de uma criança. Pensando nisso, decidi que preciso mesmo de ajuda. E você serve para isso.

A resposta estava longe de ser agradável, mas Camila decidiu que não a deixaria atingi-la. A opinião de Lauren não importava.

- E sua filha? O que acha?

Mais uma vez, ela deu de ombros, sem fitá-la.

- Tenho uma reunião no sábado, na mesma hora que uma das colegas de classe dela estará dando uma festinha de aniversário. Com você aqui, ela poderá ir, por isso acho que gostou da ideia.

- Depois de uma breve pausa, Lauren acrescentou, num tom defensivo - ela não gosta muito de conversar.

Camila olhou-a, surpresa, imaginando se havia alguma coisa que ela não lhe contara. Apertando os lábios, tentou pensar num maneira de abordar o assunto, mas subitamente o corpo de Lauren enrijeceu.

- Droga! - praguejou.

- O que foi?

- O ônibus deve ter chegado mais cedo.

Um olhar ao redor fez Camila perceber que estavam quase na entrada do Bar.M. Mas só quando seguiu o olhar dela, percebeu a menina miúda, semi-escondida pela caixa de correio com o nome Jauregui.

Camila não sabia o que esperava, mas a menina a surpreendeu. Era pequenina e pálida, com grandes olhos verdes enfeitando o rosto delicado e cachos loiros-escuros escapando de um rabo-de-cavalo torto. As roupas que usava eram horríveis, desde o casaco de náilon verde, passando pelo vestido amarelo-canário, até as meias três-quartos azuis.

Mas o que mais lhe chamou a atenção foi o modo como a garota deu vários passos para frente, parecendo animada, ao ver a picape. Logo, porém, parou, como se não tivesse certeza da recepção que teria. Ela hesitou, mas por fim ergueu a mão, num aceno tímido.

A vulnerabilidade do gesto tocou o coração de Camila.

Ao olhar para Lauren, que estacionava a picape, viu que o rosto dela parecia de granito. Descendo depressa, deu alguns passos na direção da filha, mas não a tocou.

- Está tudo bem? - perguntou. E embora estivesse de costas para Camila percebeu uma preocupação genuína na voz dela.

A garotinha assentiu.

- Sinto muito ter me atrasado.

- Tudo bem. Só pensei que tinha se esquecido.

Houve um longo momento de silêncio, mas quando Lauren falou, sua voz soou ainda mais grave.

- Jamais faria isso - afirmou, abaixando-se para pegar a mochila que estava no chão - venha - chamou - Há alguém que quero lhe apresentar.

A garota lançou um olhar apreensivo na direção da picape, o rostinho miúdo cheio de curiosidade.

- É ela? É essa a moça que vai ficar comigo? - perguntou, ansiosa.

Camila já ouvira o suficiente. Movida pelo instinto, desceu da picape e aproximou-se.

Ignorando Lauren, olhou para a garotinha que a observava. Sorrindo, esperou.

Houve um breve silêncio, e, então, num tom um tanto brusco, Lauren falou.

- Esta é minha filha, Lissy - ela tocou de leve o ombro da menina - Lissy, diga "olá" para a senhorita Cabello.

A garota fitou-a, muito seria.

- Olá.

- Estou muito contente por conhecê-la - disse Camila, num tom caloroso - e pode me chamar de Camz, está bem?

A garota assentiu, e Camila sentiu que relaxava. inclinando-se, afagou de leve o ombro da menina.

- Tenho certeza de que vamos ser amigas.

Por um momento a garotinha pareceu surpresa.

- Tem mesmo?

- Sim - assentiu Camila - e é muito bom, porque estou precisando de uma nova amiga.

- Oh - Lissy hesitou. Os grandes olhos verdes pareciam estudá-la, mas um sorriso tímido surgiu-lhe no rosto - eu também.

Naquele momento, Camila entregou-lhe o coração.

Continua...

Louco amor (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora