Capítulo 10

2.1K 207 12
                                    

- Camila? - Lissy apertava os lábios, concentrada, enquanto prendia a saia de tule vermelha á volta da cintura da Barbie.

- O que foi?

- Acha mesmo que Jenny gostou do presente?

Sentada no chão, na frente da menina, Camila apoiava as costas numa poltrona e tinha no colo um livro de receitas. Até ali, tudo correra bem, mas se tivesse que cozinhar cinco ou seis vezes por semana, seu limitado repertório de receitas acabaria.

- Querida, ela adorou. Eu mesma a ouvi dizendo isso a você, quando fui buscá-la. - E inclinando-se, falou num tom de confidência: - Acho até que foi o presente que ela gostou mais.

Lissy não parecia totalmente convencida.

- Acha mesmo?

- Tenho certeza. Ela ganhou uma porção de Barbies e bichinhos de pelúcia, mas só uma tiara com pedras.

Lissy pensou um pouco, depois suspirou, satisfeita.

- É mesmo. Todas as meninas queriam experimentar. E Jenny colocou-a na hora.

Camila sorriu e voltou a atenção para o livro de receitas. Na última semana, aprendera que Lissy era muito sensível e costumava se preocupar com frequência. Ainda assim, com um pouco de estímulo, o otimismos natural da crianças vinha à tona.

- Camz?

- O que foi?

- Tem certeza de que Jenny pode vir brincar amanhã?

- É claro que sim.

Lissy franziu a testa, penteando os cabelos da boneca com um minúsculo pente de plástico. Por fim, deu de ombros.

- Minha avó sempre dizia que crianças fazem muito barulho e são difíceis de suportar.

Camila sentiu uma onda de compaixão envolvê-la. A cada dia, entendia melhor como havia sido a vida de Lissy ao lado da avó. E como não devia ter sido fácil. Pelo jeito, a velha senhora achava que as crianças não deviam ser ouvidas, nem vistas. E ensinara a neta a se comportar desse modo.

De acordo com ela, meninas deviam brincar sozinhas, dentro do quarto. Não deviam usar jeans, nem falar alto, nem sujar-se. Usavam vestidos para ir á escola, não falavam se não fossem questionadas e jamais respondiam mal.

E, pelo jeito, amiguinhos para brincar também eram proibidos.

Até agora. E, como fazia todas as vezes que tinha oportunidade, Camila reforçou que as regras haviam mudado.

- Tenho certeza de que sua mãe não vai se importar.

- Mesmo se souber que Jenny vai ficar para jantar?

- Mesmo assim. Ela vai gostar. Você vai ver - disse, cruzando os dedos e desejando estar certa.

Lauren parecia mesmo gostar da filha. Havia algo na voz dela quando dizia o nome de Lissy, que fazia Camila perceber que tinha sentimentos profundos.

Ainda assim, não podia esquecer a decepção de Lissy ao voltarem das compras, na sexta-feira, e encontrarem apenas um bilhete de Lauren, avisando que decidira ir para Missoula um dia antes.

Tinha sido doloroso ver o desapontamento de Lissy, e Camila imaginava se Lauren tinha ideia de quanto significava para a filha.

Com a testa franzida, Lissy tentava colocar o sapato de salto alto no pé da boneca.

- Vai falar com ela sobre o cavalo, não é?

- Querida, eu já disse que vou.

- Mas promete não dizer que é para mim?

Louco amor (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora