Acabou, pensou Camila, enquanto colocava as últimas peças de roupa na mala aberta sobre a cama. E de nada adiantava saber que tudo estava empacotado, quando isso significava deixar as pessoas que mais amava. Fechando os olhos, imaginou, mais uma vez, se deveria ter dito tudo que pensava a Lauren, ou se fora longe demais. Talvez devesse ter sido mais diplomática e dito a ela que precisava de tempo para pensar na proposta. Lauren era orgulhosa, e Camila a colocara contra a parede. E agora imaginava se deveria ter fingindo concordar, deixando para conversar com ela mais tarde, quando estivessem calmas. Muito bem. Mas a que preço? Já esqueceu do que acontecia com o seu avô, quando concordava com tudo? Suspirando, admitiu quebfizera o que era certo. Não podia, nem queria mantir. Lauren passara trinta anos acreditando que estava certa. Nada do que ela dissesse, ou fizesse, poderia fazê-la mudar de ideia. E o melhor era aceitar a realidade e perceber que cada um podia continuar sua própria vida. Se ao menos não doesse tento... Um som baixo ecoou no corredor. O sexto sentido advertiu-a de que era Lauren, antes mesmo de erguer o olhar. Virando o rosto, imaginou o que ela queria, rezando para conseguir enfrentar o que fosse, com dignidade. Camila esperou que falasse alguma coisa, mas ela continuou em silêncio. Então fechou a mala, tentando parecer calma. - Pronto. Só faltam os desenhos de Lissy. Vou colocá-los num envelope, para não amassar. - Como Lauren permanecesse em silêncio, continuou. - Dinah vem me buscar. - E olhando o relógio, acrescentou: - Deve chegar em uma hora. Lissy já está na cama? - Sim - disse Lauren, afinal. - Eu a coloquei lá há alguns minutos. - Então vou até lá, dar um beijo nela. - Cruzando os braços, virou-se. Infelizmente, nada havia mudado nas últimas horas. Ela continuava tão atraente quanto antes. Camila compreendeu que a amava cada vez mais. - Gostaria que esperasse um minuto - disse Lauren, enterrando as mãos nos bolsos traseiros da calça jeans; parecendo insegura. O que era impossível, pensou Camila. Vira Lauren de muitas maneiras, mas jamais demonstrando insegurança ou falta de confiança. - Não acho que... - Camila, por favor. Apenas escute. Algo dentro dela protestou. Não queria ouvi-la dizer novamente que nunca a amaria. Por outro lado, ela não parecia ter a menor intenção de deixá-la passar, e não tinha escolha senão ouvi-la. - Está bem. - Quero uma segunda chance. O coração de Camila apertou-se. - Quer? - Sim. - Lauren pigarreou. - Estava certa sobre minha mãe. Guardei aquelas coisas para lembrar que ela me abandonou, e que não se pode confiar no amor. Acreditei nisso muito tempo, imaginando que via uma verdade que os outros não podiam enxergar. - Um toque de ironia encheu-lhe a voz. - Não pensei que estava apenas me protegendo. Pensei que era independente. Então, você apareceu. E por mais que lutasse, eu queria você. No início, fisicamente, apenas. Mas logo queria mais. Só não queria admitir que estava apaixonada, acreditando que, se negasse, estaria a salvo. - A sombra de um sorriso surgiu nos lábios bem-feitos. - Só que não funciona assim. Agora eu sei. Porque não importa o nome que eu queira dar, ficar sem você é abrir mão da melhor parte da minha vida. Camila piscou, tentando afastar as lágrimas. Queria interrompê-la, dizer que não precisava continuar, que era verdade quando dissera que nada faria com que deixasse de amá-la. Mas forçou-se a ficar em silêncio, sabendo, instintivamente, que ela precisava falar, por mais difícil que fosse. - Eu te amo, Camila. Acho que amei você desde a primeira vez que a vi, e quero passar o resto da vida com você. Não prometo que serei perfeita. Não sou uma mulher fácil de se viver, e estive sozinha por tanto tempo que não sei mais compartilhar meus pensamentos, ou sentimentos. Mas se ficar, e me der uma chance, prometo fazer o melhor possível. Diga que aceita casar comigo, querida. Por favor. - Sim, Lauren, sim! - Incapaz de esperar um só minuto, precisando tocá-la, deu um passo, mas ela foi mais rápida. Tomou-a nos braços, apertando-a contra o corpo. Por um momento ficaram imóveis, abraçando-se. Camila podia sentir o coração dela bater forte, e uma imensa ternura a invadiu. - Eu te amo - disse, feliz. Os braços dela a apertaram ainda com mais força. - Diga outra vez - pediu. - Eu te amo - Camila repetiu, sorrindo. - Graças a Deus. - Ela suspirou. - Eu também te amo. Mais uma vez, ficaram em silêncio, abraçadas. Por fim, Camila afastou o rosto do peito de Lauren, e murmurou. - Acho melhor telefonar para Dinah. - Boa ideia - disse ela, sem soltá-la. - E também deveríamos falar com Lissy. - É, devíamos - Lauren não se mexeu. - Mas primeiro vou beijar você. Mais de uma vez. Camila inclinou-se para trás, querendo ver o rosto dela. Os olhos verdes brilharam ao fitá-la, toda a emoção que escondera por muito tempo, finalmente revelada. - Parece uma boa ideia - sussurrou Camila, sorrindo. E era mesmo.Fim.
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Louco amor (Camren)
FanfictionLauren Jauregui sabia muito bem como cuidar de cavalos, mas de crianças não sabia nada. O que uma garota órfã podia saber sobre lar e filhos, especialmente uma menina frágil como Lissy? Ela precisava de ajuda. E a ajuda veio... da forma mais inesper...