Capítulo 12

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- Acho que nos saímos muito bem - disse Camila, enquanto deixava a cocheira com Lissy, dirigindo-se para casa.

- Acha mesmo? - A voz de Lissy expressava dúvida.

- Acho, sim. - A brisa balançava os cabelos de Camila, e ela sorriu, saboreando o ar fresco no rosto. Embora a tarde estivesse ensolarada, a neve cobria boa parte das montanhas, prenunciando a chegada do inverno.

- Mesmo quase caindo, toda vez que Clue começava a trotar?

  Clue era a égua que Jeb, o velho vaqueiro que cuidava dos cavalos, escolhera para a menina.

- Sim. - Camila inclinou-se, tocando carinhosamente o ombro de Lissy. - Você está aprendendo, querida. Só precisa relaxar, dar tempo ao tempo e deixar de ser tão exigente consigo mesma. Não se esqueça de que duas semanas atrás você tinha medo até de tocar no cavalo. Agora, depois de apenas algumas aulas, já consegue ficar na sela, segurar e conduzir as rédeas, fazendo o cavalo ir para onde você quer.

  Meio relutante, Lissy assentiu.

- É mesmo. - Mas apesar da resposta, parecia preocupada.

  Camila observou-a com expressão pensativa. Muita coisa tinha acontecido nos últimos dias, e ela imaginava se as mudanças não estariam sendo rápidas demais para Lissy. Além das aulas com Clue, Camila estava ajudando na escola, e também a nova amiga, Jenny, fora lá brincar duas vezes nos últimos dez dias.

- Camz?

- Sim?

- Acha que minha mãe está brava comigo?

  A pergunta pegou-a de surpresa, e admirou-se ao ver a preocupação nos olhos muito verdes da menina.

- É claro que não, meu bem. Por que pensou isso?

- Porque... - A menina olhou para o chão, recusando-se a fitá-la. - Ela nunca pediu para ver minhas roupas novas. E mesmo tendo dito que estava tudo bem, não apareceu para jantar quando Jenny estava aqui. Nem aparece para... - A voz de Lissy falhou. - Para me dizer boa noite.

  Por um momento, Camila não soube o que dizer. Então pegou a mão de Lissy e virou-a de frente, obrigando-a a fitá-la.

- Escute. Tenho certeza de que sua mãe não está brava com você.

- Tem mesmo?

- Sim.

- Você acha... - A menina engoliu em seco. - Acha que, talvez, ela não goste de mim?

  Camila não sabia se devia rir ou chorar.

- Não, minha querida. Sua mãe adora você.

  A garotinha ficou pensativa por alguns momentos.

- Então, por que nunca quer ficar comigo?

  Camila hesitou. Queria confortar a criança, mas, acima de tudo, sabia que precisava dizer a verdade, ou perderia a confiança de Lissy.

- Sei que parece ser assim - começou, devagar. - Mas lembre-se que ela precisa cuidar do rancho. Tenho certeza de que ela a ama. Foi por isso que me contratou. Assim posso lhe fazer companhia quando ela não estiver em casa.

- Então, por que, quando está em casa, mal fala comigo?

- Bem... Às vezes os adultos não sabem o que dizer para uma criança.

- Você sabe.

- É verdade. - Camila sorriu. - Eu devia ter dito que, às vezes, é difícil para os pais saber o que dizer para os filhos, principalmente quando se trata de alguém tão fechada quanto a sua mãe.

- Era difícil para o seu avô conversar com você?

  Mais uma vez, Camila hesitou.

- Bem, não exatamente - admitiu, realmente. - Já contara a Lissy que fora morar com o avô aos oito anos, depois de perder os pais num acidente de carro. - Mas meu avô era uma pessoa diferente da sua mãe.

  Lissy a observava com uma expressão interrogativa, enquanto decidia o melhor modo de explicar a personalidade vibrante, carinhosa e cheia de vida do avô, de um modo que a menina pudesse entender.

- O problema com meu avô não era fazê-lo falar, mas ouvir. Ele entrava na sala, me dava um abraço apertado começava a dizer o que havia planejado para mim.

- Parece muito bom.

- Sim. Mas meu avô era muito teimoso. Às vezes - mais do que gostaria de lembrar, pensou Camila - eu acaba fazendo o que ele queria e não o que eu gostaria - concluiu, com a testa franzida, ao reconhecer a verdade nas próprias palavras.

  Mas Lissy nem percebeu e suspirou.

- Como eu queria que minha mãe me abraçasse, às vezes! E também que falasse um pouquinho comigo.

  Havia tanta tristeza na voz da menina que Camila lembrou-se da noite de domingo, quando Lauren preferira os negócios a ela. E de repente percebeu que estava errada ao pensar que não devia interferir, conversando com Lauren.

  No dia do enterro do avô, prometera a si mesma que, se gostasse novamente de alguém, faria de tudo para compreender as necessidades da outra pessoa.

  E reconhecia que nos últimos anos tinha prestado atenção apenas em si mesma. Graças à herança que recebera dos pais, viajara o mundo todo, esquiando na Suíça, observando os gorilas ameaçados em Uganda, assistindo a desfiles de moda em Paris. Tinha feito tudo que queria, aproveitando cada minuto.

  Tudo parecia perfeito, até receber o telefonema, informando-a da morte de Max, vítima de um ataque cardíaco. Tinha voltado para casa, sufocada pela dor, e se vira diante de uma realidade surpreendente. Enquanto ela se divertia, o homem que sempre a amparara tinha perdido tudo que lutara setenta anos para conseguir. E ainda mais. Escondera dela a verdade, com certeza acreditando que Camila não poderia enfrentá-la.

  Camila ficara chocada, triste e com o coração partido. Ainda assim, enquanto as semanas passavam, e tivera que enfrentar todos os problemas financeiros, acabara por aceitar o inevitável.

  E reconhecera que, embora fizesse o que o avô queria, tinha vivido como se a vida não passasse de um eterno verão, feliz e ensolarado. E, de certo modo, o abandonara, já que não confiara nela num momento de dificuldade.

  Tudo isso a levara a rever seus valores, e sabia como agir.

  Gostava de Lissy. Muito. E se fosse honesta consigo mesma, admitiria que, nas últimas semanas, tinha sido egoísta ao pensar que era bom Lauren estar distante, pois não precisava lidar com o efeito devastador que provocava nela.

  Só que era a menina quem importava. E faria o que pudesse para ajudá-la.

- Não sei se algum dia sua mãe será do tipo que abraça muitas vezes. Mas o fim de semana está chegando, e tenho certeza de que poderá ficar mais tempo com você.

  O rostinho de Lissy refletia um misto de ceticismo e esperança.

- Tem mesmo?

- Tenho - respondeu Camila, com firmeza. Pois pretendia fazer de tudo para que fosse assim.

  Não importava o que tivesse de enfrentar.

Continua...

Louco amor (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora