Quando acordou, a sala estava às escuras, e Lauren sentada a seu lado, com as costas apoiadas no sofá. Ela vestira a calça e cobrira-a com um cobertor. Enternecida pelo gesto afetuoso, sem falar na linda imagem dela olhando para o fogo, deslizou a mão lentamente e tocou o tronco nu. - Oi. Lauren a olhou, e havia algo nos olhos verdes que jamais vira antes. - Quanto tempo dormi? - Cerca de uma hora. - O quê? - Apertando o cobertor contra os seios, sentou-se depressa. - O jantar deve ter virado cinzas. - Relaxe. Desliguei o forno. - Obrigada - agradeceu, sentando-se perto dela. Dando de ombros, Lauren observou uma acha que explodia na lareira, lançando faíscas. O silêncio continuou, até que ergueu a cabeça, fitando-a com uma expressão intensa. - Era verdade quando disse que me amava? - Sim - respondeu ela, como se já esperasse a pergunta. A tensão pareceu atenuar-se no rosto de Lauren. - Acho que devemos nos casar - disse, de repente. Camila estava tão surpresa que mal conseguia respirar. Não sabia o que esperava, mas por certo não era isso. - Acha? - Sim. Sei que não faz tanto tempo que estamos juntas. Mas, por mais que eu goste destes momentos roubados - Lauren fez um gesto apontando o saco de dormir e as roupas espalhadas -, não são suficientes. Quero que as pessoas saibam que é minha. Quero ter o direito de levá-la para minha cama todas as noites, e acordar a seu lado, todas as manhãs. O coração dela se apertou. Até aquele momento, não tinha ideia de quanto desejava ser esposa de Lauren. Mas queria muito. Queria passar o resto da vida ao lado dela, ter filhos, compartilhar sonhos e esperaças, decepções e triunfos. Interpretando mal o silêncio dela, Lauren continuou: - Pense, Camila. Terá uma boa casa. Uma filha que é louca por você. E nunca mais terá que se preocupar com dinheiro. Posso lhe dar tudo que Max dava, e ainda mais. Terá todo o luxo que tinha antes. Exceto pelas viagens, terá sua vida como antes. A cada palavra, a sensação reconfortante que Camila sentia ia desaparecendo. - É isso que acha que quero? - Acho que poderia usar palavras mais bonitas, mas no fundo, é isso mesmo. Você é uma linda mulher. Merece coisas bonitas. E por que alguém se casaria, se não houvesse vantagens? - Entendo. Então, no nosso caso, você ganha sexo, e eu, dinheiro. - A voz dela soava assustadoramente calma. O que era surpreendente, já que sentia o coração em pedaços. Subitamente gelada, procurou a calcinha, mas não encontrando-a, vestiu o jeans e o suéter diretamente em cima da pele. - Conheço um nome para isso, Lauren. E não é casamento. - Levantou-se e calçou os sapatos. Lauren também levantou-se, depressa. - Que droga, Camila! Não distorça minhas palavras. Não é que eu não tenha sentimentos por você. Claro que tenho! Mas se espera uma declaração romântica, é melhor aceitar que não vai acontecer. Procurando ignorar a dor que aquelas palavras lhe causavam, Camila ergueu o queixo, desafiando-a. - Por quê? - Porque não sou assim. Abri mão dessas bobagens quando era garota. Não há nada como crescer num orfanato para nos ensinar que essa baboseira de amor não passa de exagero. Pelo que pude ver, nunca dura. Nem vale a pena. Camila estudou o rosto de Lauren, que subitamente parecia ser esculpido em pedra, percebendo que ela falava a sério. Esfregando os braços, andou de um lado para o outro, até parar perto da mesa. - Como pode dizer isso? Veja o que aconteceu com você e Lissy! Sei que você a ama... - É diferente - interrompeu Lauren, aproximando-se. - Talvez. Mas não poderá saber se não permitir que aconteça. Então, por que concordou em colocá-la sempre em primeiro lugar? - O que acha? Ela é minha filha! Não poderia dar-lhe as costas, não depois de... - Lauren calou-se, a expressão familiar de distância de volta ao rosto. - Depois do quê? - insistiu Camila. - Não importa. Não acreditava nela. Sem pensar, completou a frase. - Depois do que sua mãe fez com você, não é? - disse, lentamente. - Não era o que ia dizer? - Já disse que não importa. - Acho que importa. E muito. - Camila pensou depressa, decidindo que valia a pena arriscar. - Lembra-se daquela manhã, quando teve de sair ás pressas, por causa do cavalo? - O que tem? - Quando levantei, estava muito frio, e decidi pegar uma de suas camisetas na cômoda. Não queria mexer nas suas coisas, mas encontrei o casaco e o bilhete da sua mãe. - Não tinha o direito de... Camila a ignorou, continuando a falar. - Pensei que guardasse aquilo porque era o único elo com sua mãe. Mas agora, imagino... - O quê? - A voz dela era gelada. - Imagino que tenha guardado para lembrar sempre que as pessoas que a amam não merecem confiança, que acabarão magoando você no final. - Não sabe do que está falando! - A raiva de Lauren era evidente, e virou-se para ir embora, quando bateu a perna na mesa, derrubando o envelope e espalhando os papéis de Morris Chapman no chão. Praguejando, recolheu-os, e de repente, viu o cheque. Pegando-o, olhou-o em silêncio, até que um véu escuro pareceu cobrir-lhe os olhos. Endireitando-se, atirou tudo sobre a mesa. - E ainda fala de amor - disse, num tom amargurado. - Não me admira que não queira se casar comigo. - O quê? - Pelo jeito recebeu um bom dinheiro. Pelo menos, podia ter me contado a verdade. E evitado toda esta farsa. - Se acredita nisso, não passa de uma tola - disse Camila, calmamente. - É mesmo? - Sim. Eu te amo, Lauren. E não importa o que diga, ou o que faça. Nada vai mudar o que sinto. - Ah, é verdade. - A boca sensual tinha uma expressão arrogante, irônica. Camila se virou e pegou as chaves do carro. - Vou buscar Lissy agora. Mas quando voltar... - Ela parou, vendo a expressão dura no rosto de Lauren e temendo que, não importava o que dissesse, ela não a escutasse. Ainda assim, precisava tentar, procurar fazê-la ver a verdade. - Quando voltar, vou arrumar minhas coisas e partir. Por um instante, quase sem respirar, esperou que ela reagisse. Mas Lauren não disse uma só palavra.Continua...
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Louco amor (Camren)
FanfictionLauren Jauregui sabia muito bem como cuidar de cavalos, mas de crianças não sabia nada. O que uma garota órfã podia saber sobre lar e filhos, especialmente uma menina frágil como Lissy? Ela precisava de ajuda. E a ajuda veio... da forma mais inesper...