Camila estava sentada junto ao balcão da cozinha, quando Lauren saiu do quarto, na sexta-feira de manhã.
Ao vê-la, Lauren diminuiu o passo, observando as costas esguias e os pés descalços apoiados no suporte do banco. Com os cabelos morenos brilhante e a pele queimada de sol, era uma beleza tipicamente latina e poderia ser modelo de uma propaganda de turismo, anunciando uma viagem a alguma praia exótica.
Não que ela se importasse. Enfiando a camisa dentro da calça jeans, disse para si mesma que a súbita tensão que a invadia não passava de contrariedade. Tendo crescido num orfanato, Lauren nunca tivera privacidade. E, quando saíra de lá, passava a valorizar os momentos de solidão, especialmente pela manhã, como um tesouro precioso.
Mas duvidava que Camila compreendesse. Do modo como fora criada, provavelmente imaginava que ela ficaria encantada ao vê-la. E não restava dúvida de que marcara sua presença, nos poucos dias em que estava ali. Havia sinas dela pela casa toda, desde das flores perfumadas, no centro da mesa de jantar, até os finos sapatos de couro italiano, ao das botas dela. E também havia no ar a suave fragrância do perfume que ela usava, que parecia impregnar cada ambiente.
Ainda assim, tinha que reconhecer que, até o momento pelo menos, Camila estava se saindo muito melhor do que Lauren imaginava. A casa estava limpa e arrumada, e o jantar nas últimas quatro noites fora delicioso. Mas o mais importante era que ela e Lissy pareciam estar se dando muito bem.
E isso era o principal.
Com passos firmes, Lauren aproximou-se da extremidade do balcão.
- Bom dia - Camila cumprimentou suavemente.
Com gestos deliberadamente lentos, Lauren serviu-se de uma xícara de café.
- O que está fazendo de pé, tão cedo? - perguntou.
- Sempre acordei cedo.
A opinião dela sobre isso ficou evidente, e, sem querer, Camila sorriu.
- Não combina com minha imagem, não é mesmo? - ela brincou - ou com o fato de que dormi até mais tarde nos últimos dias. Mas é verdade.
Lauren percebeu que ela tomara banho, pois os cabelos ainda estavam úmidos. Também podia sentir o perfume fresco e suave, como gotas de chuva na pele quente. Mas era a imagem dela, tranquila e sorridente, que mais a perturbava, como o primeiro dia de sol depois de um longo inverno.
- Além disso - declarou, subitamente seria - também queria falar com você.
Aquilo combinava mais com ela, pensou Lauren, inclinando-se sobre o balcão. Será que iria reclamar que o quarto não estava de acordo com seus padrões? Ou que não gostava de dividir o banheiro com uma garota de sete anos? Ou se queixar de que não estava acostumada a dirigir um jipe velho? Lauren largou a xícara sobre o balcão e cruzou os braços.
- Diga.
- Bem, para começar, pretendo ir até a cidade hoje. Achei melhor avisá-la, já que o jantar pode atrasar um pouco.
Ela já devia ter imaginado.
- O que foi, princesa? Já está aborrecida?
A mão de Camila parou no gesto de levar aos lábios a xícara de café. Por um instante, observou-a, séria, depois sacudiu a cabeça.
- Não - disse, tomando um golpe da bebida quente e colocando a xícara sobre o balcão - ao contrário. Eu me ofereci para trabalhar como voluntária, na classe de Lissy, e começo hoje.
A resposta era tão diferente da que Lauren esperava que ela levou algum tempo para se recompor.
- O quê?
- Vou trabalhar como voluntária...
Ela silenciou-a com um gesto.
- Eu quis dizer por quê?
- Por quê? - repetiu Camila, sem entender a pergunta.
- Por que você vai fazer isso?
- Não sei - Ela deu de ombros - talvez isso faça com que Lissy se senta especial. E quem sabe adquira mais auto-confiança.
- Muito bem... E o que mais?
- Como, o que mais?
- O que mais você queria me dizer?
- Acho que podíamos comprar um presente para Lissy dar à amiguinha, amanhã. E também pensei em fazer algumas compras. Lissy precisa de um vestido para ir á festa e de roupas para o dia-a-dia. Se você concordar, é claro.
Apesar do tom educado, não havia dúvida de que ela a desfiava. O queixo erguido e o brilho nos olhos castanhos eram um sinal claro disso. E embora a fitasse com firmeza, todo o corpo de Lauren pareceu reagir ao desafio. Á medida que os segundos passavam ela ficava mais e mais consciente do tom levemente corado no rosto de Camila e da veia que pulsava visivelmente no pescoço delicado.
Um calor intenso invadiu-lhe o corpo, e Lauren viu-se imaginando o que aconteceria se mergulhasse as mãos nos cabelos sedosos, a deitasse sobre o balcão e saboreasse a boca macia. Só de pensar nisso, sentiu seu membro pulsar contra o jeans apertado.
Um alarme soou em sua mente. Afinal, o que estava acontecendo?
Lauren sabia a resposta. Era ela... Camila. Havia algo naquela mulher que despertava todos os seus sentidos e a impelia a satisfazê-los, sem pensar nas consequências.
Só que não era tola o suficientemente para agir assim. Largando a xícara sobre o balcão, fitou-a diretamente.
- Compre o que Lis precisar. Assine a nota. Tenho crédito em todas as lojas da cidade. E não se preocupe com o jantar. - Ela tirou a carteira do boldo de trás, pegou duas notas de vinte dólares e entregou-as a Camila. - Já que estarão na cidade, podem comer por lá mesmo.
Camila olhou para o dinheiro e em seguida para ela, com a testa franzida.
- Obrigada. Lissy vai adorar a ideia.
- Não precisa agradecer, princesa. Só estou querendo um tempo para ficar sozinha.
Mais uma vez, os olhares se encontraram. E, embora ela tentasse negar, desejou novamente mergulhar as mãos nos cabelos sedosos e deslizá- las pela pele macia.
Desviando o olhar, pegou as chaves no balcão e saiu, pensando como seria bom passar o fim de semana em Missoula.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Louco amor (Camren)
Hayran KurguLauren Jauregui sabia muito bem como cuidar de cavalos, mas de crianças não sabia nada. O que uma garota órfã podia saber sobre lar e filhos, especialmente uma menina frágil como Lissy? Ela precisava de ajuda. E a ajuda veio... da forma mais inesper...