Capítulo 28

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- Mamãe? Lauren ergueu o olhar da tela do computador e viu Lissy parada na soleira da porta. Ela a ouvira chegar, junto com Camila, cerca de uma hora antes, mas não saíra do escritório. Tinha uma porção de assuntos para pôr em ordem e preferia deixar as coisas esfriarem. Afinal, de que adiantava discutir? Ela e Camila tinham dito tudo. E jamais exporia Lissy a uma discussão. Só que pela expressão da menina, podia ver que Camila não fora discreta. Com um misto de raiva e consternação, viu os olhos cheios de lágrimas e o lábio inferior tremendo. Apesar da estampa alegre do pijama cor-de-rosa e dos chinelos de coelhinho, parecia perdida, e muito infeliz. - O que foi, Lissy? Por um instante, a garota hesitou, mas logo correu pelo tapete felpudo, atirando-se nos braços dela. - Camz vai embora! - gritou, explodindo em lágrimas. Então ela ia mesmo fazer o que dissera. Um peso enorme pareceu oprimir o peito de Lauren. Teimosa, afastou o sentimento, dizendo a si mesma que apenas estava preocupada com Lissy. Abraçando-a, tentou confortá-la. - Eu sei. Mas não precisa se preocupar. Ficaremos bem sem ela, eu prometo. A menina ergueu o rosto coberto de lágrimas, encarando-a. - Mas eu não quero ficar sem Camz! - Ela lutava para conter os soluços, sem conseguir. - Ela disse que vai me ver na escola, e também que vai ver meu recital de balé. Mas não é a mesma coisa. - A vozinha tremeu. - Peça a ela para ficar, mamãe, por favor! A velha frustração e o sentimento de que nunca sabia o que dizer, ou fazer, voltou de repente. - Lissy... - Por favor, mamãe... - Agarrada a ela, fitou-a com os olhos verdes parecendo ainda maiores no rosto pequeno. Por um instante, Lauren desejou atender ao desejo da filha. Mas a imagem de Camila, deixando a sala, voltou-lhe á mente, e com ela toda a raiva e frustração. Afinal, o que ela tinha feito de tão grave, além de lhe oferecer um casamento vantajoso para ambas? E como Camila reagira? Deixando claro que a oferta não era suficientemente boa. O que provava tudo o que Lauren pensava. O amor não contava grande coisa. O rosto dela ficou mais sério. - Não posso, Lis. - Por quê? Vocês brigaram? Olhando o rostinho ansioso, imaginou que esse era um motivo que Lissy entenderia. Além disso, era verdade. - Sim, meu bem. Foi mais ou menos isso. - Oh! - Ela mordeu o lábio, olhando os chinelos, enquanto parecia analisar as palavras. Depois de alguns instantes, suspirou e perguntou num fio de voz. - Se brigamos, eu terei que ir embora? - Não, não! - Lauren a apertou mais forte. - Nada poderá me fazer mandar você embora - disse, com firmeza. - Você é minha filha, e vai ficar aqui sempre. Está bem? Ela ergueu o olhar, fitando-a num misto de alívio e preocupação. - Mas sei que Camz ama você. Ela me disse. Falou que eu e você somos tudo que ela mais ama no mundo. E você está fazendo ela ir embora. - Não estou. Ela escolheu assim. - Mas não vai nem tentar fazê-la ficar? - insistiu, com a lógica inquestionável dos sete anos. Tentando ser paciente, Lauren procurou as palavras certas. - Escute. Lembra-se que eu lhe contei que cresci num orfanato? - Lembro - confirmou a menina, séria. - Aprendi muitas coisas lá. Uma delas é que não se pode confiar no que as pessoas dizem. - Quer dizer que mentem? - pergunto, franzindo a testa. As coisas não pareciam estar saindo exatamente como ela esperava, pensou Lauren, sem saber como continuar. - Bem... sim. - Mas por que Camz faria isso? Olhando para os olhos da filha, de um tom verde exatamente igual ao dela, percebeu que não sabia a resposta. Dois dias antes, ou melhor, algumas horas antes, teria dito que Camila mentia, dizendo que a amava, apenas para ter a segurança material que ela podia dar. Mas a explicação perdia o sentido diante do cheque de sessenta e cinco mim dólares. Ainda assim, devia ter uma explicação, pensou consigo mesma. Só estava cansada daquele assunto. - Não sei - respondeu, brusca. - O que sei é o que aprendi quando tinha a sua idade. Não podemos contar com ninguém além de nós mesmos. A pequena testa de Lissy enrugou-se ainda mais. - Mas isso já faz tanto tempo, mamãe! - Lissy mordeu o lábio inferior. - Você é adulta. Eu sou criança. Lauren engoliu em seco, comovida. Contemplando o olhar preocupado da menina, viu todas as crenças que mantivera durante anos serem derrubadas. - É claro que sim. E pode contar comigo. Sempre. Relaxando, Lissy abraçou-a, apoiando o rosto contra o ombro. - Que bom. Lauren mal ouviu as palavras. Era mesmo uma adulta, pensou confusa. E de repente, percebeu que parecia ter esquecido disso, continuando a pensar como uma garotinha abandonada. Camila tinha razão. Ela guardara o casaco e o bilhete da mãe, como provas de que ela a abandonara. E como uma defesa contra o amor, convencendo-se de que não valia a pena. Como consequência, passara toda a vida adulta evitando envolver-se emocionalmente. Não porque não acreditasse no amor, admitiu para si mesma. Mas porque sabia como era poderoso, e como fazia sofrer, quando se o perdia. Para ser honesta, tinha medo de amar. E então Camila aparecera. E embora soubesse que era uma ameaça á sua indiferença, não tinha conseguido resistir. Embora tivesse tentado. De muitas maneiras. Agora, entretanto, podia vê-la claramente. E entre outras coisas, sabia que camila pouco se importava com dinheiro. Era ela quem tinha imaginado que lhe garantindo uma vida confortável estaria livre de sentimentos mais profundos. E durante todo o tempo, temera que, se ela não precisasse de suporte financeiro, acabaria por abandoná-la. E tudo o que conseguira fora mandá-la embora. - Mamãe? Você está bem? Está tão quieta... - Estou bem, querida - disse, pigarreando. - Só... quero que Camila fique. Mas acho que a magoei demais, e não sei se posso consertar as coisas. Lissy deu um tapinha no seu ombro, procurando confortá-la. - Está tudo bem, mamãe. Não importa o que tenha feito, sei que Camz vai perdoar você. Ela não tinha tanta certeza, mas enquanto a carregava para a cama, rezou para que estivesse certa.Continua...

Louco amor (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora