sunsets with you (Vol I - Vol II)

Cap. 03

Era uma noite fria, tudo ali parecia meio confuso e errado... as imagens distorcidas e desfocadas, o vento frio na sua nuca e as luzes brilhantes cegavam seus olhos cansados e lacrimejados. Dentro do clube a música era alta e a fumaça envolvia os corpos jovens e suados que dançavam com a batida incansável. Ele estava encostado na parede completamente confortável consigo mesmo e com o ambiente, o riso era alto e exagerado. Ele estava rodeado de pessoas igualmente alegres e várias garotas bonitas estavam em seu encalço. Parecia a cena de um filme, tudo fluía em sua volta, como se ele fosse o epicentro daquele universo, todos pareciam muito interessados em ouvi-lo, agradá-lo e chamar a sua tão preciosa atenção.

Tudo isso, ela notou em questão de segundos. Como ela tinha chegado ali? O que ela estava fazendo ali? Porque ela tinha a sensação de estar à procura de algo? Isso ela não sabia. E de novo, o vai e vem como num oceano revolto, da sensação de estar presa em um sonho. Como quando você cai no meio de um enredo vivo, que se desenrola e puxa você pra dentro dele, numa correnteza enérgica e forte. A sensação de confusão, ela se deu conta, a deixava numa letargia alucinógena. Ela se sentiu sozinha, ainda que não estivesse, se deu conta também que estava rodeada, assim como ele, de rostos conhecidos e sorridentes. Mesmo assim, ela se sentia sozinha e perdida.

Uma mão suada segurou a sua mão fria e ao se virar ela reconheceu o rosto minúsculo em forma de coração de sua amiga, Haru. Haru arrastou o seu corpo para o meio da pista de dança. O seu corpo, ela percebeu, parecia sem jeito e sem ritmo perto do de sua amiga que parecia ágil com movimentos ritmados e suaves.Não demorou para que os olhares dos garotos voltassem pras duas. Sua amiga se aproximou e ela notou o bafo adocicado do álcool. Talvez, percebeu, ela mesma devia ter bebido. Isso a fez sorrir de forma tão vertiginosa e leviana que ela sentiu todo o seu corpo se encher com a eletricidade da adrenalina. Como se estivesse fazendo algo errado. No meio do frenesi humano, ela sentiu uma mão em sua cintura enquanto seu sangue parecia gelar e o coração desacelerar. Uma voz suave e rouca falou baixo em seu ouvido:

- Algumas coisas são melhores se feitas a dois. Dançar é uma delas.

Ela girou a cabeça lentamente e enxergou aqueles olhos hipnotizantes no meio de uma confusão de cabelos muito pretos e bagunçados quase na altura do queixo. O sorriso e a atitude eram os mesmos, tranquilo, desafiador e extremamente confiante. Ele parecia envolto em uma névoa brilhante e ameaçadora. De alguma forma isso a incomodou e parte dela quis fugir. O piloto automático agiu e ela se afastou, dada à tensão da aproximação. Ela se voltou novamente para a amiga que parecia não notar o que acontecia ao seu redor. A mão dele não cessou seu aperto e a puxou de volta. Ela sentiu a eletricidade se irradiar pelo seu corpo e fazer formigar toda a sua pele.

- Dance comigo. – ele disse, como se ela não tivesse ouvido da primeira vez.

Ela notou um sinal bem no meio inferior dos seus lábios rosados. E se perguntou como seria se ela o beijasse bem ali, naquele sinal. As palavras dele pareciam manipular o seu corpo e direcioná-la ao encontro dele. E ela se deixou levar. A vertigem alucinógena era tamanha que ela sentiu que poderia desmaiar. Ele passou os braços em volta dela e pousou as mãos em seu quadril. Ela sentiu o corpo queimar.

- Você quer um beijo, Kin? - disse ele tão próximo do seu ouvido que todo o seu corpo arrepiou.

- Você gostaria disso, não gostaria? - falou ele.

As palavras pareciam líquidas. E os olhos deles pousaram nos olhos dela enquanto ele se aproximava lentamente, como um leão se aproximando de sua presa. A realidade suspensa fazia o tempo ficar lento como se tudo estivesse em slow motion.

- Quer um beijo meu? - ele sussurrou quase tocando os lábios dela.

E rápido como um suspiro, os corpos de ambos pareciam flutuar no local enquanto todo o resto derretia e se transformava em vultos disformes.A última coisa que ela viu foram aqueles olhos escuros e hipnotizantes... os olhos de Jeon.