Cap. 16

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-Não se preocupe, Jeon é muito passional. Por isso, ele acaba sendo tão impulsivo e intenso. - disse Aug sem jeito.

-O hyung (irmão mais velho) é um pouco ciumento mesmo, ele não fez por mal - falou Ye-jun preocupado.

-Preciso ir. - falei me levantando rapidamente. - Desculpe pela confusão e obrigada pelas palavras de conforto.

Sai apressadamente e resolvi dar uma volta na cidade em vez de voltar ao escritório. Precisava espairecer, respirar... eu sentia que estava sufocando naquele estúdio com o olhar de pena dos meninos sob mim. Isso era tão confuso. Qual era o problema de Jeon, afinal? Não é como se ele tivesse feito toda questão do mundo de me ver nos últimos dias. E como eu, sendo parte da empresa, poderia cobrar a ele qualquer coisa sabendo das suas obrigações e de sua agenda? Aliás, ele não fazia ideia do quanto eu estava trabalhando esses dias. Não bastasse a pressão toda que eu estava vivendo, ter que ver Ryu e aguentar uma explosão de Jeon no mesmo dia era como descer os nove círculos do inferno de Dante. Nesse momento eu deveria estar no limbo.

Eu parei e avistei a Namsan Tower. Ri comigo mesma, porque citei Dante, um dos autores favoritos dele, bem em frente à torre que eu e Ryu costumávamos ir quando mais jovens. A torre era como uma gigante de ferro e concreto no meio da cidade com seus 237 metros de altura. Milhares de pessoas subiam todos os dias para poder desfrutar da vista panorâmica de tirar o fôlego de Seul. Quando Ryu descobriu que eu tinha medo de altura me levou até a N Tower e me explicou que lá era um tipo de santuário romântico para os casais que desejavam declarar mutuamente seu amor eterno. Os portões da torre são lotados de cadeados de todas as cores e tamanhos, assinados com os nomes dos casais apaixonados e ele disse que assim que colocássemos nossos nomes em um dos cadeados um pedaço de mim estaria sempre perto do céu e, por isso, eu não sentiria mais medo de altura. Ele comprou um cadeado vermelho em formato de coração e escreveu "R+K" na frente, na parte de trás ele escreveu algo, mas nunca me disse o que era. Foi a única vez que eu subi na torre. Naquele dia, ele ficou o tempo todo de mãos dadas comigo, estava nevando e ele me deu saquinhos de esquentar as mãos. Quando chegamos no ponto mais alto da torre ele comprou chocolate quente e me abraçou por trás com força para que eu não tivesse medo de cair. É uma das lembranças mais felizes daquela época. Lembrar disso, me deu vontade de chorar.

Resolvi subir e revisitar aquele local. Era estranho pensar sobre Ryu, apesar de termos acabado de uma forma muito ruim, ele ainda parecia sempre saber o que se passava dentro de mim. Quando namorávamos ele nunca perguntava como estava, parecia sempre adivinhar. Nunca se esquecia de detalhes como músicas, livros, filmes e coisas que eu gostava de comer e beber. Ele sempre lembrava de tudo. Mesmo depois de todos esses anos ele parecia me conhecer como ninguém. Era difícil admitir, mas estar com ele ainda mexia comigo. Ele foi o meu primeiro amor. A primeira pessoa que eu me entreguei de corpo e alma. De certa forma, sempre teremos essa ligação.

Quando cheguei ao topo meu coração estava acelerado e eu estava suando frio. De repente, uma sensação de vertigem tomou conta de mim e por mais que eu tentasse não conseguia respirar. Fechei os olhos e tentei me acalmar. Fiz a volta e desci correndo como se estivesse fugindo de algo. Não era a mesma coisa estar ali sozinha. Uma sensação de vazio me preencheu. Era assim que eu me sentia, insegura, confusa e sozinha. Queria que Jeon pudesse me ler e me entender, queria que ele pegasse na minha mão e me fizesse sentir segura. Queria que ele demonstrasse que se importa sempre e não só quando estávamos sozinhos ou quando ele estava tendo um ataque de ciúmes em público. Queria que as coisas fossem fáceis e simples. Que nós pudéssemos simplesmente ficar no telhado da casa de verão do meu tio olhando o sol se pôr juntos. Sentia falta do calor dele e de como ele sempre sorria depois de me beijar como se estivesse com vergonha da própria felicidade, mas aqueles momentos fugazes não eram suficientes. Uma relação não se resume a alguns beijos quentes e declarações de amor em um rompante ou outro. Era preciso mais. Confiança, companheirismo, doação.

sunsets with you (Vol I - Vol II)Onde histórias criam vida. Descubra agora